quinta-feira, janeiro 08, 2015

   A MAGIA DO CONHECIMENTO

Em um lugar, muito, mas muito longe daqui, na Terra da IP (Inteligência Perpétua), vivia um povo que, como era de se esperar, era muito inteligente e dedicado com estudos e tarefas diárias. As pessoas que ali nasciam eram muito inteligentes e a principal coisa que desejavam era algo muito simples: realização familiar, término dos estudos com boas notas e ter uma boa carreira para conseguir sustentar-se por conta própria.
Num bairro da Terra do IP, Gamautilda, mais conhecido como Gama-Uti, em uma simples casa de alvenaria, residia a família Naum: Sra. Nicole Del Pertu Naum, Sr. Walacce Impert Naum e sua filha, Srta. Alicia Del Naum. Os Naum também tinham um animal de estimação: uma linda gatinha branca da raça persa, de nome Bela, dada pela tia de Alicia, Katherine Bortins da Rosa Naum. Os Naum eram, também, primos da pessoa mais inteligente que IP já tivera: Lulanda Cattemberrg Naum, e por isso se orgulhavam muito (às vezes até demais) disso. Tinha momentos na escola em que Alicia até sentia uma pontada de inveja de Lulanda, pois além das boas notas que tirava, sabia que sempre fora a esquisitona, a rejeitada, a caladona, a louca que fica estudando no dia da abertura da Copa do Mundo, a chata... Tudo ao contrário de sua prima, que era o centro das atenções do colégio IP, a queridinha da professora, o amor da diretora... Tudo do bom e do melhor ia para Lulanda, quando ia visitar Alicia: pão novinho, bolacha recém-aberta, margarina de primeira qualidade, uva colhida na hora... Tudo SEMPRE para ela. Isso mais ou menos estimulava Alicia na hora de alguma avaliação ou trabalho, pois só tirava 10, o que, certamente orgulhava muito os seus pais, dizendo que a inteligência dela se comparava à de Lulanda. Alicia, no entanto, ficava brava e pensava para si mesmo que a inteligência de sua prima não chegava nem a ponta da unha do seu pé, se é que ela sentia ao menos o cheiro de talco das suas meias.
 Um determinado dia na vida de Alicia se passou muito bem, com elogios, abraços e recomendações dos pais, pois aquele seria o dia da avaliação de Português de Alicia que decidia se ela ia ou não passar na matéria. Na hora da avaliação, Alicia foi tomada por pensamentos de inveja da prima, coisa comum, pois ela sempre pensava nisso nessas horas. Quando entregou a prova, recebeu olhares de superioridade dos colegas, dizendo, como se estivesse escrito na testa deles “tomara que ela erre pelo menos umas 5 questões, e que eu acerte todas para poder esfregar a prova com um 10,00 no nariz dela...”, “espero que tire um 0,00, essa metida, para mim conseguir afogá-la num mar de fofocas...” ou “quero que ela aquela nanica tire uma nota tão baixa quanto ela tanto que a professora terá de inventar uma nota baixa para lhe dar... Mas acho um 0,00.01 milésimo uma nota alta demais!”...
 No recreio, Alicia recebeu mesmo um mar de fofocas, pois Carla, uma colega sua, espalhou pela escola inteira que viu a professora corrigindo as avaliações e tinha espiado a nota de Alicia: segundo ela, a professora tinha escrito decepção com a sua nota sublinhado de vermelho 4,00. Alicia soube da fofoca pela sua melhor amiga, Lisandra, que também acreditou em Carla. Ela, Carla, também disse que notou a correção da sua avaliação e falou que tirou um 10,00 e também que a professora tinha escrito um Parabéns! Você é 10!
 Alicia, no entanto, foi forçada a lanchar sozinha, pois não aguentava tanta rejeição de seus colegas. Até pessoas que ela não conhecia (mas desconfiava que eram do sétimo ano) foram festejar a vitória de Carla em suas costas. Quando passava por corredores e se deparava com professores, que, por sua vez, não a consolavam mas a olhavam com pena e um pouco de desapontamento.
