sábado, dezembro 30, 2017

Resumo do teatro “Isto não é uma fábula”

O teatro, realizado ao lado da igrejinha da UFSC, retrata uma história de escravidão e liberdade ocorrida na Grécia Antiga. Esopo, conhecido por escrever fábulas (como, por exemplo, A Raposa e as Uvas, o Leão e o Rato, entre outras), torna-se escravo de Xantós (um porco capitalista) e, durante a peça inteira, batalha pela sua liberdade.
Nesse meio tempo, a esposa de Xantós, Cleia, apaixona-se por Esopo, e decide que, sob qualquer circunstância, ficará ao lado do amado. Já Melita, sua escrava, lhe revela o amor que sente por Xantós. As duas se combinam: assim que Cleia conseguir a liberdade de Esopo, fugirá com ele e deixará Melita livre para viver com Xantós. Porém, Xantós não se dispõe a libertar o escravo, com medo de ficar “mal falado”, de perder a esposa e consequentemente seu tão amado (mais amado ainda que a mulher) dinheiro.
 Esopo é liberto, por pressão de Cleia, mas recapturado e acusado de roubar uma taça de ouro no templo de Apolo; se disser que é escravo, Xantós lhe aplica alguma punição leve, porém escapa da morte. Caso contrário, deve morrer. Esopo escolhe ser livre! Livre, mas não escravo novamente. Morrerá como um homem livre. Cleia, que não suporta ver o amor de sua vida morrer, joga-se do penhasco junto com Esopo, e ambos morrem livres. A mulher, livre do traste com o qual casou; Esopo, livre do sentimento de pertence ao traste que o tomou como escravo.

Gostei deste teatro, enfatizando a liberdade! Liberdade de gostar disto ou daquilo, liberdade de acreditar nesse ou naquele, liberdade de não pertencer a alguém. Afinal, quantos já morreram pela sua liberdade? “Uma fábula não é uma história, é uma verdade. E a verdade é o único motivo de vivermos ou morrermos”. A verdade é que somos livres! E lutamos, vivemos ou morremos por ela.

sexta-feira, junho 16, 2017

Cronos X Kairós/Aíron

Como o mundo está ficando mais Cronos e cada vez menos Kairós

Olá, querido leitor! Já teve o (des) prazer de usar relógio? Pois é... Nosso texto de hoje é sobre isso: não o relógio em si, mas o que ele significa (pelo menos para mim). Começarei a explicar o título, onde aparecem duas figuras da mitologia: Cronos e Kairós. Cronos é um titã, tanto da agricultura quanto do tempo. É dele que vem a palavra “cronômetro”, e você já deve ter adivinhado de que tipo de tempo ele é: o tempo cronometrado, do relógio. Kairós é o momento certo, o segundo eterno, o tempo despreocupado. Cá para nós, sou bem desligada (sou muito Kairós), e isso foi motivo o suficiente para meus pais comprarem um relógio para mim.
Tudo começou na reunião de pais. O 7º ano (problemático) gerava tantas intrigas que uma reunião geral foi convocada (alunos, pais e professores juntos para fazer as máscaras caírem), e convocação não é igual a convite, que você aceita se quiser. Tivemos que ir, pegamos um congestionamento gigantesco do Centro até o Campeche (onde estudo) e, quando chegamos, a reunião já tinha começado. Não rolou o “fuzilamento”, como havíamos brincado em casa (eu estava muito tensa!). Houve críticas, opiniões e claro, algumas máscaras que tombaram, revelando á todos o rosto que a ocupava. Quando meus pais foram conversar com alguns professores, não houve nenhuma crítica ou colocação negativa quanto á minha pessoa, apenas uma coisinha foi destacada pelo Ricardo, professor de matemática.
O que ele destacou foi que eu ia ao banheiro depois que a sineta, indicando o fim do recreio, tocava. Meus pais quiseram resolver o problema, e pediram o porquê desse atraso. Falei que eu não sabia quando bateria o sinal, e que me divertia no recreio para ir ao banheiro depois. Perguntaram a mim se um relógio resolveria meu problema. Eu falei que sim, sempre quis ter um relógio (achava bonitinho) e achei que me ajudaria (e ajudou), mas em outro sentido.
Fomos ao mercado público, procuramos em tudo quanto é canto e finalmente achamos um: azulzinho, à prova d’água e que brilha no escuro. Compramos, e meus pais se arrependeram. O motivo? Enquanto vínhamos para casa, eu ia contando em voz alta os segundos que iam passando...
Enfim, depois da compra do relógio, nunca mais me atrasei. Para nada. Não digo que deixei de ser desligada, mas agora vejo muito mais meu relógio no punho que minhas leituras. O que é ruim. E percebi que estava muito mais atenta ao horário que ás minhas atividades, passando de Kairós para Cronos... Notei que com o mundo é a mesma coisa! Todos estão muito cronológicos. Exemplos? As fábricas com suas sinetas. Todos nessa correria do dia-a-dia. Até a escola, que deveria ser um tempo de ócio, de pensar, como a própria origem da palavra (escolé, do Grego, significa tempo de ócio, tempo do pensamento), é um lugar dominado até as veias pelo Cronos. Ora, achas que não? O horário para entrar na escola (levamos anotação se não chegamos no horário que é imposto a nós), o (s) horário (s) da troca de professor (es), a hora do recreio, a hora de sair do colégio, o tempo das aulas, TUDO é cronometrado, TUDO é previsto, TUDO é Cronos.  E o Kairós, coitado, esquecido nessa sociedade de hoje... Inclusive, esse também é o motivo para as poucas/nulas publicações do bloguinho nas últimas semanas. Tenho tido MUITO a fazer, e estou muito Cronos, muito ligada. Espero ter afastado as teias de aranhas que estavam crescendo na página do meu blog...
São raros os momentos kairológicos que temos. Já tive alguns: surfar (é, afinal, possível saber que horas são dentro da água e pensar outra coisa sem receber uma forte onda na cabeça?), brincar (havia dias que, no meu antigo condomínio, eu começava a brincar com a turma de manhã, almoçava, voltava para brincar e voltava para casa toda suja a altas horas da noite, sem nem saber se o tempo tinha ou não passado) e ficar olhando o mar, só naquele vai e vem. Até as comidas kairológicas são melhores que as cronológicas! Mamãe experimentou fazer um pão kairológico (deixando-o crescer até quando ele enjoar, não o mandando-o crescer até um determinado momento). Deu certo. O pão ficou bem mais gostoso.
E quer saber? Ficamos falando de revolução contra o sistema, contra o governo porco que está no comando, revolução isso e aquilo... Mas a verdadeira revolução mesmo será da nossa relação com o tempo, que está às avessas. Vez por outra, pergunto ao meu pai se ele quer sair, jogar bola. Ele diz “não, não tenho tempo e tenho mais o que fazer”. Jogar bola, sair, divertir-se SERIA um momento Kairós, não? Mas o maldito Cronos está tão infiltrado na vida das pessoas que as mesmas são incapazes de desvencilhar-se dele. Acabam pensando num futuro, que “amanhã será melhor”, mas... E esse amanhã que não chega nunca? Preparamos tudo para o futuro, pensamos no depois, e acabamos não vivendo o agora.
É nesse “agora” que entra Aíon, a intensidade do momento humano. O presente. No fim, vivemos e vivemos pensando num futuro, na esperança de que ele seja melhor que hoje. Até que chega um dia que a morte bate na porta e no momento você pensa “poxa vida (ou morte), acho que não vou poder fazer aquela viagem para Tallugar, deveria ter feito antes, aproveitado mais a vida... E é agora que me despeço dela, mas que coisa injusta!”. Acabamos aproveitando menos nosso Aíon, o momento presente. Oras, nunca aproveitamos totalmente um único momento que dura um segundo... E por isso que a revolução precisa ser no tempo. Aproveitarmos mais. Sem aquela pontinha do relógio nos cutucando incansavelmente a todo o momento, só para vermos que estamos atrasados para aquela reunião, para ir á escola ou sei lá o quê.

