terça-feira, outubro 27, 2015

Resumo do livro: A Bolsa Amarela



Resumo do livro: A Bolsa Amarela

  Raquel era uma menina. Uma menina que tudo fazia. Era considerada louca. Louca? Que nem os adultos, talvez não. Mas como criança... Ah! Aí é outra história!
  Raquel tinha três principais vontades:
1_ Ser menino. Toda vez que ela via algum garoto empinado pipa, lá desatava sua vontade de ser do sexo oposto.
2_ Ser gente grande. Apesar dos xingamentos de “louca”, Raquel sofria com isso. E, além disso, criança não podia fazer nada. Adulto pode. E, quando sua mãe, seu pai ou seus irmãos diziam isso a ela, lá desatava sua vontade a crescer.
3_Ser escritora, porque gostava muito de escrever.
  E, como gostava muito de “ser escritora”, escrevia cartas para seu amigo, André.
Sua primeira carta foi assim:

Ando querendo bater papo. Mas ninguém tá a fim. Eles dizem que não têm tempo. Mas ficam assistindo televisão. Queria te contar minha vida. Dá pé?
 Um abraço da Raquel.
Demorou um pouco, mas a resposta finalmente veio, meio em forma de telegrama, com duas palavras.

Dá. André.

  Mas Raquel não desistiu. Escreveu de novo.

Querido André
 Quando eu nasci minhas duas irmãs e meu irmão já tinham mais de dez anos. Fico achando que é por isso que ninguém aqui em casa tem paciência comigo: todo mundo já é grande há muito tempo, menos eu. Não sei quantas vezes eu ouvi minhas irmãs dizendo: "A Raquel nasceu quando a mamãe já não tinha mais condição de ter filho".
(…)
 Fiquei pensando: mas se ela não queria mais ter filho por que é que eu nasci? Pensei nisso demais, sabe? E acabei achando que a gente só devia nascer quando a mãe da gente quer ver a gente nascendo. Você não acha, não?
Raquel

Semanas depois, a resposta veio. Novamente, em forma de telegrama.
Acho. André.

Raquel, dessa vez, não ficou muito feliz em receber aquele telegrama, como se tivesse preguiça de escrever ou até como aquelas cartas em que você escreve bem curtinho, para não gastar muito dinheiro para enviar.

Oi, André!
 O pessoal aqui em casa até que se vira: meu pai e minha mãe trabalham, meu irmão tá tirando faculdade, minha irmã mais velha também trabalha, só vejo eles de noite. Mas minha irmã mais moça nem trabalha nem estuda, então toda hora a gente se esbarra uma na outra. Sabe o que ela diz? Que é ela que manda em mim, vê se pode.
(...)
(...)
Aí eu inventei que o Roberto (um grã-fino que ela quer namorar) tinha falado mal dela. "Sabe o que é que ele andou espalhando?" – eu falei – "que você é tão burra que chega a meter aflição." Levei uns cascudos que eu vou te contar.”
(…)
(…)
 Escuta aqui, André, você me faz um favor? Para com essa mania de telegrama e me diz o que é que eu faço pra não dar confusão. POR FAVOR, sim?
Raquel
Dessa vez, André respondeu como uma carta de verdade.
“Querida Raquel
Pra falar a verdade, eu preferia não me meter nessa história: uma vez fui desenrolar o problema de uma amiga minha e acabei me enrolando todo também. Mas você pediu POR FAVOR e fica uma coisa um bocado chata não atender um favor tão pedido numa letra tão grande. Então eu pensei bastante, e acabei achando que pra não dar mais confusão você tem que fazer o seguinte: daqui pra frente você só inventa inventado, tá compreendendo como é que é? Se você inventa uma história com gente que não existe, aposto que ninguém liga. Teu pessoal só fica chateado por que no meio da invenção você coloca o namorado da tua irmã [...]”

