domingo, junho 28, 2015

Vida de bombeira... Você acha que é fácil?

Vida de Bombeira... Você acha que é fácil?
Esta é a história de Stephanie, um bombeira, que corajosamente deu sua vida para salvar outras três. Ficou curioso? Vamos conhecer um pouquinho mais...
Stephanie recém havia aberto um olho. Era tarde, quase meio dia. Mas nada que se justificasse: Stephanie dava duro, dia e noite, penando na mais bela profissão de salvar vidas. Saiu de sua cama, dando adeus ao calorzinho enroscado nas cobertas, e já foi se vestindo. Era sábado, ainda bem, pois se não, Stephanie estaria atrasada para o trabalho. Ser bombeira não era fácil. Ela, já planejando o resto de seu dia, decidiu-se ficar no seu pequeno apartamento em Florianópolis, beira-mar norte. Limpá-lo-ia com cuidado; tiraria o pó de tudo; lavaria a sacada e, por fim, daria uma pequena arrumada nos seus objetos, já bagunçados por sua irmãzinha, que adorava mexer no seu quarto de brinquedos e, de vez em quando, nas suas roupas e coisas de trabalho.
Quando acabou de arrumar tudo, dirigiu-se ao banheiro, onde se despiu e tomou um banho, com água fria para acordar e deixá-la disposta. Enrolada numa toalha, Stephanie dirigiu-se ao quarto, onde colocou seu jeans novo e uma camiseta de manga comprida, estampado com um boneco de neve, recordando-a de filmes que vira do Himalaia e do monte Everest. Então, deixou-se conduzir-se pelas pernas a seu nécessaire, e depois para seu quarto, onde o espelho a aguardava, ansioso para perceber o resultado final. Passou batom cor de boca com gloss, rímel, blush, lápis de olho, sombra azul (para combinar com a cor de sua camiseta) e, para finalizar, colocou seus melhores brincos: eles não eram rosas, nem azuis, mas um equilibrado tom entre os dois, mesclando dourado nos pequenos detalhes. Tudo isso ainda com um lindo brilhante, colocado com delicadeza, no fim de cada um. Era o seu brinco predileto.
Mas, você, leitor (a), deve estar perguntando-se para que tanta produção, uma vez que Stephanie quase nunca se maquiava. Muito simples: naquele dia, Stephanie teria uma festa, feita com todo o carinho pela sua avó, homenageando-a pelos seus três anos salvando vidas. Porém, Stephanie não gostara muito da ideia de sua avó de fazer um baile para sua homenagem. Stephanie sempre odiara dançar, vez por outra que não dançava bem. Mas vó é vó. Principalmente na cabeça de Annie (nome da avó), que achava que um dia a neta teria de “desencalhar”. Ainda viva Annie gostaria de ver um monte de bisnetos correndo por sua casa, fazer comida para eles e, principalmente, pentear o cabelinho das meninas com todo o cuidado, decorando-os com laços, topes e tique-taques. Também queria vesti-las com amor e carinho, educá-las, ensinar-lhes o que sabe, para que um pouquinho de si ficasse no coração deles, quando morresse. Queria ser lembrada por todos, como uma boa velhinha.
 Saindo de sua casa, não se esquecendo de trancar a porta, Stephanie saiu rumo ao estacionamento privado do apartamento, dirigindo-se automaticamente para seu carro (uma Ferrari GT, já que sua dinda era milionária e lhe dera o carro de presente, quando completou dezoito anos), onde colocou a chave na porta, abrindo o carro. Sentou-se, já com ar cansado, no banco de seu carro. Pudera! Ela ainda iria dar carona para Camilla, uma velha amiga de escola. E depois ainda ter de dirigir para a casa de sua avó... Era uns trinta quilômetros apenas para chegar à casa de Annie. Mesmo cansada, Stephanie deu uma boa fungada no ar, enchendo seus pulmões de oxigênio. Então, deu marcha ré e conduziu o carro para o portão da garagem, que já estava abrindo-se. Depois de dar um último adeus ao seu apartamento, foi-se, em alta velocidade, para o outro lado da cidade, já que Camilla lá morava. Chegando à casa de Camilla, a mesma cumprimentou-lhe, com um contagiante ar de animação:
__ Olá! Tudo bem? E então? Não deveria estar feliz, em vez de estar com esta cara birrenta?
__ Oi. Não adianta tentar me animar, Camilla. Você sabe que dançar não é, nunca foi e nunca será o meu forte.
Respondeu Stephanie, com ar de desaprovação.
__ Ui! Você está mais zangada do que em qualquer outra vez que eu já te vi...
Disse Camilla, um pouco triste com a resposta da amiga, já que a mesma deveria estar mais animada para a realização de uma festa, feita especialmente para ela.
__ Bom, eu acho que você, então, não irá querer me ver um pouquinho mais brava, quando você falar mais uma palavra.
Falou Stephanie, mais depressiva ainda, com a voz ameaçadora.
__ Eu só queria te animar um pouquinho...
Sussurrou Camilla, já contagiada pelo mau humor de Stephanie, já entrando no carro.
__ Me parece que você comprou pneus novos para a sua Ferrari. E um GPS novo também.
Disse Camilla, tentando distrair sua amiga, pelo menos um pouquinho.
__ É mesmo. Sabe, quando os pneus já têm no máximo uns seis meses de uso, prefiro trocar. É que, sabe, quando se trata de uma Ferrari, você tem que caprichar. Isso sem falar que tenho pouco tempo para limpar, cuidar, renovar... O GPS eu comprei novo, sim. O meu velho já tinha um risquinho na tela, então eu achei que seria bom trocar. Gosto de tudo novo na minha Ferrari...
Nesse meio tempo, Camilla pensou: então, imagina se tivesse tempo para cuidar da Ferrari! O carro seria um brinco!
