Vida de Bombeira... Você acha que é
fácil?
Esta
é a história de Stephanie, um bombeira, que corajosamente deu sua vida para
salvar outras três. Ficou curioso? Vamos conhecer um pouquinho mais...
Stephanie
recém havia aberto um olho. Era tarde, quase meio dia. Mas nada que se
justificasse: Stephanie dava duro, dia e noite, penando na mais bela profissão
de salvar vidas. Saiu de sua cama, dando adeus ao calorzinho enroscado nas
cobertas, e já foi se vestindo. Era sábado, ainda bem, pois se não, Stephanie
estaria atrasada para o trabalho. Ser bombeira não era fácil. Ela, já
planejando o resto de seu dia, decidiu-se ficar no seu pequeno apartamento em
Florianópolis, beira-mar norte. Limpá-lo-ia com cuidado; tiraria o pó de tudo;
lavaria a sacada e, por fim, daria uma pequena arrumada nos seus objetos, já
bagunçados por sua irmãzinha, que adorava mexer no seu quarto de brinquedos e,
de vez em quando, nas suas roupas e coisas de trabalho.
Quando
acabou de arrumar tudo, dirigiu-se ao banheiro, onde se despiu e tomou um
banho, com água fria para acordar e deixá-la disposta. Enrolada numa toalha,
Stephanie dirigiu-se ao quarto, onde colocou seu jeans novo e uma camiseta de
manga comprida, estampado com um boneco de neve, recordando-a de filmes que
vira do Himalaia e do monte Everest. Então, deixou-se conduzir-se pelas pernas
a seu nécessaire, e depois para seu
quarto, onde o espelho a aguardava, ansioso para perceber o resultado final.
Passou batom cor de boca com gloss, rímel,
blush, lápis de olho, sombra azul (para combinar com a cor de sua camiseta) e,
para finalizar, colocou seus melhores brincos: eles não eram rosas, nem azuis,
mas um equilibrado tom entre os dois, mesclando dourado nos pequenos detalhes. Tudo
isso ainda com um lindo brilhante, colocado com delicadeza, no fim de cada um.
Era o seu brinco predileto.
Mas,
você, leitor (a), deve estar perguntando-se para que tanta produção, uma vez
que Stephanie quase nunca se maquiava. Muito simples: naquele dia, Stephanie
teria uma festa, feita com todo o carinho pela sua avó, homenageando-a pelos
seus três anos salvando vidas. Porém, Stephanie não gostara muito da ideia de
sua avó de fazer um baile para sua homenagem. Stephanie sempre odiara dançar,
vez por outra que não dançava bem. Mas vó é vó. Principalmente na cabeça de
Annie (nome da avó), que achava que um dia a neta teria de “desencalhar”. Ainda
viva Annie gostaria de ver um monte de bisnetos correndo por sua casa, fazer
comida para eles e, principalmente, pentear o cabelinho das meninas com todo o
cuidado, decorando-os com laços, topes e tique-taques. Também queria vesti-las
com amor e carinho, educá-las, ensinar-lhes o que sabe, para que um pouquinho
de si ficasse no coração deles, quando morresse. Queria ser lembrada por todos,
como uma boa velhinha.
Saindo de sua casa, não se esquecendo de
trancar a porta, Stephanie saiu rumo ao estacionamento privado do apartamento,
dirigindo-se automaticamente para seu carro (uma Ferrari GT, já que sua dinda
era milionária e lhe dera o carro de presente, quando completou dezoito anos),
onde colocou a chave na porta, abrindo o carro. Sentou-se, já com ar cansado,
no banco de seu carro. Pudera! Ela ainda iria dar carona para Camilla, uma
velha amiga de escola. E depois ainda ter de dirigir para a casa de sua avó...
Era uns trinta quilômetros apenas para chegar à casa de Annie. Mesmo cansada,
Stephanie deu uma boa fungada no ar, enchendo seus pulmões de oxigênio. Então,
deu marcha ré e conduziu o carro para o portão da garagem, que já estava
abrindo-se. Depois de dar um último adeus ao seu apartamento, foi-se, em alta
velocidade, para o outro lado da cidade, já que Camilla lá morava. Chegando à
casa de Camilla, a mesma cumprimentou-lhe, com um contagiante ar de animação:
__
Olá! Tudo bem? E então? Não deveria estar feliz, em vez de estar com esta cara
birrenta?
__
Oi. Não adianta tentar me animar, Camilla. Você sabe que dançar não é, nunca
foi e nunca será o meu forte.
Respondeu
Stephanie, com ar de desaprovação.
__
Ui! Você está mais zangada do que em qualquer outra vez que eu já te vi...
Disse
Camilla, um pouco triste com a resposta da amiga, já que a mesma deveria estar
mais animada para a realização de uma festa, feita especialmente para ela.
__
Bom, eu acho que você, então, não irá querer me ver um pouquinho mais brava,
quando você falar mais uma palavra.