  Chegando em casa, cabisbaixa, Alicia contou o que aconteceu na escola para sua mãe e seu pai, reclamando que, por Lulanda ser inteligente, não sofria o que ela estava sofrendo. Será que ela não era inteligente? Seria assim, considerada burra, com aquela coleção espetacular e inacabável de 10,00? Será que era só uma sorte ter tirado 10,00 nessas avaliações? Ou era apenas a vantagem de ela conseguir decorar e não aprender os conteúdos com tal facilidade que era considerada inteligente? E se ela não tirasse à média, que de 6,00 mudou para 7,00? Tantas perguntas, nenhuma resposta... Bom, saberia a resposta no próximo dia.
 No dia seguinte, Alicia foi pra aula, tentando manter a cabeça erguida, pois queria demonstrar para seus colegas (principalmente para Lisandra) que não se abalava por uma mentira mal contada de Carla. Contou também que achava que Carla tinha invertida a situação: que ela (Alicia) é quem tinha tirado 10,00 e a Carla que tinha tirado 4,00. Fofoca boa se espalha rápido: logo metade do colégio IP ficou sabendo disso e (para felicidade de Alicia) Lisandra ficou sabendo. Na hora da entrega das avaliações, foi uma algazarra total: algumas pessoas se perguntavam que nota tiraram, outras receavam que talvez não passariam, e a maioria, como Alicia, achavam que passariam com sobra. Prova entregada, Alicia viu que recebera um bilhete da professora escrito Para os pais da aluna Alicia Del Naum de Professora Matílde Ferreti Nutris. Mas Alicia não olhou o bilhete, correu o olho para procurar sua nota. A ilusão de que passaria com sobra se quebrou quando achou a nota: 7,55. A ilusão se desfez completamente quando olhou seu comentário da professora: os Parabéns foram substituídos por um Passou raspando, Alicia. Mais empenho da próxima vez!     
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 Foi doloroso para Alicia passar seus olhos cor de safira no carimbo preto e azul da professora. Ela mesma nunca esperara de si uma nota tão baixa... Nunca quisera para si uma nota dessas... Que seus pais iriam dizer?
 A sineta tocou: era recreio. Alicia arrancou o papelzinho onde a professora havia escrito um bilhete para seus pais, grampeado na avaliação e colocou dentro de sua bolsinha. No banheiro, Alicia abriu sua bolsa e tirou o envelope de dentro: era escrito com a linda caligrafia da professora, da qual gostava muito. Tirou o selo do envelope e começou a ler: Sr. e Sra. Naum. Nunca esperei uma nota tão baixa de sua filha. Alicia sempre fora a aluna mais inteligente da minha classe, mas nunca, nunca mesmo quis essa nota como resultado anual dela. Sempre foi uma aluna exemplar para seus colegas. Desde nossa primeira provinha, no primeiro ano, Alicia ganhou uma estrelinha (sabendo que uma estrelinha era “ótimo”, um chapéu de bruxa era “médio”, um carrinho era “passável” e um aviãozinho era “péssimo”). Pelo meu conhecimento, Alicia gosta e ama todas as matérias (de português ela gosta mais) e suas notas nelas sempre foram as melhores. Não sei o que deu na Alicia, mas ela sempre demonstrou amar substantivos, que era o tema da avaliação. Lamento pela nota. Sendo tão baixa, sou obrigada a dar para Alicia umas aulas extras, neste feriadão. Alicia terá de trazer os livros vol. 1 e 2 de Língua Portuguesa, caderno e estojo completo.
Aguardo retorno.
Matílde
 Frases da carta ficaram boiando em sua memória, como se ela tivesse inventando um diálogo para sua mãe. “Não sei o que deu na Alicia, ela sempre demostrou amar substantivos...” “Lamento pela nota. Sendo tão baixa, sou obrigada dar para Alicia umas aulas extras...” Aulas extras??? Isso não poderia estar acontecendo... Era só um pesadelo, só um pesadelo, apenas um pesadelo... Que diriam seus pais se passassem, ao menos, as mãos nessa carta? “Como poderia estar acontecendo...?” pensou Alicia“ É só um sonho, logo eu vou acordar e vou ver o rosto dos meus pais, vou tomar café da manhã, vou ir para a escola, vou receber a minha avaliação de Português, vou festejar meu 10,00 e meu Parabéns como sempre e...”