Funcionou. Quando se tratava de carro, Stephanie se animava e assunto sobre isso não faltava. É que Stephanie era obcecada por vários modelos de carros, e ainda era mais apaixonada pelos detalhes, cor, modo do cuidá-los... Depois que o assunto sobre carros foi levantado, Stephanie foi tagarelando sobre o mesmo os trinta quilômetros inteirinhos! Porém, ao chegar à casa de sua avó, Stephanie percebeu que havia sido enganada. Camilla tinha conseguido entretê-la a viagem inteira, não dando tempo para Stephanie pensar no baile, muito menos no seu mau humor. As duas foram saudadas por Annie, já ansiosa pela chegada das mesmas:
__ Olá, Camilla! Como vai?! Oi, Stephanie! O que foi com ela, afinal, Mila?! Um bicho a mordeu?!
__ Não, Sra. Annie. É que, sabe? Ele detesta profundamente bailes...
Responde Camilla, quase sem jeito pela má atitude da amiga, sem cumprimentar a avó e demonstrando o mau humor, assim, transparentemente.
__ Ah! Eu entendo... Mas um dia ela terá que remexer um pouco a melena! Irrita-me que ela não saiba dançar!
Disse Annie, um pouco irritadiça demais.
__ Humm... E por falar nisso, parece que mais um convidado chegou!
Falou a avó, ao ver mais um carro se aproximar.
__ Mais um? Vovó, quantas pessoas a senhora convidou?
A voz de Stephanie estava quebradiça e, ao mesmo tempo, irritada. Ela odiava, além de dançar, público até demais.
__ Deixe-me ver... Acho que foram umas noventa pessoas, senão cem. Mas acho que foram cem mesmo...
Annie disse pouco entusiasmada. É que suas festas costumavam ter mais de cento e cinquenta convidados, sem contar os familiares. Stephanie ficou furiosa, mas a frustação a deixou abalada demais para fazer qualquer coisa que não fosse ficar calada, imóvel no mesmo lugar.
__ Isso, querida netinha, sem contar com as pessoas que eu convidei que você não conhece. Sabe, Stephanie, eu queria que esta data fosse especial para você.
Dessa vez, Stephanie conseguiu falar, apesar de continuar sem piscar:
__ Quantas pessoas você convidou que eu não conheço?
A voz de Stephanie estava falhando. Apesar de ter feito a pergunta, ela pouco queria saber da resposta.
__ Deixe-me ver... Acho que umas vinte, ou trinta. Possivelmente, quarenta e nove. Com este convidado que chegou agora, digo que são uns cinquenta.
Respondeu a avó, divertida com o pasmo olhar acompanhado com a boca boquiaberta da neta. Stephanie nada falou: apenas acompanhou o estranho convidado de sua avó saindo do carro elegantemente disfarçado na noite.
__ Boa noite, Sra. Annie. Que prazer em revê-la! Humm, esta deve ser sua neta de que tanto fala não é mesmo?
__ Claro! Claro! Stephanie quero te apresentar Erik, um amigo meu.
__ Olá, Erik.
__ Olá, Stephanie. Estou encantado com tamanha beleza.
__ E eu, com tamanho cavalheirismo!
__ Bem, podemos dizer que... É meu sobrenome. Aliás, qual é a sua idade?
A voz de Erik era doce, espalhando um breve aroma de mel no ar, encantando olfatos alheios. Seus olhos, verdes como a mais pura grama recém-plantada, combinavam com o cabelo louro, moldado em forma do mais belo topete, feito cuidadosamente com o gel de melhor qualidade. Ao mesmo tempo em que Stephanie pensava em tudo isso, Erik também notava cuidadosamente os detalhes do rosto dela. Seus cabelos ruivos como a mais pura chama de fogo modelavam o rosto, caindo-lhe até as costas, crespos. O tom de sua voz era um pouco irritado, mas surpreso, com o hálito de chá de limão com gengibre, com um fino toque cuidadosamente medido de mel. E seus lábios, então! Moviam-se com rapidez, explicando tudo o que Erik perguntava, interessadíssimo em conhecer a moça de que tanto ouvira Annie falar. Suas maçãs do rosto combinavam com os olhos, nem azul, nem verde, mas uma complicada junção das mesmas. O nariz, pequeno, mas grande, fazia uma perfeita harmonia com a face delicada. Quanto mais Stephanie conhecia Erik, mais Erik queria conhecer Stephanie.
No espaço arrumado para cento e cinquenta convidados, Stephanie não se cansou de admirar cada profundo detalhe, delicadamente e cuidadosamente arrumado pela avó.
__ Uau, vovó! Esta festa está demais! E este bolo, então?! Adorei essa bombeira com a mangueira na mão! Como conseguiu fazê-la, manualmente? Cada detalhe...
Stephanie não parava de se encantar. Camilla até estranhou a alegria excessiva da amiga. Quando o pessoal se dispersou um pouco, Camilla deu um jeitinho de conseguir a atenção de Annie para si, conversando com a mesma num lugar reservado da casa:
__ O que deu com a Stephanie?! Ela está alegre até demais! Imagine! Está faltando apenas cinco minutinhos para o baile e ela não demonstrou nem um pouquinho de tristeza ou raiva na sua face! O que está acontecendo?! A senhora não colocou algum tipo de “alegrante” no champanhe, ou no vinho dela, colocou?
__ Ó, Mila! Mas é claro que não! Você já ouviu falar em “amor à primeira vista”? Foi o que aconteceu com Stephanie e Erik. Ela está feliz ao lado dele e ele, do lado dela. Ela, finalmente, está feliz!
__ Mas...
__ Nada de “mas”, querida. Volte para a festa.