Falou
Stephanie, mais depressiva ainda, com a voz ameaçadora.
__
Eu só queria te animar um pouquinho...
Sussurrou
Camilla, já contagiada pelo mau humor de Stephanie, já entrando no carro.
__
Me parece que você comprou pneus novos para a sua Ferrari. E um GPS novo
também.
Disse
Camilla, tentando distrair sua amiga, pelo menos um pouquinho.
__
É mesmo. Sabe, quando os pneus já têm no máximo uns seis meses de uso, prefiro
trocar. É que, sabe, quando se trata de uma Ferrari, você tem que caprichar.
Isso sem falar que tenho pouco tempo para limpar, cuidar, renovar... O GPS eu
comprei novo, sim. O meu velho já tinha um risquinho na tela, então eu achei
que seria bom trocar. Gosto de tudo novo na minha Ferrari...
Nesse
meio tempo, Camilla pensou: então,
imagina se tivesse tempo para cuidar da Ferrari! O carro seria um brinco!
Funcionou.
Quando se tratava de carro, Stephanie se animava e assunto sobre isso não
faltava. É que Stephanie era obcecada por vários modelos de carros, e ainda era
mais apaixonada pelos detalhes, cor, modo do cuidá-los... Depois que o assunto
sobre carros foi levantado, Stephanie foi tagarelando sobre o mesmo os trinta
quilômetros inteirinhos! Porém, ao chegar à casa de sua avó, Stephanie percebeu
que havia sido enganada. Camilla tinha conseguido entretê-la a viagem inteira,
não dando tempo para Stephanie pensar no baile, muito menos no seu mau humor.
As duas foram saudadas por Annie, já ansiosa pela chegada das mesmas:
__
Olá, Camilla! Como vai?! Oi, Stephanie! O que foi com ela, afinal, Mila?! Um
bicho a mordeu?!
__
Não, Sra. Annie. É que, sabe? Ele detesta profundamente bailes...
Responde
Camilla, quase sem jeito pela má atitude da amiga, sem cumprimentar a avó e
demonstrando o mau humor, assim, transparentemente.
__
Ah! Eu entendo... Mas um dia ela terá que remexer um pouco a melena! Irrita-me
que ela não saiba dançar!
Disse
Annie, um pouco irritadiça demais.
__
Humm... E por falar nisso, parece que mais um convidado chegou!
Falou
a avó, ao ver mais um carro se aproximar.
__
Mais um? Vovó, quantas pessoas a senhora convidou?
A
voz de Stephanie estava quebradiça e, ao mesmo tempo, irritada. Ela odiava,
além de dançar, público até demais.
__
Deixe-me ver... Acho que foram umas noventa pessoas, senão cem. Mas acho que
foram cem mesmo...
Annie
disse pouco entusiasmada. É que suas festas costumavam ter mais de cento e
cinquenta convidados, sem contar os familiares. Stephanie ficou furiosa, mas a
frustação a deixou abalada demais para fazer qualquer coisa que não fosse ficar
calada, imóvel no mesmo lugar.
__
Isso, querida netinha, sem contar com as pessoas que eu convidei que você não
conhece. Sabe, Stephanie, eu queria que esta data fosse especial para você.
Dessa
vez, Stephanie conseguiu falar, apesar de continuar sem piscar:
__
Quantas pessoas você convidou que eu não conheço?
A
voz de Stephanie estava falhando. Apesar de ter feito a pergunta, ela pouco
queria saber da resposta.
__
Deixe-me ver... Acho que umas vinte, ou trinta. Possivelmente, quarenta e nove.
Com este convidado que chegou agora, digo que são uns cinquenta.
Respondeu
a avó, divertida com o pasmo olhar acompanhado com a boca boquiaberta da neta.
Stephanie nada falou: apenas acompanhou o estranho convidado de sua avó saindo
do carro elegantemente disfarçado na noite.
__
Boa noite, Sra. Annie. Que prazer em revê-la! Humm, esta deve ser sua neta de
que tanto fala não é mesmo?
__
Claro! Claro! Stephanie quero te apresentar Erik, um amigo meu.
__
Olá, Erik.
__
Olá, Stephanie. Estou encantado com tamanha beleza.
__
E eu, com tamanho cavalheirismo!
__
Bem, podemos dizer que... É meu sobrenome. Aliás, qual é a sua idade?