 A sineta tocou: era fim do recreio. Alicia guardou o bilhete na bolsa e saiu do banheiro para fazer a fila de sempre. No caminho da fila, em sua frente, viu Carla e Lisandra cochichando algo. Lisandra falou com Carla sobre Alicia, alto o suficiente para a própria Alicia poder ouvir:
__ Ô Carla, sabia que eu vi a nota da Alicia? A “intelijumenta” tirou um 7,50 sublinhado de vermelho! Eu vi! E veio um bilhete de envelope rosa! Deve ser uma reclamação ou um pedido de aula extra! Tomara que dê tempo para espalhar para a escola antes que acabe a aula!   
  Depois de dizer isso Lisandra reparou na presença de Alicia, puxando assim a mão de Carla para ir para a fila. Carla, entendendo o aviso, foi com Lisandra até a fila do quarto ano, onde continuaram cochichando. Chegando na sala, a professora  dispensou os alunos, dizendo que tinha seus motivos:
__ Crianças – disse a professora Matílde com sua voz doce. Também tenho trabalho para fazer em casa, sou uma mãe de família e... Tenho uma aula extra para preparar para a...Para uma pessoa. Agora vão, andem! Ah, Alicia, você fica. Tem dez minutinhos?
__ S-sim, professora. Respondeu Alicia.
__ Alicia, você deve saber o porquê teve de ficar aqui mais uns minutinhos, não? Perguntou a professora.
__ Não, professora Matílde. Não sei. Disse Alicia em tom de desafio.
 __ Nem desconfia?
__ Acho que seja pelo resultado de minha avaliação, não?
__ Exatamente Srta. Naum. É sobre isso, sim. Pela sua nota...
__ ...Eu terei de fazer aula extra com você, professora. Eu sei, li o bilhete.
__ Você leu? Perguntou Matílde, atrapalhada. Não me lembro de ter falado nenhuma vez na aula de hoje que você tinha minha permissão para ler o bilhete. Eu, Alicia, não sei, mas seus pais poderiam ter deixado lê-la. Achas que eu não te vi tirando o grampo que colava o bilhete na prova para teres chances de leres? Alicia... Eu te conheço bem desde que te dei aquela estrelinha na prova do primeiro ano. Sei também onde você foi hoje o recreio para ler o bilhete, sei que o levou numa bolsinha, sei que não lanchou.
__ Ahh...
__ Não minta para mim, querida. Mostre-me, então, se negar isso que disse, sua lancheira. Disse a professora, mais confiante.
__ Hum, professora, eu não nego.
__ Então espere um pouco. Quando eu acabar de escrever, está liberada. Você pode ler, não se preocupe. É só para o caso de você ter jogado o bilhete da prova fora.
Alicia foi só liberada quando já estava escurecendo. Com o segundo bilhete na mão, corria para casa, preocupada com o fato de seu atraso: certamente seus pais já haviam jantado e fazia tempo que estava com fome, pois não comeu a merenda que sua mãe mandou.
O bilhete dizia:
Caro Sr. e Sra. Naum. Informo-lhes que sua filha fará aulas extras comigo, devido a sua baixa nota em Português. As aulas serão nas quartas, quintas e sextas, no horário das aulas de sempre (começam as 13:30  e terminam as 18:00) Terá de trazer caderno, livro de Língua Portuguesa vol. 1 e 2 e estojo completo. Qualquer duvida, sabem onde me encontrar.
Matílde
Quando acabou de ler, Alicia estava na rua Gama-Uti, onde, estranhou Alicia, estavam estacionados, na frente de sua casa, carros com luzes vermelhas. Alicia não sabia o que estava acontecendo, mas desconfiou que fossem carros de amigos de seu pai, Wallace. “Espera aí”, pensou Alicia: “Papai não é de dar festinhas... Que será?”
 Chegando mais perto, Alicia percebeu que eram carros da polícia.
“Carros da polícia?” Refletiu Alicia, confusa. “Que é que estão fazendo aqui? Aconteceu alguma coisa... Mas o quê? Será que a vovó foi internada por câncer? Ou o vovô se engasgou com farofa? Ou mamãe ou papai tiveram um piripaque? Mas, pensando bem, a polícia não iria ligar se meu vô tivese se engasgado com farofa. Mas porque, então?” Alicia resolveu entrar logo em casa para ver o que estava acontecendo, e, além disso, dar o Bilhete Negro, o nome que Alicia deu para ele. Aproximando-se mais de sua casa, Alicia ouviu soluços de sua mãe:
__ Mi-inha... A... Minha Al...l...
 “Al o quê? Como eu vou descobrir o nome da criatura que aconteceu eu-sei-lá-o-que?” pensa Alicia, furiosa. “Ainda mais com ela soluçando deste jeito. O nome da vovó é Alana, vovô é Alex, meu primo mais velho é Alexandre, minha irmã  que está para nascer se chamará Alba... Mas voltando nos soluços de mamãe, ela diz: minha Al... Então tem de ser uma menina! Ei! Espera aí! O meu nome começa com Al... Será quê...? Não, não pode, mas se...”