Dois anos depois...
Annie estava na festa de casamento de Stephanie com Erik. Sem dúvida, os dois faziam um casal perfeito. Stephanie, com o longo vestido branco, luvas até os cotovelos, cabelo delicadamente armado em coque, com uma linda coroa e sapatos de salto alto (era de cristal verdadeiro, novamente dado pela dinda milionária como presente de casamento) estava impecável. Sua maquiagem, branca com azul, era hipnotizante, tanto que Erik não parava de olhá-la. O batom vermelho paixão dava um toque especial para todo o resto. Novamente, ela estava com o mesmo brinco rosa azulado que usara quando conhecera Erik. O mesmo, caprichosamente arrumado, estava com um terno preto bem alinhado, com aparência de que foi, meia hora antes do casamento, passado de minuto em minuto. Seu cabelo estava rebelde, sem gel, naturalmente modelando curiosamente a face rosada. Seu sapato parecia engraxado minuto após minuto um a semana antes do casamento, refletindo a luz dos delicados lustres que pendiam do teto da catedral. Foi uma cerimônia maravilhosa.
Quando se passou cinco dias da lua de mel, Stephanie recebeu uma notícia: havia um incêndio se alastrando furiosamente por um hotel, onde cinquenta pessoas estavam hospedadas. Ela estava, como bombeira, sendo convocada para ajudar a acabar com o fogo, antes que se alastrasse mais ainda, incendiando casas e postes de luz. Stephanie, obviamente, vestiu-se com a roupa de bombeira, já com cheiro de naftalina, e conduziu sua Ferrari para o Corpo de Bombeiros, onde um caminhão a esperava. Chegando ao local do incêndio, Stephanie pode ver a gravidade do assunto: tudo estava queimando, havia cinzas, e tudo estava quase impossivelmente QUENTE. Ela, primeiramente, pegou a mangueira extra que havia trazido, caso houvesse algo a mais, e começou a jogar água, na inútil tentativa de apagar o fogo. No meio de tudo isso, Stephanie percebeu que alguém, no meio do fogo, pedia ajuda. Duas... Três pessoas. Ela se empenhou em salvá-las, atravessando todos aqueles pedaços de madeira e concreto, indo em direção as vozes. Subiu as escadas furiosamente, até chegar ao último andar, na varanda. Havia uma família, gritando desesperadamente por socorro. Stephanie, percebendo que eles logo morreriam (o fogo estava quase chegando a eles), saltou em direção à família, empurrando-os para fora da sacada, onde uma pessoa do Corpo de Bombeiros esperava com uma maca. Quando caíram, foram pegos pela pessoa. Stephanie, nossa querida personagem, não teve a sorte de sobreviver. A mesma foi engolida pelo fogo, que nunca foi obrigado a devolvê-la, deixando para trás um rastro de tristeza.




   

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