sexta-feira, novembro 27, 2015

Curitiba, Paraná.
Viagem. Assim que minha mãe coloca na cabeça de viajar para algum lugar, não teima: ela vai e ponto final. Dessa vez, era para um evento em Curitiba, Paraná. Deu um pouco de briga pela nossa situação financeira, mas em 11 anos de casado, meu pai ainda não aprendeu que contrariar a mãe é meio complicado. Levando pelo bom lado, conheceríamos o Jardim Botânico. Iríamos para um lugar diferente, e era isso que importava.
Preparamo-nos, e, enfim, viajamos. Minha bagagem foi pouca: uma gatinha, Lila; três travesseiros; um cobertor e um baú, cheio de tranqueiras. Isso sem contar do Sansão e da Dalila, dois bichinhos de pelúcia da Turma da Mônica. A viagem de ida foi até legal, vimos várias árvores, e a estrada era boa. Acho que se meu pai largasse nosso Gol com a direção reta, ele ia sozinho, porque as estradas do Paraná, diferentemente das nossas, são retas e sem nenhum buraco. Depois de aguentar umas 6 ou 5 horas dentro do carro, e de nos perdermos na entrada, chegamos em Curitiba. Dois milhões de habitantes! Não era de se admirar que, com tantas pessoas, tivesse tanto prédio. Fomos procurar a UTFPR, onde a mãe tinha o evento, e ficamos por lá. Almoçamos num restaurante vegetariano (só de escrever me dá água na boca). Voltamos para o carro (de barriga cheia) e dirigimo-nos para o hotel. Chegamos lá e a aparência inicial não era muito agradável, com pessoas estranhas rondando o hotel e pessoas na frente fumando. Já ficamos desconfiados. Indo até a recepção, recebemos a péssima notícia de que não havia reserva nenhuma computadorizada no nome de minha mãe. E sabemos que Curitiba é capital, e que, nas capitais, era muito difícil arrumar hotel se já não tivesse reservado. Por sorte (que depois viraria em azar), havia um apartamento disponível, e que poderíamos olhá-lo. SURPRESA! Chegando lá, era um lugar simplesmente pior que se comparado a bos__. Poderia até ser legal, se não fosse apartamento de PULGA e se se não fosse tão... Tão “trash”. Lixo. Então desanimamos, e paramos num restaurante para pedir informações da localização de um hotel. Sugeriram-nos o Íbis. Centro. Chegando lá, não tinha apartamento disponível. E, como em Curitiba há uns 5 Íbis, fomos e outro. No bairro Batel. E TINHA! Entramos lá e a primeira coisa que eu vi foi um cofre. Sério, cofre num hotel? Mas fazer o quê? Era a primeira vez na minha vida que eu tinha visto um cofre. Coloquei um fio de cabelo e tranquei. Coloquei a senha (1234) e destranquei. Fiz isso vária vezes até provar a mim mesma que era confiável. Até que eu pedi para meu pai o pente. E tranquei-o lá dentro. Digitei novamente 1234 e tranquei. Chamei minha mãe para me ver destrancar, digitando novamente 1234 e puxando. Não abriu. Tentei novamente mais duas vezes e nada. Daí eu vi um bilhete grudado no cofre:
“Após três tentativas de senha com a mesma errada, o cofre se abrirá após 30 minutos.”
Aí eu pensei: “putz!”. Como eu abriria? Meu pai disse para esperar os 30 minutos, mas eu desconfiei: o cofre certamente NÃO se abriria.  Deitei relutante na minha cama-mesa (que meu pai delicadamente apelidara de “Caixão” da Bianca) e adormeci. Umas quatro horas depois, acordei e a primeira coisa que fiz foi olhar o cofre: e não deu outra.  Ele não se abriria depois de 30mins. Era uma NOVA TENTATIVA A QUE TÍNHAMOS DIREITO! E eu não lembrei a senha. Até resolvi chamar um funcionário do Íbis que, delicadamente me chamara de “purguinha” e nos dissera que outra “purga” tinha trancado o controle da televisão no cofre.
À noite, comemos e dormimos. O mesmo decorreu no dia seguinte, mas a mãe fez o curso. Esse dia eu posso dizer que foi bastante corrido, e eu não me lembro de muita coisa. Mas de uma que lembro era da nossa caminhada. Uma coisa que me entristeceu: moradores de rua. Havia uma mulher dormindo, e um gatinho em cima dela, lambendo-se. Aí eu pensei: as pessoas quase pisam em cima da mulher, e o fiel gatinho dá mais importância para ela do que seus iguais. Ora, a mulher nem tinha condições de cuidar de si mesma, e cuidava de um gatinho. Isso que é coração, isso que é fidelidade. E minha mãe desatou a chorar.
No dia que se seguiu, foi, em minha opinião, o mais legal de todos. Sabe por quê? Fomos ao Jardim Botânico! Pegamos novamente a estrada e o meu roller. Chegamos lá depois de congestionamento. Mas valeu a pena: o que vimos foi nada mais, nada menos do que magnífico. Flores por todo o lado, pedras cruzando riachos, a incrível estufa de flores em forma de castelo, fontes e até um tipo de açude. No meio da ponte de madeira, que era magnífica, nós vimos na margem, dois patos, uma pomba, duas tartarugas e um peixe que estava, no momento, meditando, meio zen. Cruzando um pouco mais pertinho da mata, vimos uma saracura! Mas nem tudo dura para sempre fomos embora levando um pouquinho daquele lugar conosco e deixando um pouco de nós. Na volta, dentro do carro, brincamos de pique-esconde e a única regra era que só valia dentro do carro. Mas valeu a pena pelas risadas.
“A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos não é o que vemos, senão o que somos.”

Fernando Pessoa