 Agindo sem pensar, Alicia entrou em casa. De tão ocupado que seus familiares ali presentes estavam de chorar, nem repararam na presença de Alicia. Ela chegou mais perto da mãe e lhe deu um cutucão no ombro. A mãe se virou rapidamente e lhe disse:
__ Alicia! Não está vendo? Eu aqui chorando por que minha filha não voltou da escola, a polícia aqui, as investigações indo, seu pai pregando cartazes de aviso e você vem aqui me cutucar! Por que não ajuda sua avó na cozinha?
  Terminando de falar essas palavras,  a mãe de Alicia lhe deu as costas. Mas Alicia não desistiu:
__ É que eu queria ver o que estava acontecendo. Sabe, cheguei agora da escola por que a professora me segurou um tempinho a mais na sala de aula e... Disse Alicia. Nem bem terminou a frase, a mãe se virou e foi ao seu encontro:
__ Alicia! Alicia! É você mesmo? Estou desconfiando que é a Lulanda Cattemberrg Naum debaixo desta fantasia... Vamos  ver. Qual é a ordem da coleção dos livros do Harry Potter? Perguntou a mãe, desconfiada. Era a primeira vez que Alicia  viu a mãe tão desconfiada.
__ É Harry Potter e A Pedra Filosofal, Harry Potter e a Câmara Secreta, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, Harry Potter e o Cálice de Fogo, Harry Potter e a Ordem de Fênix, Harry Potter e o Enigma do Príncipe e Harry Potter e as Relíquias da Morte.
__ É, você é mesmo a Alicia! A minha Alica! Tudo bem com você? Está machucada? Que fizeram com você?
__ Ai, mãe! Não aconteceu nada comigo! Só tive que...De novo, a mãe interrompeu sua fala:
__ SUSPENDAM AS INVESTIGAÇÕES!! ACHEI ALICIA! ELA DIZ QUE ESTÁ BEM! ESTAVA NA ESCOLA O TEMPO INTEIRO!! CHAMEM MEU MARIDO! FAÇAM UM BANQUETE! UMA FESTA, SE PRECISO! ELA VOLTOU!!! ALICIA VOLTOU!
__ Mãe! Pare de gritar! Vai acordar toda a vizinhança! Diz Alicia, diante daquele gritedo. Teve que dizer isso umas três ou quatro vezes, pois a mãe ficou repitindo a mesma coisa durante uns minutos, o que, para Alicia, foram horas. No jantar, teve as coisas que Alicia mais gostava: alface, feijão, carne de galinha, macarrão, torta de limão, suflê de legumes e pão de queijo, para a sobremesa tinha sorvete de flocos e suco de goiaba. Praticamente, foi o melhor jantar da vida de Alicia.
 No dia seguinte, Alicia acordou e lembrou-se da prova, do Bilhete Negro, de sua nota, do comentário da professora... Inclusive que tinha de mostrar o bilhete para seus pais. Alicia deu passos inseguros, segurando o Bilhete Negro nas mãos trêmulas, em direção a cozinha. Chegando lá, falou:
__ Papai, mamãe, me acompanham até meu quarto? Tenho uma coisa importantíssima para lhes mostrar. Têm um tempinho? Por favor.
 O casal Naum trocou olhares por algum tempo, mas acabaram seguindo a filha para seu quarto e sentaram na cama.