Aproveite mais o momento. Enquanto lê esse texto, NÃO olhe que horas são. Porque, se nunca tivesse um momento Kairós/Aíon, quero que tenhas agora, curtindo e refletindo, apagando o Cronos. Seria bom se tudo fosse assim... Leve... Momentâneo... Porque, no fim, o que faz a vida valer a pena são esses momentos, como, espero, seja o que estejas vivendo agora. Nesse momento. Aíon. 

sábado, maio 27, 2017

Um pouco do nordeste...

Hoje em forma de verso
Uma coisa vou te contar
Culturalmente é tão diverso
A história desse lugar

Vou falar de que lugar?
Sul, norte, centro-oeste?
Certamente te afeiçoarás
Com a simpatia do nordeste!

É comida, é muita festa!
Cultura de todos os lados
O que essa gente manifesta
E por ela são honrados

Tem reisado, tem cordel
Queijo, mungunzá
Respeito e sou fiel
À Junina, belo arraiá!

E também nossa conversa
É pra divulgar informação
Sobre a origem da Junina
A festa de São João!

Onde tem muita comida
Danças e amizades
Encontro de muitas vidas
Pra trocar curiosidades

De onde tu viestes?
Da terra consagrada
O solo do nordeste?
A terra do Gonzaga?

O lugar dos artesãos
Dos cordéis e do jeitinho
De falar com o coração
De demonstrar o seu carinho

Finalizando nossa prosa
E deixando tu pensar
Sobre essa gente valorosa
E a cultura fervorosa
Que arde nesse lugar


domingo, abril 30, 2017

Manifesto em Fpolis

Manifesto em Florianópolis


Primeiramente, FORA TEMER. Anteontem era dia de paralisação no Brasil, o #BrasilEmGreve. Segundo algumas fontes, foi a maior paralisação que aconteceu no Brasil em 30 anos, e eu tive o prazer de participar dela da capital de SC. Quer saber como foi? Acompanhe-me...
Anteontem amanheceu frio, mas nosso espírito no turno da tarde estava pra lá de quente. Sempre que vamos nos exercitar é um calorão... Alongamo-nos e partimos para uma caminhada que acabaria numa árvore muito boa de subir. Voltamos para casa, e o assunto da greve já estava em nossas línguas e mentes, já que tínhamos lido em muitos lugares como no http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br/. Minha mãe, sedenta por uma boa “treta”, já estava com o pé que é um leque para participar do movimento. Pudera, com tantas injustiças que correm soltas nesse país, não tem como ficar satisfeito e quietinho no seu canto... A não ser que a pessoa seja conformista, aí eu entendo. Mas mamãe não era a única que queria participar, pois foi apoiada por papai e por mim. Só que eu não achei que estivéssemos mesmo falando a sério, já que os últimos movimentos dessa natureza aqui na capital foram violentamente reprimidos pela polícia militar e tínhamos algum receio de que isso novamente viesse a ocorrer...
Mas estávamos. Assim que voltamos do exercício e ouvimos aqueles gritos (como se um batalhão estivesse gritando em uníssono) mamãe pirou e disse que queria ir. Papai pensou, pensou e decidiu que realmente valia a pena irmos a algo que realmente representasse nosso modo de pensar. Arrumamo-nos às pressas e corremos para o protesto, que passava fazendo estardalhaço pela Beira-Mar. Chegando, tratamos de entrar na pista em que os protestantes caminhavam. Uma mulher, de um apartamento desses caros, jogou a bandeira do Brasil pra fora da janela, provavelmente querendo “ordem e progresso”. A coitada foi tão vaiada que, acho, jamais terá coragem de dizer a palavra “bandeira” na vida.

