O Crime Não
Compensa
Era uma tarde fria, as
nuvens ameaçando a despejar água por sobre a pracinha. Não havia pássaros
cantando nas árvores, nem borboletas sobrevoando as lindas e perfumadas flores
da praça. Mas o frio não intimida a todos, não é mesmo? Sempre há alguém que
tem um guarda-chuva na mão, prevenido para o que der e vier. Esse era o caso de
Jairo, um idoso que adorava passear em dias chuvosos, principalmente naquele
parque.
Apesar de não ter os
pássaros cantando e borboletas voando, Jairo se contenta em apenas ver a
fontezinha onde belos peixes dourados faziam sua “nadada” diária, em cheirar as
rosas, margaridas e bocas-de-leões delicadamente perfumados com aroma de
primavera. Jairo também adorava ver a agitação das formigas, colhendo por hora
uma folhinha aqui, e indo para dentro do formigueiro, para se abrigarem da
chuva geralmente passageira.
Enquanto Jairo observava
as formiguinhas a se recolherem para dentro do formoso formigueiro tamanho GG,
o mesmo estava sendo observado. O observador? Al Mansa. Al Mansa era um terrível
sequestrador-marginal-ladrão daquela cidadezinha. De “Mansa”, Al não tinha
nada. Roubava e sequestrava com uma incrível agilidade, capaz de arrombar casas
e roubar bancos em pleno dia, com a polícia rondando o local. Estava sendo
procurado pela lei, mas em uma cidadezinha tão pequena, com tamanhas
construções irregulares (favelas), quem o procuraria? Era como dar um tiro no
escuro, sabendo que só tem uma chance de acertar.
Jairo estava se
levantando para ir embora, porque apesar dele gostar da chuva, era velho e não
podia se molhar muito. Al Mansa viu-o se levantando, então saiu do beco escuro,
onde estava escondido e alojado temporariamente. Foi aí que começou a
perseguição. Jairo, coitado, teve de se apressar um pouco, pois teve a
impressão de que estava sendo seguido, olhando de minuto em minuto para os
lados e para trás. Numa de suas olhadas para trás, Jairo viu um vulto (rápido
demais para sua visão) se escondendo atrás de um carro, certamente com medo de
ser visto.
Al surpreendeu-se com a
velocidade de Jairo (para um idoso). Ele corria mais de que um indivíduo de
oito ou nove anos! Apesar de seus problemas no joelho, Jairo não gostava muito
de ficar parado e praticava, às escondidas de sua mulher e de seu médico,
corrida, além de fazer academia e pilates. Por isso, corria bem. Al Mansa
corria e ao mesmo tempo olhava para o bolso traseiro de Jairo, onde estava
depositada sua estufada carteira. Porém, a velocidade de Jairo não era páreo
para a velocidade de Al Mansa, pois o mesmo escapava de viaturas policiais.
Logo, Al alcançou Jairo.
Com um movimento
surpreendentemente discreto, Al Mansa deslizou sua mão pelo bolso de Jairo, que
seus sentidos já não muito aguçados deixaram escapar. Al, depois de ter pegado
a carteira, virou-se de costas para o velhinho, como se nada tivesse
acontecido. E ainda saiu assoviando! Al Mansa, como escrevi anteriormente, não
tinha nada de “Mansa”, a não ser uma coisa: ele era excelentemente bom em ser
discreto, com um incrível capacidade de fazer algo surpreendentemente difícil
sem ser notado. Era sua mão que tinha a capacidade de fazer coisas “mansas”.
Mas Jairo percebeu que
alguém tinha mexido em seu bolso, então, automaticamente, virou-se para trás.
Al Mansa, nesse momento, saiu em disparada, esperando que o velhinho gritasse
algo como “Polícia! Pega ladrão!” Mas Jairo nada gritou, apenas saiu correndo
em direção ao centro da cidade. Ao mesmo tempo, Al falou consigo mesmo:
__ Esse não será o
velhote que vai me derrotar! Com esse dinheiro, provavelmente poderei comprar
mais drogas para traficar e esse velho não conseguirá me deter! Sou experiente
em escapar das mais sofisticadas prisões, e engano aqueles bobões policiais
direitinho. Hê-hê-hê-hê-hê!