  E assim foi. Até que o irmão da Raquel descobriu as cartas, proibindo-a de mandar cartas para esse tal de “André”. Então Raquel inventou um nome de que gostava: Lorelai. E começou a escrever para ela. Os bilhetes chegaram tão longe que uma estava propondo para a outra de fugir com si. Só que... Chegou as “doações” de roupa da tia Brunilda. Brunilda era uma madame que, quando usava uma roupa, enjoava ou não gostava mais. E como a família de Raquel era pobre, as roupas eram dadas para eles. No dia era sempre um vuco-vuco. Todos se perguntando se a roupa que tinham pedido tinha vindo, se ficava com o short ou com a blusa... Era o ó do borogodó. E o pior: nunca sobrava nada para a pobre da Raquel. Tinha só uma bolsa; uma bolsa amarela. Uma bolsa amarela que ninguém queria. Sob seus olhos, era feia. E Raquel viu, naquele momento, que tinha chance de ficar com alguma coisa. Depois da muvuca ter esvaído-se, sua irmã olhou com nojo para a bolsa e disse:
_ Tó, Raquel. É para você.
  Raquel ficou saltitando de feliz. Abriu a bolsa e descobriu: ela tinha filhos! (Para Raquel, os bolsos dentro da bolsa eram filhos da bolsa). Tinha um bolso pequenino, outro estreito e comprido e outros. Dentro da bolsa, Raquel poderia guardar muitas e muitas coisas, inclusive suas cartas, nomes inventados, e suas vontades. Só que... Para guardar segredos na bolsa amarela, ela precisava de um fecho. E fecho é o que não tinha. Então, juntou um dinheirinho que tinha guardado e foi para um sapateiro. Ele a mostrou um monte de fechos, muito caros. Até que o sapateiro mostrou-lhe um zíper. Zíper bonito.
_Não te aconselho esse daí.
Disse o sapateiro, apontando para o zíper.
_Ele enguiça muito fácil.
“Então, ele é perfeito!”, pensou Raquel. E combinou com o zíper:
_Olha, zíper. Quando alguém tentar te abrir, você enguiça, rá?
O zíper rangiu. Era certo que queria alguma coisa em troca.
_Olha, se você enguiçar na hora certa, prometo te encerar todo dia.
Dessa vez, o zíper concordou, e o mesmo foi instalado na bolsa.
  A vontade de ser escritora pesou dentro da bolsa. E foi assim que Raquel escreveu seu primeiro romancinho. Escreveu sobre um galo chamado Rei, que desde pequeno fora criado para ser galo tomador de conta de galinha. Só que ele não aguentava: para ciscar, chocar e comer, as galinhas pediam para Rei se elas podiam mesmo fazer tal coisa. Ele dizia que sim, que elas podiam fazer o que elas queriam. E as galinhas, bravas com ele, iam contar para os donos, que prendiam Rei numa “cadeia”. E lá ele ficava. Quando saí, Rei resolve fugir. E ele fica o romance inteiro decidindo se vai ou não fugir. E guarda seu primeiro romance na bolsa amarela, já suas vontades haviam emagrecido. Seu irmão, porém, descobriu. O romance, coitado! Raquel ficou tão brava com suas invenções inventadas sendo debochadas, que rasgou o romance do Rei inteirinho!
  Dias depois, Raquel, enquanto dormia, nota um remelexo em sua bolsa. “Que diabos essa bolsa tem?”, pensou. Abriu a bolsa com todo cuidado e viu lá dentro um galo. Um galo com toca de bandido. Depois, quando o galo cria confiança em Raquel, é que mostra o rosto. Um belo rosto, como do Rei. E era mesmo! O Rei tinha mesmo fugido! E estava morrendo de medo que as galinhas o encontrassem. E pediu para a Raquel se ele podia ficar na bolsa amarela, afinal ali era protegido, seguro, quentinho, e as galinhas não tinham a menor chance de encontrá-lo. E Raquel deixou.
_Raquel, você muda meu nome?
_Por quê?
_Porque, como eu não sou galo tomador de conta de galinha, não tem motivo para meu nome ser Rei.
  E Rei sorteou um nome para si mesmo do bolso em que Raquel guardava os nomes.
_Tá decidido! Vai ser Afonso.
_Você não tem cara de Afonso.
_Tenho cara do que eu quiser ter cara. Então, tenho sim cara de Afonso.
  No dia seguinte, enquanto voltava da escola com Afonso, Raquel ouviu um PLOFT! Afonso foi correndo ver o que era. Era uma guarda-chuva. Com a história encravada. Encravada porque ela podia passar de grande para pequena e de pequena para grande. Quando travou, sua história parou  também. Era uma guarda-chuva bonitinha, que tinha mania de paraquedas. E Afonso pediu para Raquel guardá-la. E assim fez. Guardou a guarda-chuva no bolso comprido e estreito.
  Até que Afonso topou com um primo seu: Terrível, o galo de briga. Diziam que ele tinha o pensamento costurado. Tal e qual! Em vez de cumprimentar seu primo, Terrível apenas falou:
­_Vamos lutar?
  O pobre do Afonso recuou, confuso.
_Lutar pra que?
_Porque eu tenho que ganhar de todo mundo.
_Então, finge que a gente já lutou e que você já ganhou. Quantas lutas você já lutou?
_500.
_E ganhou quantas?
_499. Perdi pro Crista de Ferro. E amanhã terá a revanche. Amanhã de noitinha.
_Ele vai matar o Terrível!
  Disse Afonso para Raquel.
_Não podemos deixar que ele lute.
  Então, Afonso resolveu puxá-lo para a bolsa amarela.
_ Terrível! Tem alguém aqui te desafiando para uma luta!
  Terrível partiu para a luta. E foi tragado pela bolsa amarela. Sem nenhum desafiante. Nenhuma briga.
  Quando Raquel acordou, recebeu a notícia de que visitariam a tia Brunilda. Lá, suas vontades desataram a crescer. Seu primo brincando: vontade de ser menino. Sua irmã escrevendo: vontade de ser escritora. Dos maiores se servirem primeiro: vontade de ser gente grande. E o pior: estava com a bolsa amarela! Todos tentando abri-la, e esmagando todos os galos e a guarda-chuva que lá tinha. Ainda bem que um alfinete de prender fralda de bebê que Raquel guardava no bolso bebê espetou suas vontades. Todas elas murcharam como balão.
  Terrível fugiu. Fugiu para a luta. O zíper não havia aguentado. Terrível, provavelmente estava morto. Foram ver na praia em que ele tinha lutado, e na rinha tinha sobrado apenas o círculo, o sangue e penas. Penas de Terrível. Voltaram tristes para casa. E Raquel fez seu segundo romance. Resumindo, ele falava sobre um carretel de linha forte que fora ocupada para costurar o pensamento de Terrível. E ele só pensava em lutar. Até que, na luta com o Crista de Ferro, a linha se forçou e arrebentou, e o Terrível foi jogado no mar, onde foi pescado por um pescador e Terrível passou a ser seu animal de estimação.
  Afonso teve uma ideia. Ia mudar o mundo.
  Mas... Será que é o mundo que precisa ser mudado? Será que, se nós nos alterássemos, não seria  um mundo melhor? Hehehehe. Até parece que é o ser humano que tem o pensamento costurado...

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