No início do protesto eu estava um pouco tímida. Não entendia patavinas do que eles cantavam e clamavam com tanto prazer. Fiquei muito desconfortável. Mamãe, louca por revoluções, já cantava junto e levantava a mão sempre que berravam “Fora Temer”. Papai, um pouco desajeitado (assim como eu), berrava junto e apoiava mamãe. Eu não gostei muito no início... Sabia as causas do protesto, de tanta sede de revolução, mas não estava me sentindo à vontade no meio de uma multidão de gente que eu não conhecia. Mas os apoiava, então não poderiam ser tããão desconhecidos assim. Mas isso foi só no fim, pois logo encontramos meu professor de Ciências que nos cumprimentou e disse-nos para prestarmos atenção nas camisas verdes (cor do uniforme da escola). Foi muito bacana tê-lo visto, pois vi que essa luta é de todos e que eu fazia parte dela também, então qual era o sentido de eu não estar gostando? Nenhum! A partir daí, tive uma voz mais ativa, menos tímida, e acho que é essa atitude que devemos ter perante a um governo ilegítimo e injusto como esse que temos hoje. Termos consciência de que seremos afetados, de que a única solução é a revolução, é não aceitarmos.
Seguimos na marcha, gritando para os que estavam parados, apenas olhando como se nos dissessem “vocês estão bem”, “VOCÊS AÍ PARADOS, TAMBÉM SÃO EXPLORADOS”. O mais legal dessa parte é que a caminhada estava crescendo. Cada vez mais. Meu ódio por tudo o que estava acontecendo também. Saber que não me aposentaria. Que, quando eu estivesse no Ensino Médio, seria ensinada a obedecer e não a pensar. Que praticamente estão queimando os direitos dos cidadãos, e colocando cada vez mais empecilhos para conseguirmos uma vida mais justa. Vimos muitos policiais, prontos para brigarem. Não gosto de policiais. Pareciam querer bater em alguém, talvez naqueles que usavam capuz preto, impedindo que sua cara seja vista (duvido que fosse para esconder a feiura), podia ser aquelas tiazinhas que queriam zoeira, poderia ser eu e meus pais. Achamos os camisas-verdes: meus professores! Português, Geografia, Artes. Sinceramente, um protesto contra tudo seria uma ótima aula interdisciplinar...
Já era tarde quando decidimos ir embora. O carro que comandava o protesto decidira seguir pela Mauro Ramos, e papai supôs que era melhor voltarmos embora, tanto pelos pés que doíam quanto pela fome que batia, afora que supusemos que daria muita treta fora da Beira-Mar (afinal, tanto os manifestantes quanto os policias não iriam querer fazer feio na Beira-Mar, na frente dos riquinhos, não é? Muito preferível agredir as pessoas quando não é numa rua movimentada e/ou chique). Fomos voltando e conversando. Quanto mais me distanciava da manifestação, mais minha adrenalina e vontade de voltar subiam. Oras, eu também queria brigar por uma certeza minha, algo que eu acreditava estar certo. Deve ser normal alguém querer defender o que acredita, os próprios direitos (um a um eliminados, facilitando a vida dos que a levam pisando em cima da vida dos outros).
Chegamos em casa e minha vontade de socar algo estava forte. Mas não quebrei nada não, pelo contrário, pensei mais em escrever algo. O papel aceita tudo, e escrever me acalma. Ajudei no que pude nas tarefas domésticas e comecei um tipo de “diário de protesto”, relatando o que havia acontecido e minha indignação com esse governo porco que comanda o Brasil hoje.
Pode ser esquisito para você, leitor (a), me ouvir falando/escrevendo sobre isso. A maior parte das pessoas pensa que política é coisa de adulto, e espero que você não seja uma delas. Política e direitos é coisa de todo mundo, que todos devem conhecer. Afinal, tudo o que dizemos é política. Estamos dominados por ela. Temos que ter consciência dos nossos direitos (hoje, riscados pouco a pouco), do nosso governo, do quão injusto (e machista) ele é. As mulheres não ficam de fora do seu governo, Temer? O importante é termos um ministério de beleza, recato e lar para elas, né? Acha que todo mundo vai aceitar isso? Uma parte pode aceitar, mas a outra vai lhe dar muita dor de cabeça. Assim como um dos gritos de guerra dos protestantes: “NÃO TEM ARREGO! TU TIRAS MEUS DIREITOS, EU TIRO TEU SOSSEGO”. Não será diferente. Como uma das afetadas, posso prometer que vou incomodar muito, por tudo isso que está sendo tirado de nós: voz, direito, aposentadoria. Eu não vou trabalhar como louca para me aposentar aos 70 e poucos anos, não.
 Sei que já não chego mais lá, e não vou perder meu tempo com isso. Vou fazer o que fiz nesse dia. Vou incomodar, e farei minha voz chegar ao Distrito Federal nem que seja a última coisa que eu faça.
E você? Sabe de tantas injustiças também? Não concorda? Está calado? Com medo? Hora de ter voz. Liberte-a e grite. Junte-se ao Brasil em Greve, aumente o manifesto. Ajude a voz a chegar nos ouvidos de quem não está nem aí para isso, os responsáveis por tanta perda. Ajude a refrear essa incrível injustiça. Ajude a resgatar os nossos, o SEU direito.