Mas Al Mansa não sabia o
que lhe estava por vim. A carteira estufada pensava Al, era de dinheiro. Mas
não: a carteira estufada estava estufada pelo motivo de que havia um rastreador
escondido ali. Mas Al não abriu a carteira para ver o que lá tinha: estava
muito ocupado em fugir para não parar atrás das grades. Não que se importasse
com isso, pois poderia sair de lá com a facilidade de um leão matar uma
formiga, mas não queria decepcionar Pi Mentão, um colega de roubo, também
foragido. Al Mansa cometia a maioria de seus crimes ao lado de Pi Mentão, pois
além de seu companheiro, era seu melhor amigo desde o primeiro roubo.
Al Mansa foi correndo
para a favela, onde Pi Mentão o aguardava, ansioso. Então, Pi disse:
__ E aí, cara? Como foi
o roubo de hoje? Muito crime por aí?
__ Não, Pi Mentão. Até
que, para minha qualificação de assassino, foi bem fácil o roubo de hoje. Foi
só seguir um velhote com uma carteira estufada, meter a mão no bolso e vir
correndo pra cá. Não sei quanto dinheiro tem, mas parece que é mais de mil!
__ Legal! Então por que
não abre essa carteira?
__ Ah! Sei! Eu quero
mostrar antes pro meu pai. Onde ele tá? Ainda está por aqui?
__ Al, seu pai tá na
minha casa.
__ Valeu. Já volto pra
gente dividir a grana.
Dizendo isso, Al saiu
correndo do local de encontro, indo pra perto do local do local do roubo, onde
residia seu pai. Al Mansa o encontrou, deitado, no banco da praça. Seu pai o
cumprimentou, tremendo de medo:
__ O-oi, fi-fliho.
T-tudo be-bem?
__ Oi, pai. O que foi?
__ É que um senhor veio
falar comigo. Ele estava com dois policiais. Eles me interrogaram, dizendo que
eu era muito parecido com um ladrão. Q-quem será que era?
__ Glup. Er... Pai era
eu. Cometi um roubo hoje, com um velho. Roubei a carteira dele. Olha!
__ Não! Quantas vezes eu
tenho que dizer para você: o crime não compensa! Se nossa situação está ruim,
não é por culpa dos outros! Não temos direito de nos apropriar do não é nosso.
E... Filho. Quer uma sugestão? CORRE!!
Al olhou para trás: era
praticamente todos os policiais que ela já havia visto na visto na vida atrás
dele. E, novamente, perseguição. Al não teve escolha: os policiais estavam
armados. Uns de bazuca, outro da mais potente arma de fogo. Alguns, de
metralhadora. Ele, no momento, tinha duas opções: correr ou morrer. Então, ele
disparou para a favela, indo em direção de Pi Mentão. Ele sabia que Pi o
ajudaria a escapar daquela enrascada. Mas, em partes, o velhinho tinha
exagerado: chamar praticamente um exército para ir atrás dele... Mas, com
certeza, os policiais haviam checado as características do ladrão antes de
saberem definitivamente quem era. Mas por parte, estava certo: para alguém com
tantas ocorrências na polícia, histórico criminal quilométrico, roubos de duas
em duas horas e habilidades imensas para fugir da polícia, era preciso vários
policiais para detê-lo. Chegando à favela, viu-se cercado de todos os lados.
Não havia mais para onde correr. Sua vida de criminoso estava completamente
acabada. Então, o delegado falou:
__ Bem, nós nos cansamos
de você foragido. O roubo da carteira desse ex-policial, o General Jairo, foi o
seu último crime. Como todo General, Jairo colocou um sofisticado rastreador em
sua carteira, o que nos deixou informados o seu paradeiro. Nós não iremos lhe
prender, pois você foge e a prisão não surte o mesmo efeito para você do que
para os outros. Por isso, você será morto. Assim, não há chances de você
perturbar a vida de mais ninguém, a não ser das minhocas, quando você for
enterrado. Então...
Disse o delegado,
puxando a arma:
__ ... quais serão as
suas últimas palavras?
A resposta de Al foi
simples:
__ Eu serei vingado.
Sua fala foi seguida do som
de um tiro, acabando com sua vida. No fim, seu pai tinha a mais pura razão: o
crime não compensa.
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