__ Que aconteceu, filhinha? Perguntou-lhe a mãe.
__ Leiam esta carta. É da professora Matílde. Disse Alicia, estendendo a carta para  os pais. O Sr.Naum estendeu a mão primeiro, mas a Sra. Naum foi mais ligeira. Observando bem os olhos negros da mãe percorrerem a folha do bilhete, Alicia foi ao encontro de sua mochila para pegar sua avaliação. Mal sentou na cama, sua mãe disse, tristemente, passando o bilhete para o marido:
 __ Querida, me dê sua avaliação. Quero vê-la.
 Alicia entregou, ainda trêmula, a sua avaliação para a mãe, que olhou rapidamente e passou-a para o Sr. Naum, que também já tinha acabado o bilhete. Quando o pai acabou, o Sr. e Sra. Naum falaram juntos:
__ Alicia! Não acredito! 7, 50!!!
__ Sim pai, sim mãe. Disse Alicia, corando.
__ Filha, você fará aulas particulares comigo sobre substantivos. Ai de você se não meter tudo nessa cachola! Nesse feriadão, você já tem divertimento, querendo ou não! Ah, e sem saidinha com os “amigos” no fim de semana, sem chocolate por uns dois meses e você está proibida de assistir televisão até aprender direitinho os substantivos!!! Entendeu? Começamos hoje a tarde, viu? E seus momentos livres de manhã serão para estudar no notebook, ok, mocinha? Vou mandar uma carta para sua professora. Sabes onde ela mora? Levará o bilhete, então.
 Diz a mãe após um aceno de cabeça indicando um “sim” da filha.
__ Ah, um momento, antes de saíres chorando pelos cantos da casa. Enquanto eu estiver escrevendo uma carta para Matílde, você irá revisar o seu conteúdo de Português.
__ Está bem mamãe
Pela conta de Alicia, levou um pouco mais de quarenta minutos para sua mãe finalizar a carta para sua professora. Achava que ela fazia isso de propósito, só para ficar estudando mais: Alicia queria sair dequela casa por alguns minutos, para amenizar um pouco o clima.
 No caminho, Alicia abriu a carta (tendo permissão de sua mãe) com os seguintes dizeres:
Professora Matílde. Como a nota de minha filha foi tão baixa, creio que é o dever de uma mãe querer ajudar uma filha. Sendo assim, quero que ela faça aulas comigo, que me especializei no assunto. Quero só ver. Proibí ela de dar essas saidinhas com os amigos dela no fim de semana, chocolate não vai ter, ela que não pense em televisão e os momentos livres dela de manhã serão para estudar. Abraços.
Nicole
     
Alicia ficou até surpresa por um bilhete curto levar mais de quarenta minutos para ser escrito, mas quando percebeu, já estava na frente da linda casinha cor de azul. Bateu na porta, mas em vez de Matílde atender a porta, foi uma linda moça que atendeu, dizendo, com o português não muito aperfeiçoado:
__ Boa tarrde! A sonhorit est’ procurrando a prrofessora Matíld’? Perrdão, mas el’ prrofessora Matíld’ foi au superr- merrcad’. Faz uns dez minutes que el’ prrofessora sail. Querr entrarr parra esperrar un pueco?
 Perguntou a moça.
__ Eu ..., é... Pode ser. Qual é o seu nome? É parente da professora? Quantos anos você tem? Você vem de onde?
Pergunta Alicia.
__ Mi nom’ é Pietra Poli Delvivo, sou la prrim’ mas nueva del prrofessora, mi ten’ quinze anios e vim da França. I vucê? Faço las muemas puerguntas.
Responde rapidamente Pietra.
__ Meu nome é Alicia Del Naum, sou aluna da professora Matílde, tenho 15 anos e sou do Brasil, mesmo. Ah, olha lá! A professora Matílde!
Diz Alicia antes que Pietra pudesse dizer alguma coisa.
__ Professora, professora!
__ Olá, Alicia! Acho que já pode conhecer minha prima Pietra. A família dela é francesa, mas minha mãe se mudou para o Brasil, deixando seu irmão lá! Então, Alicia, alguma notícia sobre as aulas?
 Pergunta Matílde.
__ Sim, professora. Este bilhete é da minha mãe. Diz Alicia, mas Pietra a interrompe:
  __ Querrida! Nom prrecis’ chamarr minha prrim’ de prrofessorra. Chami’ só di Matíld’. É mais, digamus... familliarr.
__ Está bem. Disse ela. Alicia esperou a professora Matílde acabar de ler para perguntar-lhe:
__ Professora, digo... Matílde, que devo falar para minha mãe?
__ Deverá falar-lhe que concordo com ela. Só isso.
 Respondeu ela.