terça-feira, abril 18, 2017

Mais um Titanic pra coleção...

Titanic II

Tudo começou com as tradicionais gincanas que tenho todo ano, em cada colégio que frequento. Ano passado, no Geração, tive o JIG. Esse ano, na EFAZ, as olimpíadas (muito menos competitivas do que as do Geração, porém, menos movimentadas).  Sinceramente, se tivesse que escolher entre uma ou outra, ficaria na dúvida para sempre. O JIG do ano passado foi muito legal, me movi bastante e acho que consegui progredir em alguns esportes (handball é um). Nas olimpíadas, é menos competitivo, melhor administrado e mais justo, a meu ver.
Enfim, hoje foi o último dia (ao total, houve dois dias de competição) que disputamos a final.  Tudo começou antes, muito antes... Quando nos foi explicado como seria, que teríamos que construir uma embarcação, que a testaríamos na Lagoa do Peri e que competiríamos (dã). Separadas as equipes, começamos a discutir qual seria o projeto da embarcação, e mais tarde decidimos que o nome da mesma seria Titanic. Ora, já tínhamos certeza de que naufragaríamos...
Foi mais ou menos uma hora construindo a prancha. Dois pedaços de madeirite como dois pães de um sanduíche, duas câmaras de pneu como os tomates do sanduba, unidos com cordas, como o queijo dando ligamento do tomate ao pão. E, preenchendo ainda mais o interior desse sanduba maluco, isopor. Nem preciso dizer, preciso? O Titanic aparentemente ia fazer honra ao nome que recebera...
Jogos jogados, prancha pronta... Hoje era o dia que eu mais estava esperando. O dia em que a testaríamos! Poderíamos ter perdido nos jogos, mas se a prancha funcionasse e o Titanic não quisesse seguir o original... Daria certo. Ansiosa, acordei mais cedo que o normal. Fui para a escola de motoca, pensativa. Daria ou não certo? Ganharíamos (improvável)? Foram essas dúvidas que me acompanharam até o colégio, e do colégio até a Lagoa.
As 07h30min, na escola, não havia transporte porcaria nenhuma para nos levar até a Lagoa. Bem pelo contrário: a entrada da escola estava mais vazia que minha mochila, e cheia estava minha cabeça de pensamentos. Encontrei com minha amiga e conversamos um pouco, subimos em árvores, catamos pimenta rosa nas aroeiras e caminhamos pra lá e pra cá, a espera do ônibus. E tivemos que fazer muito essas atividades, porque o busão demorou pacas pra chegar...
Imagine o atraso do ônibus: das 07h30min até as 9 e pouco tivemos que esperar. Até que (aleluia) chegou, porém, não embarquei nesse por conta de umas garotas que passaram na minha frente. Mais espera, então (finalmente) chega outro, onde subiu o povo que tinha ficado (inclusive eu). Sentei com minha amiga, e fomos praticamente em silêncio até o Parque Municipal da Lagoa do Peri, só apreciando a paisagem.  Estou acostumada com o lugar, porque vou frequentemente lá, mas vamos combinar? O mar sempre é diferente. Hoje ele estava maravilhoso, ondas contínuas e aparentemente fortes. Ai, que saudades da minha prancha!
Chegando lá, minha primeira sensação foi aquela quando alguém arruma nosso quarto. A de “estou perdido e não conheço nada aqui”. Mas, depois de terem me apontado o caminho, andei e enxerguei o lugar onde eu mais queria estar. Céus, a lagoa era lindíssima! Tirei minhas roupas e tênis, ficando só de maiô. Experimentei a temperatura da água e quase desisti, mas após uma batalha interna no qual “entre-na-água-agora” persistiu a minha vontade “enrole-se-num-cobertor-e-durma-o-resto-do-dia”, entrei e me diverti muito.
Nadei, mergulhei, plantei bananeira, joguei vôlei, conversei á toa... Nem vi o tempo passar! E já era hora de testar o Titanic... Olha, não foi um desastre. Foi um desastre total... Flutuar flutuou. Agora, não suportou um pesinho extra em cima... Nem participamos do circuito na embarcação. Parece que o Titanic não seguiu o destino do original, mas mudou muito pouco. O que mudou foi que sobrevivemos para contar a história... Mas sem problemas, foi um tempinho a mais que passei mergulhando e nadando. Até remei em stand up, algo que nunca tinha feito. Só que vocês já sabem né? Tudo o que é bom dura pouco, o que é maravilhoso... Passa num piscar de olhos. Logo chegou a hora de irmos embora...
Sequei-me, vesti-me e arrumei-me. Dirigi-me ao busão, junto com minha amiga. A viagem de volta foi rápida, como foi à ida. O que mudou é que foi mais silenciosa. Fora o ponto que meus colegas estavam cantando funk e de que teve um momento que, após um garoto ver pichado numa placa “Fora Temer”, todos do ônibus repetiram a frase, como um grito de guerra. Inclusive eu, que gostei muito desse momento antiTemer! Logo, havíamos regredido para o colégio...

