A "Deficiente" de Amor II
Penélope já não aguentava mais essa
situação: ela precisava pedir aos pais para entrar em “território” um do outro.
Mas como não falava, escrevia que a coisa não podia mais continuar assim. Xandy
e Breno, seus pais, não davam a mínima. Apenas Ella, mãe de Xandy e avó de
Penélope, se importava com o astral da neta. Penélope passava a maior parte do
tempo no apartamento da avó, conversando com ela por meio de cartas e
bilhetinhos. Ella era a “mãe-avó” de Penélope.
Penélope sempre ia, enquanto seus pais
brigavam, na casa da avó, ou então ia visitar Manuel, seu avô em Nosy Be. Seu
avô também não concordava com o fato de Penélope não ser aceita por seu próprio
pai, tentando assim consolá-la. Manuel também tentava argumentar sobre as brigas
com Breno, mas de nada adiantava: ele não se importava com nada de que lhe
dissessem.
Penélope, como mais atingida, fez o que
pôde. Mas, sozinha, ela não era forte o suficiente para romper tal briga entre
os pais. Então, se sozinha ela não conseguia, talvez com Ella e Manuel
juntos... E foi o que Penélope fez: Juntou seus avós e foi, juntamente com
eles, enfrentar seus pais. Manuel foi o primeiro a falar:
__ Penélope não aguenta mais. Nunca viu
vocês juntos e felizes. Penélope quer
uma família como todas as outras crianças têm: uma família unida.
Penélope só concordou com a cabeça. A
avó falou:
__ Concordo apoio e assino embaixo.
Vocês não veem que isso a machuca? Prejudica lhe na escola. Ela não é feliz;
não tem o mesmo ambiente familiar, escolar que as outras crianças têm. Já não
basta ela ter deficiências? Ainda pioram as coisas.
__ Mas...
Tentaram falar, juntos, Breno e Xandy.
Após isso, um mostrou a língua para o outro. Ela se aproveitou do momento.
__ Estão mostrando a língua um para o
outro, crianças? Quem mostra a língua, quer beijo. Viu? Até nas ofensas vocês
sentem falta um do outro. Já faz oito anos que vocês brigaram. Oito anos que
Penélope sofre.
Todos ficaram em silêncio. Um minuto
depois, Penélope estava arrancando as fitas, que anteriormente servia de divisa
para as partes de cada cômodo. Depois, fitou incansavelmente o pai, que não
teve nada a fazer a não ser desviar o olhar. Xandy falou:
__ Mas eu não tenho culpa! Não fui eu
que comecei essa maldita briga!
__ Maldita?
Disse Breno.
__ É. Maldita. Eu não admiti isso por
oito anos, mas não aguento mais: eu sinto sua falta, Breno. Nem eu, nem você,
nem Penélope, nem ninguém tem culpa pela minha filhota ter nascido deficiente.
Gostaria que você não tivesse brigado comigo porque ainda quero sua companhia!
Quero ajuda para acompanhar o desenvolvimento da Penélope, para cuidar e dar o
amor que cada família deve dar para apoiar sua filha, ainda mais nesse momento.
Disse Xandy, sem notar que Ella, Manuel,
Breno e Penélope (apesar dela não ouvir o que a mãe falou, achou que tinha sido
um grande discurso a seu favor) olhavam para ela. Breno suspirou, tomou fôlego
e falou:
__ Também sinto sua falta, Xandy. Na
época em que brigamos, oito anos atrás, eu era um homem machista,
preconceituoso. Eu só queria uma filha perfeita. Sem nenhum problema. Eu
descontei em você toda a minha raiva. Como eu tinha um horizonte limitado, não
pude perceber que estava errado e que poderia seguir minha vida ao seu lado,
junto com a nossa filha. Até hoje eu me arrependo de ter brigado com você,
Xandy. Eu... É... Eu queria pedir desculpas para ti. Xandy, amor da minha vida, você me desculpa?
__ Breno... Eu... Eu... Mas é claro que
sim!
Respondeu Xandy, muito alegre.
Breno e Xandy foram para um quartinho e
começaram a conversar. Saíram dali rápido e saíram do apartamento. Voltaram
minutos depois, com uma caixinha na mão. A caixinha foi depositada no colo de
Penélope, que a recebeu duvidosa. Mas a abriu. Ela ofegou, já sem ar. Não
acreditou no que viu, dentro da caixinha. Era um aparelho auditivo! A partir de
agora, Penélope poderia, ao menos ouvir o que os outros falavam! Que surpresa!
Penélope levantou-se do sofá e correu para um apertado e sufocante abraço.
A partir desse dia, Penélope recebeu
o amor que sempre sonhou em receber; a atenção que sempre queria ter; a felicidade
que pensou que jamais teria. Penélope agora tinha uma família melhor do que
antes. Mas uma coisa que mudara, Penélope tinha mais duas casas: o coração de
Xandy e Breno, que agora a acolhiam e a aceitavam de braços abertos.
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