terça-feira, janeiro 16, 2018

Aparados da Serra

Minha viagem nas (merecidas) férias: Aparados da Serra!

Já estávamos ensaiando muito tempo uma viagem: não a trabalho, não por obrigação. Uma viagem prazerosa, enfim, depois de tantas “obrigatórias”. Sonhamos primeiro ir para o Peru, mais especificamente conhecer Macchu Picchu; depois, desejamos a Chapada dos Veadeiros, em Goiás; depois, a Serra da Bodoquena, em Bonito. Por fim, decidimo-nos por um destino mais próximo, mais acessível e com a possibilidade do percurso ser feito em menos tempo e tornando, portanto, a estadia mais longa. Sim! Nosso destino foi os Aparados da Serra, em Cambará do Sul-RS.
Resolvemos sair de casa com dois motivos principais: aproveitar as férias e fugir da infestação de baratas aqui do condomínio (olha só que condomínio legal! Além de não poder brincar com outras pessoas, não poder fazer quase nada- como escrevi em http://blogdetextosdabia.blogspot.com.br/search?q=Um+condom%C3%ADnio+esquisito -, o aluguel é uma facada e está cheio de baratas! Uhu!). Uma dedetização foi realizada no dia 8/01, e fizemos nossa própria dedetização em casa, com o fumigante da Jimo (super eficiente, recomendo), portanto, saímos de casa meio que correndo para não respirarmos aquele fumacê.
Primeiro passo: arrumar as malas! Levamos em consideração que (por nossa longa experiência no RS) as estações são sempre extremas. O calor é de desmaiar, o frio de congelar. Como meu pai diz “calor de desmaiar batista” e “frio de renguear cusco”! Como estamos no verão, levamos apenas roupas de verão: shorts, blusinhas, chinelos de dedo... E nenhum casaco. Grave isso, será útil lá na frente.
Saímos de casa dia 6/01 e voltamos dia 11/01, ou seja, ontem á noite. Bem, saímos bem cedinho: a primeira parada seria em Anitápolis, para conhecermos o lugar melhor. Chegando lá (depois de, no máximo, três horinhas de carro), fomos descobrir melhor os 70 hectares da fazenda onde nos hospedamos (Pousada Recanto das Cachoeiras, tudo muito simples e aconchegante, porém, com cafés e demais refeições pobres e pouco variadas). Ficamos por dois dias fazenda carinho em coelhos, comendo mel do favo, percorrendo duas das 10 cachoeiras da propriedade e passando muito, MUITO frio. E o casaquinho que é bom? Nada... Mas deu para sobreviver.
Saímos de Anitápolis, passando por Braço do Norte, São Ludgero, Orleans, Bom Jardim da Serra, São José dos Ausentes e, aleluia, chegamos a Cambará do Sul. Ah, mas não foi assim, simplesmente! Escolhemos esse trajeto para passarmos pela Serra do Rio do Rastro, uma das estradas mais perigosamente belas de SC. Bem, quanto ao “belo”... Ficou só na imaginação. Adivinha o que vimos? Uma bela de uma viração! Beeeeem branquinha, tapando totalmente a visão bela que teríamos em outra ocasião. Nessa altura, já estava muito frio (claro, a chuva e o vento contribuíram muito...), e o casaquinho? Nada.
Uma parada para comer num restaurante amigável, com moedas estrangeiras em quadros distribuídos pela parede (meu lado apaixonado pela numismática pirou!). Depois, MUITA estrada de chão... Alguns comentários na internet dizem: “ah, estrada muito ruim, vão apenas de 4x4”. Cara, besteira. Nós estávamos com um Gol bolinha de 2004, mais velho que eu, e passamos por toda a estrada sem nenhum problema (enquanto uns Audis, Harley-Davidsons e Fords estavam fumegando no acostamento da estrada).
Eu dormi por uma boa parte do trajeto, acordei com a voz de duas pessoas: ambos fornecendo informações para meus pais. Logo, paramos num posto de gasolina (gasolina caríssima, sou do tempo em que a gasolina custava dois e pouco) e seguimos até São José dos Ausentes. Um resumo da cidade? Pense em uma rua. Pense em meia dúzia de casas. Pense que as 6 casas nessa rua estão caindo aos pedaços. Pense que, nessas 6 casas nessa rua que estão caindo aos pedaços não tem nenhuma alma viva (quem dirá morta!). Pense que realmente existem as 6 casas nessa rua que estão caindo aos pedaços sem uma alma viva, só que a cerração é tão fechada que não conseguimos ver absolutamente nada!
Caráter educativo da viagem: agora tenho em mente o que realmente é um latifúndio! Queridxs estudantes leitorxs do meu blog: um latifúndio é uma porção de terra gigante, que tu anda, anda e anda e não acaba mais; nessa terra gigante, pode crer que não vais encontrar ninguém além dos peões de fazenda; e nessa terra grandíssima só encontrará gado, uma vegetação muito rasteira e taipa. Taca-le taipa nesse latifúndio velho! Taca-le taipa! (Taipa, para quem não sabe, é um muro feito de pedras empilhadas por, provavelmente, escravos que receberam esse castigo monótono).