Como eu pensava: papai estava me esperando, aquele querido! Fui ao banheiro rapidinho, peguei minha apostila de Geografia no escaninho e fui de encontro ao meu pai. Depois de receber duas castanhas, coloquei o capacete nos cabelos molhados e pulei pra cima da garupa, a mente cheia de respostas para as perguntas que papai e mamãe me fariam em casa. 

segunda-feira, março 13, 2017

Alguns Haicais...

Haicais


Nos galhos dela
Vida linda crescendo
Vivendo, bela

Seu lindo verde
Vossos galhos molhados
A vida que tens


No bailar belo
Que o vento te faz dançar
Nem vais almoçar


No livro, tema
A preguiça domina
Mas não tem pena


Garrafa nua
Garrafa cheia, lisa
Garrafa sua


Meus braços, dedos
Um pouco agitados
Melhor parados


A vida fora
A vida dele dentro
Pote, coentro


Ouvindo gritos
Ouvindo os lamentos

Fortes apitos

domingo, março 12, 2017

Vida, bela como si só


Vida. Bela como si só
A vida. Tema de minha agenda, neste ano. Tão bonita... Às vezes a gente nem para pra pensar, né? Os animais, a terra, o mundo, as plantas... É tão amplo, tão bonito! E hoje estou aqui para falar um pouco sobre isso. O prazer de fazer uma vida, cuidar dela, vê-la se desenvolvendo... Acho que, de verdade verdadeira, só saberei disso quando for mãe. Mas já começo umas experiências!
Plantar. Um prazer gigantesco e indescritível. Mesmo morando em um apartamento (apertamento, na verdade), damos aquele “jeitinho”, com um pouco de madeira, pregos, disposição e boa vontade. Disposição porque precisamos estar disponíveis para cuidarmos da planta, regarmos, colocar mais terra, monitorar o crescimento. Boa vontade porque, cá pra nós, não adianta querer plantar e nem fazer questão de cuidar! Nosso jeitinho incluiu um parapeito da janela da área de serviço, terra e uma manhã inteirinha... Mas tudo valeu a pena. E... De certa forma, isso cria laços com a terra e com a planta. Temos que acompanhar todo seu ciclo, desde comprar uma semente a regá-la, cuidar, fazer suporte, até poder usar/comer.
O destino final: a mesa. Não consigo nem descrever (a escrita é limitada, afinal) como é colocar um salmão com a sua salsinha de tempero, um suco com a ora-pro-nóbis que você cultivou, um picão que tu criou fazer parte de um molho. De certa forma, tenho orgulho. De outra forma, é muito triste ter que cortar uma planta (uma vida) para comermos e apenas isso! Iremos digerir, evacuarmos e... Fim. Mas o legal é que brota de novo (ao contrário de um braço quando o cortamos). A vida se renova, se regenera.
Caro (a) leitor (a), se quiser treinar para cuidar de algo, não tem nada melhor que uma planta. Seria muito claro se conseguires ou não a vitória (o cuidado não acaba nunca, na verdade): se a planta se desenvolver, terás vencido e saberá cuidar de algo mais complexo. Se morrer... Procure algo mais simples para cuidar. Não esqueça! É uma vida!
Mas nem toda a vida se resume apenas em plantas, não é? Existem os animais. Já relatei várias ocasiões (http://blogdetextosdabia.blogspot.com.br/2015/08/domingodo-abandono-tudoisso-comecou-no.html#comment-form e http://blogdetextosdabia.blogspot.com.br/search?q=como+tratamos+animais+como+objetos)  de abandono, perigo para os pobres bichinhos. (Se não viu, confira!!!). Como falei no texto do segundo link, animal é uma vida. Não merecem que acompanhemos seu crescimento, o alimentamos, demos carinho, amor, proteção... Tudo. Então, os “corações de pedra”, aqui, que somos nós, nos cansamos do bicho e o abandonamos. Eu, por exemplo. Já tive gato e cachorro (mais gatos do que cachorros) e cuidei de cada um com muito carinho. A maioria dos meus gatinhos tiveram fins trágicos: mortos, envenenados... Por pessoas que não gostavam de gatos. E animais são vidas. Por que matá-los?
Leitores (as), fica a dica. Uma vida merece ser cuidada, preservada e renovada. Assim como essa ideia. Renove-a, e prove para você mesmo que sabe amar.





