A
MAGIA DO CONHECIMENTO
Em um lugar, muito, mas
muito longe daqui, na Terra da IP (Inteligência Perpétua), vivia um povo que,
como era de se esperar, era muito inteligente e dedicado com estudos e tarefas
diárias. As pessoas que ali nasciam eram muito inteligentes e a principal coisa
que desejavam era algo muito simples: realização familiar, término dos estudos
com boas notas e ter uma boa carreira para conseguir sustentar-se por conta
própria.
Num bairro da Terra do IP,
Gamautilda, mais conhecido como Gama-Uti, em uma simples casa de alvenaria,
residia a família Naum: Sra. Nicole Del Pertu Naum, Sr. Walacce Impert Naum e
sua filha, Srta. Alicia Del Naum. Os Naum também tinham um animal de estimação:
uma linda gatinha branca da raça persa, de nome Bela, dada pela tia de Alicia,
Katherine Bortins da Rosa Naum. Os Naum eram, também, primos da pessoa mais
inteligente que IP já tivera: Lulanda Cattemberrg Naum, e por isso se
orgulhavam muito (às vezes até demais) disso. Tinha momentos na escola em que
Alicia até sentia uma pontada de inveja de Lulanda, pois além das boas notas
que tirava, sabia que sempre fora a esquisitona, a rejeitada, a caladona, a
louca que fica estudando no dia da abertura da Copa do Mundo, a chata... Tudo
ao contrário de sua prima, que era o centro das atenções do colégio IP, a
queridinha da professora, o amor da diretora... Tudo do bom e do melhor ia para
Lulanda, quando ia visitar Alicia: pão novinho, bolacha recém-aberta, margarina
de primeira qualidade, uva colhida na hora... Tudo SEMPRE para ela. Isso mais
ou menos estimulava Alicia na hora de alguma avaliação ou trabalho, pois só
tirava 10, o que, certamente orgulhava muito os seus pais, dizendo que a inteligência
dela se comparava à de Lulanda. Alicia, no entanto, ficava brava e pensava para
si mesmo que a inteligência de sua prima não chegava nem a ponta da unha do seu
pé, se é que ela sentia ao menos o cheiro de talco das suas meias.
Um determinado dia na vida de Alicia se passou
muito bem, com elogios, abraços e recomendações dos pais, pois aquele seria o
dia da avaliação de Português de Alicia que decidia se ela ia ou não passar na
matéria. Na hora da avaliação, Alicia foi tomada por pensamentos de inveja da
prima, coisa comum, pois ela sempre pensava nisso nessas horas. Quando entregou
a prova, recebeu olhares de superioridade dos colegas, dizendo, como se
estivesse escrito na testa deles “tomara que ela erre pelo menos umas 5
questões, e que eu acerte todas para poder esfregar a prova com um 10,00 no nariz dela...”, “espero que
tire um 0,00, essa metida, para mim conseguir afogá-la num mar de fofocas...”
ou “quero que ela aquela nanica tire uma nota tão baixa quanto ela tanto que a
professora terá de inventar uma nota baixa para lhe dar... Mas acho um 0,00.01
milésimo uma nota alta demais!”...
No recreio, Alicia recebeu mesmo um mar de
fofocas, pois Carla, uma colega sua, espalhou pela escola inteira que viu a
professora corrigindo as avaliações e tinha espiado a nota de Alicia: segundo
ela, a professora tinha escrito decepção com a sua nota sublinhado de
vermelho 4,00. Alicia soube da fofoca
pela sua melhor amiga, Lisandra, que também acreditou em Carla. Ela, Carla,
também disse que notou a correção da sua avaliação e falou que tirou um 10,00 e também que a professora tinha
escrito um Parabéns! Você é 10!
Alicia, no entanto, foi forçada a lanchar
sozinha, pois não aguentava tanta rejeição de seus colegas. Até pessoas que ela
não conhecia (mas desconfiava que eram do sétimo ano) foram festejar a vitória
de Carla em suas costas. Quando passava por corredores e se deparava com
professores, que, por sua vez, não a consolavam mas a olhavam com pena e
um pouco de desapontamento.