A
voz de Erik era doce, espalhando um breve aroma de mel no ar, encantando
olfatos alheios. Seus olhos, verdes como a mais pura grama recém-plantada,
combinavam com o cabelo louro, moldado em forma do mais belo topete, feito
cuidadosamente com o gel de melhor qualidade. Ao mesmo tempo em que Stephanie
pensava em tudo isso, Erik também notava cuidadosamente os detalhes do rosto
dela. Seus cabelos ruivos como a mais pura chama de fogo modelavam o rosto,
caindo-lhe até as costas, crespos. O tom de sua voz era um pouco irritado, mas
surpreso, com o hálito de chá de limão com gengibre, com um fino toque cuidadosamente
medido de mel. E seus lábios, então! Moviam-se com rapidez, explicando tudo o
que Erik perguntava, interessadíssimo em conhecer a moça de que tanto ouvira
Annie falar. Suas maçãs do rosto combinavam com os olhos, nem azul, nem verde,
mas uma complicada junção das mesmas. O nariz, pequeno, mas grande, fazia uma
perfeita harmonia com a face delicada. Quanto mais Stephanie conhecia Erik,
mais Erik queria conhecer Stephanie.
No
espaço arrumado para cento e cinquenta convidados, Stephanie não se cansou de
admirar cada profundo detalhe, delicadamente e cuidadosamente arrumado pela
avó.
__
Uau, vovó! Esta festa está demais! E este bolo, então?! Adorei essa bombeira
com a mangueira na mão! Como conseguiu fazê-la, manualmente? Cada detalhe...
Stephanie
não parava de se encantar. Camilla até estranhou a alegria excessiva da amiga.
Quando o pessoal se dispersou um pouco, Camilla deu um jeitinho de conseguir a
atenção de Annie para si, conversando com a mesma num lugar reservado da casa:
__
O que deu com a Stephanie?! Ela está alegre até demais! Imagine! Está faltando
apenas cinco minutinhos para o baile e ela não demonstrou nem um pouquinho de
tristeza ou raiva na sua face! O que está acontecendo?! A senhora não colocou
algum tipo de “alegrante” no champanhe, ou no vinho dela, colocou?
__
Ó, Mila! Mas é claro que não! Você já ouviu falar em “amor à primeira vista”? Foi
o que aconteceu com Stephanie e Erik. Ela está feliz ao lado dele e ele, do
lado dela. Ela, finalmente, está feliz!
__
Mas...
__
Nada de “mas”, querida. Volte para a festa.
Dois anos depois...
Annie
estava na festa de casamento de Stephanie com Erik. Sem dúvida, os dois faziam
um casal perfeito. Stephanie, com o longo vestido branco, luvas até os
cotovelos, cabelo delicadamente armado em coque, com uma linda coroa e sapatos
de salto alto (era de cristal verdadeiro, novamente dado pela dinda milionária
como presente de casamento) estava impecável. Sua maquiagem, branca com azul,
era hipnotizante, tanto que Erik não parava de olhá-la. O batom vermelho paixão
dava um toque especial para todo o resto. Novamente, ela estava com o mesmo
brinco rosa azulado que usara quando conhecera Erik. O mesmo, caprichosamente
arrumado, estava com um terno preto bem alinhado, com aparência de que foi,
meia hora antes do casamento, passado de minuto em minuto. Seu cabelo estava
rebelde, sem gel, naturalmente modelando curiosamente a face rosada. Seu sapato
parecia engraxado minuto após minuto um a semana antes do casamento, refletindo
a luz dos delicados lustres que pendiam do teto da catedral. Foi uma cerimônia
maravilhosa.
Quando
se passou cinco dias da lua de mel, Stephanie recebeu uma notícia: havia um
incêndio se alastrando furiosamente por um hotel, onde cinquenta pessoas
estavam hospedadas. Ela estava, como bombeira, sendo convocada para ajudar a
acabar com o fogo, antes que se alastrasse mais ainda, incendiando casas e
postes de luz. Stephanie, obviamente, vestiu-se com a roupa de bombeira, já com
cheiro de naftalina, e conduziu sua Ferrari para o Corpo de Bombeiros, onde um
caminhão a esperava. Chegando ao local do incêndio, Stephanie pode ver a
gravidade do assunto: tudo estava queimando, havia cinzas, e tudo estava quase
impossivelmente QUENTE. Ela, primeiramente, pegou a mangueira extra que havia
trazido, caso houvesse algo a mais, e começou a jogar água, na inútil tentativa
de apagar o fogo. No meio de tudo isso, Stephanie percebeu que alguém, no meio
do fogo, pedia ajuda. Duas... Três pessoas. Ela se empenhou em salvá-las,
atravessando todos aqueles pedaços de madeira e concreto, indo em direção as vozes.
Subiu as escadas furiosamente, até chegar ao último andar, na varanda. Havia
uma família, gritando desesperadamente por socorro. Stephanie, percebendo que
eles logo morreriam (o fogo estava quase chegando a eles), saltou em direção à
família, empurrando-os para fora da sacada, onde uma pessoa do Corpo de
Bombeiros esperava com uma maca. Quando caíram, foram pegos pela pessoa.
Stephanie, nossa querida personagem, não teve a sorte de sobreviver. A mesma
foi engolida pelo fogo, que nunca foi obrigado a devolvê-la, deixando para trás
um rastro de tristeza.
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