__ Está bem.
 Alicia mal acabou de falar e já se viu correndo em direção a sua casa. Quando cruzou a porta de entrada, deparou-se com sua mãe e (admirou-se Alicia), uma sala de aula completa. A mãe lhe perguntou:
__ Filha, qual é a resposta do meu bilhete?
__ A professora diz que concorda com você. Só isso.  Diz Alicia.
__ Ótimo, querida. Vamos começar a aula de hoje?
__ Vamos mamãe.
 __Muito bem, então. O que são substantivos, querida?
 __ Os substantivos, respondeu Alicia, são os nomes das coisas, dos objetos, das pessoas, dos lugares... Enfim, o que dá nome para as coisas.
__ Muito bem. Agora sabemos que os substantivos dão nome as coisas, mas, seu nome, por exemplo é o quê? Qual classificassão damos a ele?
__ Fica nas classe dos substantivos próprios, mamãe. Dão nome as pessoas, lugares, lojas... Indica um ser em particular.
__ Isso, mas seu computador? Se classifica em...?
__ Meu  computador se classifica em substantivos comuns. Não nomeia um ser, um objeto em particular, mas um ser em geral.
 __ Ok! Vamos ver mais uns três. Que são os  substantivos simples?
 __ Ah, mãe, é ai que me confundi na hora da prova... Mas acho que é os que dão nome para sentimentos.
__ Não! Esses são os substantivos abstratos. Os simples são compostos por uma palavra, como flor, chuva e computador. E os substantivos compostos?
__ Esse eu sei! São substantivos que são formados por duas ou mais palavras, como guarda-chuva, pé de moleque...
__ Parece que prestou atenção nessa parte. Bem, continuando, o que são substantivos concretos?
__ Er... Os que dão pra pegar?
 __ Não filha! Que horror! Não pense assim, como eu, na infância! Substantivos concretos são palavras que nomeiam seres e não precisam de outro ser para existir! Não me fale de novo que substantivos concretos são os que “dá para pegar”! Continuando, e os substantivos abstratos?
__ Acho que é os que não dá para pegar. Er, brincadeirinha, mamãe, acrecenta Alicia rápido, ao ver o olhar da mãe. São os que nomeiam ações e sentimentos. Acho que precisam de outro ser para existir.
__ Isso, querida. E os substantivos primitivos? Que são?
__ Já ouvi falar de animais primitivos, que são os dinossauros, mas substantivos...? Tenho uma impressão de que são os que formam outros. Se dinossauro é primitivo, evoluíu pro macaco, que evoluíu para nós, então o dinossauro começou isso tudo!
 __ Isso mesmo, parabéns! Seu raciocínio está certo! Mas não custa lembrar que estamos estudando Português, não História nem Ciências. Vamos pensar nas palavras, nos nomes. Por exemplo, terreno é uma palavra que vem de terra, então é derivado. Laranjal é uma palavra que vem de laranja. Então, igualmente, é derivado. Então, entendeu os derivados?
 __ Bem, em Ciências, ouvia a professora dizer que o iogurte é derivado do leite, então o substantivo derivado é os que se formam a partir dos primitivos, como mesário, livraria e floresta, assim como terreno e laranjal!
__ Nossa, você é boa nisso filha, mas vamos ao substantivo final? O coletivo. Sabe o que é?
 __ É aquele que dividimos com os outros?
__ Não, filha! Diz Nicole, rindo. É aquele que indica uma coleção, um conjunto de seres, bem como multidão, constelação, manada... Agora, que tal fazermos, já que acabamos, uma mini-prova?
 __ Oba!!!!
 Alicia fez a avaliação, mas na hora de sua mãe corrigir lhe deu um arrepio. Vai que, por um azar, sua nota baixasse? Até que sua mãe falou:
__ Alicia, venha aqui um minuto!
 Alicia se dirigiu a mãe com uma pontinha de medo, mas foi só por um instante, após as palavras reconfortantes da mãe:
 __ Alicia, parabéns! Pode comemorar o seu 10,00, pois você merece. Sei que se esforçou. Te amo, meu amor. Mamãe sempre vai ter orgulho de você. Parabéns, Alicia!!!!!
 __ Obrigada, mamãe!
 Então, depois deste  dia, Alicia nunca mais levou como exemplo a inveja por Lulanda, mas sim, o que aprendeu naquele dia: a magia do conhecimento!