domingo, fevereiro 26, 2017

Trabalho Infantil, dessa vez, realidade

Trabalho Infantil, dessa vez, realidade

Trabalho infantil. Já refletimos sobre esse tema no blog, mas hoje não é apenas teoria (http://blogdetextosdabia.blogspot.com.br/2015/07/trabalho-infantilvoce-apoia.html) É realidade. Dessa vez, nenhuma das situações que exemplificamos. Foi um menino cuidando do estacionamento, que realmente sabia como conversar (ou passar a conversa).
Numa das inúmeras idas à praia x de Florianópolis, estacionando sempre no mesmo cantinho (parecia que ele estava sempre reservado para nós...), quando papai estava parafusando as quilhas na nossa prancha, aquele menino chegou como quem não quer nada. Pediu se queríamos que ele cuidasse nosso carro, e papai, com uma pulga atrás da orelha, disse “quem sabe”. O menino disse um “tchau” e foi correndo de volta para onde veio.
Pegamos onda, mar muito gelado (meus pés estavam quase roxos, e as mãos brancas como cera e enrugadas), voltamos para o carro e já levantamos a questão do menino. O que faríamos? Diríamos que não? Daríamos dinheiro? Ou apenas enrolaríamos e no fim, iríamos embora sem tocar no assunto? Ou, ainda, relataríamos à situação à polícia no posto policial daquele local? Estávamos quase resolvidos a fazer isso, porém pensamos: "O que a polícia faria?" "Reprimira o garoto?" "Farai alguma coisa para de fato o ajudar?" A única coisa que tínhamos certeza era de que ele voltaria.
Dito e feito. O garoto voltou, e estava com uma conversa... Pronta? Ensaiada? Decerto vira que papai era um pouco desconfiado/difícil. Começou perguntando como tinha sido a praia. Respondemos, e foi nossa vez de perguntarmos sobre ele: nome, idade, se estudava, o que fazia com o dinheiro que ganhava ali. Seu nome era E. (não quero dizer seu nome completo, então digo apenas a inicial), tinha 14 anos, estudava, mas a escola estava em greve. Estava sem aula por conta de um Pacotão de Maldades do prefeito.

No ponto de vista do menino, estava sem aulas por causa dos professores, que não queriam dar aula. Do ponto de vista social, tanto ele (e outras crianças vítimas de trabalho infantil), como os professores e nós estão sendo alvos de desgoverno que oprime os trabalhadores e seus filhos, obrigando-os a buscar formas de sobrevivência que os oprime e impede o desenvolvimento, como é o caso de E. E nós achamos isso tão normal, quando deveria ser a coisa menos vista e aceita do mundo. Como prostituição, tema de nosso próximo texto no blog. 

