sábado, abril 23, 2016

I Pedaços de minha vida: uma amizade marcante

 I Pedaços de minha vida: uma amizade marcante

Acordei de manhã cedo, pronta para viajar. Meus olhos pesavam, mas a tristeza era a mais pesada. Deixaria não só a casa de minha avó, como deixaria meu melhor amigo canídeo. Chutão, cachorro de meio metro de puro músculo, não era tão bravo quanto aparentava. Na última semana, eu havia descoberto que ele poderia ser uma bola de pelo musculoso e educado, se fosse ensinado.
_Dá a pata, Chutão!
E por incrível que pareça, ele obedecia, buscando sua recompensa: pão ou bolacha, dependendo do que eu conseguia furtar da despensa antiga de minha avó. Apesar das recomendações de perigo, ele se tornou meu melhor amigo. Estava muito triste por ter de deixa-lo, deixar o meu companheiro.
Hora da despedida. Pedi uns minutos para despedir-me (do cachorro, obviamente). Abracei-o, e ele ficou um pouco empolgado demais. Mordeu-me, arrancando pedaço de minha bochecha, mãos e peito. Saí correndo daquele abraço de urso, outros cachorros correndo atrás de mim. Meu escandaloso avô atirou-se no calçamento e ninguém sabia quem socorrer: eu ou meu avô.
Depois de passar por meses de recuperação, ainda carrego junto de mim uma marca de mordida deixada pelo cão, na bochecha. Isso é o que eu chamo de “amizade marcante”...