Achei curioso também o nome das fazendas: Fulando de Tal, Beltrano de Tar, Cicrano de Tac... Só nomes imponentes e masculinos. Será que não tem mulher nessas fazendas não? É como eu estava lendo no livro “Os Homens Explicam Tudo Para Mim”, de Rebecca Solnit em um dos trechos: “Pelo casamento, o marido e a esposa constituem uma só pessoa perante a lei: isto é, o próprio ser ou a existência legal da mulher fica suspenso durante o casamento, ou, pelo menos, é incorporada e consolidada no do marido; sob cuja asa, proteção e cobertura, ela executa tudo [...]”. Creio que, em casas em que os números 16, 15 e 14 estejam grudados em cada vidro (números eleitorais, ainda da época de campanha de certos porcos) seja assim. Aliás, brinquei com minha mãe que retrocedíamos no tempo a cada vez que a numeração baixava: século XVI, século XV, século XIV.
Chegamos ao chalé da Pousada Brisa dos Canyons, comemos e descansamos. Tive que dormir num beliche (na parte de baixo), e meu conselho é que, se tiveres opção, durma na parte de cima. No dia seguinte, fomos ao cânyon Fortaleza, mas não chegamos a fazer as trilhas para ver os paredões. A chuva e a neblina eram tantas que não se via um palmo na frente do nariz. Fomos, então, para um canyon mais “fofinho”: o do Itambezinho, com trilhas demarcadas, gente pra caramba (apesar de ser “baixa temporada” no verão) e MUITA neblina. É necessário muita persistência para poder se enxergar uma pontinha de nada de um abismo incrível...
Única reclamação: as estradas e os acessos para os tais cânyons. O turismo para os cânyons, conforme visto nessa viagem, acontece o ano inteiro, em todas as estações! Não é necessário um “reparo” nos cânyons, eles sempre estarão lá! Não é como aqui em Floripa, que sempre que a maré sobe a prefeitura faz os devidos (ou deixa de fazer) reparos nas praias, fazer as barreiras de contenção, os banheiros (pagos, e só tem banheiro em algumas praias do Norte e na Joaquina) etc. Lá não! Não precisam “aumentar” ou “diminuir” um cânyon, e levando em conta que eles pedem “doações espontâneas” toda vez que alguém passa pela guarita para entrar no parque, os acessos deveriam NO MÍNIMO serem asfaltados e muito bem sinalizados.
Nesse mesmo dia, paramos no Aparados da Serra Park, atraídos pelos passeios à cavalo que eu estava a muito tempo a fim de fazer. Lá, conversamos com a simpática Carol (praticamenteverde@gmail.com para mais contatos, vale realmente a pena conversar com alguém tão simpático como ela) e fizemos um passeio a cavalo de 1hr. Andei na égua Anna (meu pai costuma dizer que não gosta muito de cavalos porque possuem aquele “acessório” extra) e vi a cidade de cima. Não é exatamente uma visão de Florianópolis, mas as cidades pequenas tem o seu charme...
Voltamos novamente ao cânyon Fortaleza, dessa vez abaixo de chuva (compramos as capas). Surpresa! O Fortaleza estava completamente limpo! Sem nenhuma neblina! Vimos o rio serpenteando lá embaixo, vimos a vegetação crescendo sob a pedra, vimos aquele perau de mais de 900m de altura! Em determinada parte, meu pai disse: “parece que ele nos atrai para baixo”... É a gravidade, não? Mas grave mesmo seria se alguém caísse dali... Enfim, não há palavras para descrever como é estar perante um cânyon, perante uma força contra qual é inútil lutar. Se falar para alguém “Ah, eu vi um cânyon de quase 1km de altura, vi vegetação na pedra e tinha tanta neblina que tapava completamente esse cânyon de 1km”. Me diz, QUEM vai acreditar nisso? Isso é uma daquelas coisas que só vendo para crer mesmo...



Nossa estadia nesse lugar maravilhoso chega ao fim... Voltamos pela estrada asfaltada (ufa), demos uma passadinha em Torres, lavamos o carro e visitamos uma velha amiga. Logo partimos para casa, dando uma parada em Garopaba: compramos os Long Johns (surf garantido no inverno!!!! Uhu!!!!!!) e fomos, aleluia, para casa. Chegando no apê, olha que surpresa bacana nos esperava na porta da entrada! Baratas! (Pelo menos estavam mortas). No dia seguinte limpamos tudo e aos poucos retomamos nossa rotina, ainda pensando em cada cachoeira, cada pousada e cada pessoa que conhecemos no nosso trajeto. Afinal, eu concordo que, para onde quer que vamos, levamos um pouco dos outros e deixamos um pouco de nós.