sexta-feira, fevereiro 10, 2017

Cenas do Cotidiano V

Cenas do Cotidiano V
Ontem, conheci uma menina que partiu meu coração. Não no sentido romântico, mas no afetivo. Quer saber um pouco sobre a vida de menina e nossa conversa? Continue lendo!
Tudo começou ontem, com um belo dia ensolarado. Como é de costume, de tardinha, mamãe e eu fomos nos exercitar, mas discordávamos em uma parte: mamãe queria caminhar, eu queria fazer a academia ao ar livre, perto do Trapiche da Beira-Mar, pois queria encontrar alguém para brincar. Se encontrasse, ficaríamos e não, partiríamos para uma longa caminhada. Agora, entendes o porquê eu queria ficar nos aparelhos?
Alguns idosos e adultos se exercitando, nada de mais. Mas, minha salvação: crianças! As mesmas que eu havia encontrado no dia anterior, e que não tinham querido brincar comigo. As cumprimentei por educação, e comecei o alongamento. Mais tarde, mamãe me contara que estavam fofocando, se perguntando minha idade (12, para quem não sabe) e dizendo que eu era esquisita.
Esperanças quase perdidas. O alongamento estava quase terminando, as Marias Fuxiqueiras já haviam saído e mamãe já estava no último aparelho de alongamento, pronta para pegar as garrafas d’água da mesinha e caminhar. Quando, num dos meus alongamentos doidos (a maioria inclui ficar de cabeça para baixo) vi uma menininha subindo num brinquedo (aparelho, mas para ela devia ser brinquedo). Olhei para ela e ela para mim, me dando um “oi” com a palma da mão. Achas que eu pensei duas vezes? Dirigi-me a ela.
Chegando perto do brinquedo onde ela estava subindo, subi também com a maior agilidade (é um dos que eu fico de cabeça para baixo) e também a cumprimentei e, sério, tive que me esforçar para ouvir a resposta. Ela falava muito baixinho, como se temesse falar demais e ser repreendida por isso. Perguntei seu nome, e juro que nunca vou esquecer: Rihanna, ou seja lá como escreve, mas eu captei. Junto com seu nome, disse-me que as pessoas costumavam chama-la de “Fofucha”. Eu entendia. Como alguém tão fofa e delicada poderia ter outro apelido senão “Fofucha”? Era perfeito!
Havia começado muito bem. Mamãe, vendo que eu arrumara amizade, não quis acabar com a coisa e decidiu ficar, mas ainda me olhava como se ainda quisesse me trucidar (ei, estou falando a verdade; você não conhece minha mãe!). Preferi dar atenção para Rihanna, e, naturalmente, pedi se queria brincar e do quê. Não me respondeu, apenas ficou comigo naquele brinquedo e convidou-me para ir aos outros. Aceitei o convite e tentei soltá-la quanto ao jeitinho apertado dela. Brinquei, dei atenção e carinho. Aí que surgiu a primeira rachadura no meu coração.
Ela havia me dito que estava com saudades da mãe. Disse-me assim:
_A gente é meio pobre, então ela tem que trabalhar até tarde para...
Achei que ela diria “comer” no fim da frase, mas parou e disse:
__... Juntar um dinheiro, você sabe.
É claro que entendia. Que pessoa no mundo não quer juntar um dinheiro para, pelo menos, ter um mínimo de conforto e não passar fome? Disse-me que sentia saudades dela. E que, todos os dias, de manhã, quando a mãe saía trabalhar, ela tentava se machucar ou fingir cair da cama para a mãe ficar cuidando dela e não sair trabalhar. Queria um pouco de carinho. Como todo o mundo quer. Perguntei se tinha irmãos e no que a mãe trabalhava e ela me respondeu:
_Vende coisas.
Tudo bem. Perguntei o que ela vendia. Rihanna resmungou um pouco e eu não entendi nada, então ela me disse que a mãe dela “botava gasolina nos carros”. Ah, era frentista. Mudei de assunto, porque não queria falar de uma coisa da qual ela sentia falta e perguntei onde ela estudava. Tímida, ele me disse:
_Estudava na creche, mas agora vou para o colégio A. e eu ouvi dizer que na turma que eu vou tem uma matéria de massinha de modelar.
_Sério! Que legal!
Tentei parecer surpresa para não desestimular a garota, porque parecia ser algo que ela estimava muito. E Rihanna acrescentou, com pesar:
_É, mas a (nota: ela disse um nome que eu não lembro), que é minha irmã, não brinca mais de massinha de modelar. Ela não pode.
Eu perguntei por que não podia, pois eu tenho 12 anos e, de vez em quando, ainda me divirto com a massinha de modelar criando formas e misturando as massas. A Fofucha me respondeu que não podia, porque é adolescente, e quem é adolescente não faz isso. Fiquei pensando, cá com meus botões: por que não? Existe alguma lei que diga que não? Não brinca porque é fresca, porque tem vergonha. E acima de tudo, porque valoriza a opinião dos outros acima da própria, e uma prova disso é não brincar com a própria irmã.
Brincamos um pouco e ela pediu se eu não queria ir ao Trapiche. Concordei, eu também queria ir. Pedi onde seus pais estavam, e ela apontou para o grupo mais entediado que havia lá. Uma adolescente com cara de nojo, um adolescente que parecia que tinha cheirado rato podre que poderia ser tanto namorado quanto irmão da garota e o pai, que não era muito melhor que os filhos. Rihanna, a Fofucha, pediu se poderia. Achei que eles não iriam deixá-la ou o papo desinteressante (para mim) estava tão interessante (para eles) que nem ligavam a mínima para a Fofucha. Depois de ela meter-se na frente deles e interromper timidamente a conversa que eles se ligaram que tinham uma filha/irmã (Oh, sério, quase esqueço que você existe mesmo sendo da minha família! Desculpe-me, eu estava atarefado e não foi minha intenção!) e a deixaram ir comigo.
Segunda vez que uma rachadura, dessa vez mais profunda, surge em meu coração. No decorrer do trapiche, fizemos carinho num cachorro e ela me contou que também tinha o seu, e que a fazia feliz. Fiquei contente que, pelo menos, ela falasse de algo que a deixava alegre. Quando já saíamos do trapiche, ela me abraçou. Não constrangida, como muitas pessoas de hoje em dia que tem receio de sequer encostar sua mão na do outro. Foi um abraço carinhoso, como se eu estivesse indo embora e ela não quisesse. Senti-me um lixo por não poder fazer nada por ela.
Ela falou-me que colecionava conchinhas. Catei muitas para ela, todas bonitas. E perguntei para ela, já que estava distraída e talvez me desse uma resposta sincera, como o pai dela era. Ela disse que ele era (muito) legal, mas às vezes ela o desobedecia e... Completei a frase nos meus pensamentos com uma única palavra: “apanho”. Que ótimo, eu havia tocado na ferida. Foi aí que, enfim, meu coração rachou de vez e despencou para não sei onde. Ela largou as conchinhas como se não valessem nada, conversamos mais um pouco e ela abraçou-me com carinho. Eu abracei-a também. Então ela disse:
_Eu te amo.
Segurei as lágrimas para largá-las no caminho, e contar para uma das únicas pessoas no mundo que eu sabia que me ouviria: mamãe. Pedi para minha mãe se poderíamos ir caminhar, e ela entendeu. Despedi-me da Fofucha e fomos pela Beira-Mar. Larguei todo o pesar em cima de minha mãe. Disse o quanto ele era carente. O quanto ela sofria. Contei tudo isso que contei para ti, leitor (a). Onde, no mundo, eu acharia uma criança que me conheceria e dissesse que me amava? Talvez eu fosse a única que dei um carinho, uma atenção para aquela menina. Como bem disse minha amada mãe, “talvez tu fosses a melhor coisa que aconteceu no dia daquela menina”. E, o mais interessante: ela não foi crítica comigo como aquelas meninas que tinha encontrado. Agarrou-se a mim como um náufrago em uma ilha.
Falando em ilha, como Florianópolis pode se chamar Ilha da Magia se a desgraça, as surras, a carência das pessoas não é mágica para ninguém? Como, com tanta desgraça no mundo, essa Ilha pode estar alheia a tudo e autodenominar-se “mágica”? É mágico que aquela menina, talvez, não tivesse o que comer? Ela tinha me contado que eram seis irmãos e mais os pais. É mágico que apenas uma mulher frentista que ganha mais ou menos um salário mínimo por mês tenha que sustentar oito bocas? E, além de tudo, é mágico uns terem tanto e outros mendigarem apenas por carinho? Eu respondo. Não é mágico. 

sexta-feira, fevereiro 03, 2017

Escola nova. DE NOVO. E o que eu penso sobre ela.


