domingo, fevereiro 26, 2017

Trabalho Infantil, dessa vez, realidade

Trabalho Infantil, dessa vez, realidade

Trabalho infantil. Já refletimos sobre esse tema no blog, mas hoje não é apenas teoria (http://blogdetextosdabia.blogspot.com.br/2015/07/trabalho-infantilvoce-apoia.html) É realidade. Dessa vez, nenhuma das situações que exemplificamos. Foi um menino cuidando do estacionamento, que realmente sabia como conversar (ou passar a conversa).
Numa das inúmeras idas à praia x de Florianópolis, estacionando sempre no mesmo cantinho (parecia que ele estava sempre reservado para nós...), quando papai estava parafusando as quilhas na nossa prancha, aquele menino chegou como quem não quer nada. Pediu se queríamos que ele cuidasse nosso carro, e papai, com uma pulga atrás da orelha, disse “quem sabe”. O menino disse um “tchau” e foi correndo de volta para onde veio.
Pegamos onda, mar muito gelado (meus pés estavam quase roxos, e as mãos brancas como cera e enrugadas), voltamos para o carro e já levantamos a questão do menino. O que faríamos? Diríamos que não? Daríamos dinheiro? Ou apenas enrolaríamos e no fim, iríamos embora sem tocar no assunto? Ou, ainda, relataríamos à situação à polícia no posto policial daquele local? Estávamos quase resolvidos a fazer isso, porém pensamos: "O que a polícia faria?" "Reprimira o garoto?" "Farai alguma coisa para de fato o ajudar?" A única coisa que tínhamos certeza era de que ele voltaria.
Dito e feito. O garoto voltou, e estava com uma conversa... Pronta? Ensaiada? Decerto vira que papai era um pouco desconfiado/difícil. Começou perguntando como tinha sido a praia. Respondemos, e foi nossa vez de perguntarmos sobre ele: nome, idade, se estudava, o que fazia com o dinheiro que ganhava ali. Seu nome era E. (não quero dizer seu nome completo, então digo apenas a inicial), tinha 14 anos, estudava, mas a escola estava em greve. Estava sem aula por conta de um Pacotão de Maldades do prefeito.

No ponto de vista do menino, estava sem aulas por causa dos professores, que não queriam dar aula. Do ponto de vista social, tanto ele (e outras crianças vítimas de trabalho infantil), como os professores e nós estão sendo alvos de desgoverno que oprime os trabalhadores e seus filhos, obrigando-os a buscar formas de sobrevivência que os oprime e impede o desenvolvimento, como é o caso de E. E nós achamos isso tão normal, quando deveria ser a coisa menos vista e aceita do mundo. Como prostituição, tema de nosso próximo texto no blog.