sábado, janeiro 27, 2018

Um chinelo especial

O que pode ser especial para você? Alguma roupa, algum objeto, alguma pessoa importante? Pois para mim especial é tudo aquilo que me faz feliz, que me faz sorrir, que me faz pensar, não necessariamente nessa ordem. Incrivelmente, hoje me dei conta de que tenho muitas coisas assim, e não só objetos! Minha mãe, meu pai, amigos... E um chinelo. Exato, um chinelo! Que já tem toda uma história aqui em casa...
Encontramo-lo na calçada da rua do nosso prédio, enquanto ainda estávamos em Xanxerê, quando voltávamos de uma rotineira caminhada pela estrada da vida. Estava sem tiras, sujinho e um pouco gasto, mas como minha mãe precisava de um chinelo e como meu pai é econômico... Resolvemos recolhê-lo. Colocamos tiras, limpamos e tcharam! Minha mãe ganhou um chinelo, que já está aguentando por três anos as caminhadas que fazemos para fugir um pouco de tudo isso que está acontecendo no país e no mundo.
Hoje pela manhã fomos dar uma escapulida de casa para ver uma calça para mim, e costumeiramente minha mãe e eu fomos de chinelo (o pai não foi na caminhada). Como o meu chinelo (cheio de voltas, florezinhas e tudo o mais que serve apenas para machucar o pé) estava incomodando, resolvi trocar com o da mãe (simples, prático e confortável chinelo achado na rua).
Voltando para o prédio, subimos, como de costume, pela escada. E o chinelo, cheio de consertos e remendos, me deu um grande susto! Como a tira estava escapulindo, meu pai arrumou um pedaço de borracha embaixo dele, o que o impedia de escapar cada vez que a mãe trocava de passada, e esse pedaço de borracha também fixava o chinelo no chão (impedindo alguns tombos), e quando fui puxar o pé para subir mais um degrau... PLOP! O “dispositivo de segurança” foi acionado, me dando um belo susto e me fazendo rir.
Depois mais, pensei realmente que o chinelo era especial. Foi achado no lixo: poderia ter sido pego por outra pessoa antes de nós, poderia ter parado num lixão, poderia ter ido ao aterro sanitário. Poderia ter sido jogado lá por uma madame que usou duas vezes e enjoou, poderia ter sido jogado por um morador de rua, poderia ter caído do caminhão das Havaianas. Aliás, uma coisa que acontece muito aqui na beira-mar: consumo exacerbado.
Quando passamos pela lixeira do prédio ao lado (sempre fechada para evitar que moradores de rua, ou a pária da sociedade na opinião deles, durma lá), vemos caixas e caixas de vidros do mais caro vinho (brincamos: esse pessoal toma vinho ao invés de água?), sacos e sacos de roupas boa e nova (“Hmm, usei só uma vez, mas já enjoei, já saiu de moda, tá cafona, e por falar nisso, abriu uma nova loja no shopping que tem uma blusinha que é um mimo e...”) e geralmente um móvel que parece recém saído da loja (“Não gostei muito do tamanho do pé esquerdo desse rack, vou mandar fazer um sob medida, esse eu coloco no lixo porque não gosto e não porque tá quebrado”).
Gente, achamos um chinelo no lixo!, demos utilidade para ele, estamos reparando cada probleminha que acontece com tudo aqui em casa (carro, roupa, etc) e não jogando fora! Aquela borrachinha na sola do chinelo me fez ser feliz por um momento, me fez rir, me fez pensar.
 É notável que, comprando uma blusinha nova ou encomendando um rack sob medida, á longo prazo, você não vai ser feliz! É apenas uma compra, uma euforia, um desejo momentâneo! Como minha mãe disse á muito tempo (mas que vivo lembrando para mim e para os outros), come uma cenoura que passa. Não é realmente necessário ter o carro do ano. Nem a blusinha da moda. Porque, apesar das ilusões que os outros impõem para você e as ilusões que são impostas de tu para ti mesmo, aquilo não traz felicidade. Traz consumismo, alienação e lixo.
Enfim, o chinelo achado no lixo me fez feliz. Fez-me pensar. Fez-me sorrir. Uma coisa tão simples dessa rendeu tudo isso que acabastes de ler. Afinal, as coisas que realmente nos trazem felicidade na vida são as mais simples. Tens certeza que o chinelo não é, realmente... Especial?

segunda-feira, janeiro 22, 2018

Cenas do cotidiano VI

Uma tartaruga no meu laguinho?

Há quatro dias frequentamos
O mesmo laguinho nas dunas
E certamente já nos apegamos
Àquelas boas horas oportunas

No quarto dia, não se espante!
Tivemos uma grande surpresa
Já havia um novo ocupante
Na nossa pequena represa

Já havia cavado buraco
Estava tranquila nadando
Eu quis armar um barraco
Mas sem á tartaruga causar dano

Eu fiquei muito chateada
Por não poder mais lá nadar
Já estava bem mais habituada
Outro lugar teria que procurar

Penso como aconteceu
Como ela parou no lago?
Junto com as chuvas desceu
E logo achou aquele lugar vago?

Ou alguém que já não estima
Resolveu a tartaruga lá largar
Animal suscetível ao clima
Resolveu naquela lagoa se refrescar

Mas não só com tartarugas acontece
Com outros animais também
Que é um ser vivo, o homem esquece
E o animal fica sem ninguém

No dia seguinte ligamos
Para o projeto Tamar
Eles disseram: “vamos”
“vamos aquele bicho salvar”

Hoje, visitaremos com apreço
O projeto Tamar
Se vir uma tartaruga, lhe peço

Deixe a tartaruga nadar!