Uma reflexão para minha volta às aulas

Ah, férias. Momentos muito bem merecidos depois de duzentos dias dentro de uma sala de aula, ouvindo e enfiando coisas na cachola. Momentos de viajar, fazer outras coisas e conviver mais com a família. De relaxar e largar um pouco dos deveres de casa, provas e trabalhos. De esquecer tudo isso e preparar-se para aliviar a memória. De amar e dar mais atenção para aqueles com que convivemos diariamente, porém, às vezes, os tratamos mal em decorrer do dia corrido e muitos afazeres, ainda a serem feitos.
Nossas férias foram uma maravilha. Brincadeiras, risos, praia, sem brigas. Conheci mais um pedacinho da minha própria família, aquela que muitos chamariam de “sem problemas”. Digo que é quase nula a probabilidade de convivermos com uma pessoa sem ocorrer alguma briga, porque é natural do ser humano ter a própria opinião e, quando achamos que a nossa está certa, discordar da dos outros. Enfim, férias maravilhosas.
Mas, depois de três meses de pernas para o ar, é chegada a hora de voltar novamente para os duzentos dias letivos, dentro da sala de aula, ouvindo e enfiando coisas na cachola. Mas antes fosse esse nosso maior desafio. Aprender é prazeroso, e notas são apenas notas. Um número, afinal, resume uma pessoa? Não! Nosso maior problema é o colégio. Nem sempre a escola tem a mesma proposta dos nossos ideais, e isso resultou numa troca de escola imensa. Em cada ano dos meus (quase) 12, acho, estudei numa escola diferente. E sempre mudava, em busca de uma melhor.
Espero sinceramente que a escola que arrumamos seja o que esperamos. Natureza, reais aprendizagens (porque o que fazem nas escolas, em geral, é “decoreba”, porque apenas “aprendemos” alguma coisa quando tem uma prova, desse modo, passou a prova, passou o aprendizado?), amigos. E, naturalmente, pouquíssima, senão nula, falsidade e superficialidade do povinho do meu antigo colégio. As ideias do pessoal da Escola da Fazenda são compatíveis com as nossas: laica, sem datas comemorativas (exceto algumas, mas poucas), contato com a natureza, prioridade para os pais e alunos e mostraram-se muito abertos a aceitar todas as nossas sugestões. Os que estudam ali são muito amigáveis, já fiz amizade com uma menina. Ana Rosa, tu és boa companhia e muito carinhosa. Foi bom jogar xadrez contigo, mas não porque eu ganhei, viu?
Para essa nova escola, espero realmente voltar para casa empolgada com o conteúdo, contando como funciona isso ou aquilo ou sonhando com uns cálculos (que geralmente não são sonhos, são pesadelos). Espero ter professores bons, que não sejam apenas professores que ficam mais ou menos 50mins dentro da sala me fazendo aprender, mas que sejam meus amigos. E espero ter amigos. De verdade, que sempre estejam comigo e me aceitem como eu sou, porque estarei com eles e os aceitarei como são. Não aquele tipo de amigo que se chateiam por qualquer coisa, como, por exemplo, sermos sinceros (afinal, era para ser sincero ou educado?), ou quando não os esperamos para a fila do recreio. Quero uma escola que realmente me faça sentir parte dela, que faça parte de mim. E saberei disso quando sair. A maior prova da saudade é aquele vazio enorme dentro do coração, e se a saudade for grande, mesmo, pode até sair do coração e atingir outros órgãos, como os pulmões, rins e por assim vai.
Quero algo que me deixe ser eu, sem me modificar, apenas me ensinar. Enfim, espero uma escola que me faça feliz, que realmente nos integre a ela. Uma que faça parte de mim e me incentive a “artistar”, que não me enquadre em alguma gavetinha, que me deixe estender meus limites sem criar alguns para mim. E, além de tudo, um colégio que me ensine realmente coisas. Para a vida, não para as provas. Coisas que eu levarei para sempre na memória, pois além de memórias nada mais restará. Memórias que depende da escola transformá-las em boas ou ruins.


  

terça-feira, janeiro 17, 2017

Aprendendo

Aprendendo

Demorou muito tempo
Até conseguir fazer com que entrasse mais no mar
Demorou mais ainda
Fazer com que aprendesse a surfar

Mas poderia demorar o quanto quisesse
Tenho toda a paciência
Ela vai sim aprender
Confio em sua inteligência

Sei que ela tem medo
Desse nosso imenso mar
Quando estamos já sozinhas
Sabe que pode desabafar

“Vocês sabem, eu tenho medo!
Não quero me afogar”
Eu sei, mamãe, não tenha medo
Nunca vou te abandonar

Uma remada atrás da outra
Bata o pé desse jeito
Saiba que és importante
E que te amo com todo o peito

Não precisas cumprir uma meta
Nem ter toda a agilidade
Quero apenas que saiba o suficiente
Para não passares dificuldade

Podemos não ser profissionais
Mas te ensinaremos mesmo assim
Sabe que em qualquer caso
Podes confiar em mim

Para a minha mamãe, que está aprendendo a nadar e já surfa. Orgulho-me a cada onda, a cada vez que ela dispara mais e mais para frente. Amo-te mamãe. Muito.