Chegando em casa, cabisbaixa, Alicia contou o
que aconteceu na escola para sua mãe e seu pai, reclamando que, por Lulanda ser
inteligente, não sofria o que ela estava sofrendo. Será que ela não era
inteligente? Seria assim, considerada burra, com aquela coleção espetacular e
inacabável de 10,00? Será que era só uma sorte ter tirado 10,00 nessas
avaliações? Ou era apenas a vantagem de ela conseguir decorar e não aprender os
conteúdos com tal facilidade que era considerada inteligente? E se ela não
tirasse à média, que de 6,00 mudou para 7,00? Tantas perguntas, nenhuma
resposta... Bom, saberia a resposta no próximo dia.
No dia seguinte, Alicia foi pra aula, tentando
manter a cabeça erguida, pois queria demonstrar para seus colegas (principalmente
para Lisandra) que não se abalava por uma mentira mal contada de Carla. Contou
também que achava que Carla tinha invertida a situação: que ela (Alicia) é quem
tinha tirado 10,00 e a Carla que tinha
tirado 4,00. Fofoca boa se espalha rápido:
logo metade do colégio IP ficou sabendo disso e (para felicidade de Alicia)
Lisandra ficou sabendo. Na hora da entrega das avaliações, foi uma algazarra
total: algumas pessoas se perguntavam que nota tiraram, outras receavam que
talvez não passariam, e a maioria, como Alicia, achavam que passariam com
sobra. Prova entregada, Alicia viu que recebera um bilhete da professora
escrito Para
os pais da aluna Alicia Del Naum de Professora Matílde Ferreti Nutris. Mas
Alicia não olhou o bilhete, correu o olho para procurar sua nota. A ilusão de
que passaria com sobra se quebrou quando achou a nota: 7,55. A ilusão se desfez completamente quando olhou seu comentário da
professora: os Parabéns foram substituídos
por um Passou
raspando, Alicia. Mais empenho da próxima vez!
Foi doloroso para Alicia passar seus olhos cor
de safira no carimbo preto e azul da professora. Ela mesma nunca esperara de si
uma nota tão baixa... Nunca quisera para si uma nota dessas... Que seus pais
iriam dizer?
A sineta tocou: era recreio. Alicia arrancou o
papelzinho onde a professora havia escrito um bilhete para seus pais, grampeado
na avaliação e colocou dentro de sua bolsinha. No banheiro, Alicia abriu sua
bolsa e tirou o envelope de dentro: era escrito com a linda caligrafia da
professora, da qual gostava muito. Tirou o selo do envelope e começou a ler: Sr. e Sra.
Naum. Nunca esperei uma nota tão baixa de sua filha. Alicia sempre fora a aluna
mais inteligente da minha classe, mas nunca, nunca mesmo quis essa nota como
resultado anual dela. Sempre foi uma aluna exemplar para seus colegas. Desde
nossa primeira provinha, no primeiro ano, Alicia ganhou uma estrelinha (sabendo
que uma estrelinha era “ótimo”, um chapéu de bruxa era “médio”, um carrinho era
“passável” e um aviãozinho era “péssimo”). Pelo meu conhecimento, Alicia gosta
e ama todas as matérias (de português ela gosta mais) e suas notas nelas sempre
foram as melhores. Não sei o que deu na Alicia, mas ela sempre demonstrou amar substantivos, que era o tema da
avaliação. Lamento pela nota. Sendo tão baixa, sou obrigada a dar para Alicia
umas aulas extras, neste feriadão. Alicia terá de trazer os livros vol. 1 e 2
de Língua Portuguesa, caderno e estojo completo.
Aguardo retorno.
Matílde
Frases da carta ficaram boiando em sua
memória, como se ela tivesse inventando um diálogo para sua mãe. “Não sei o que
deu na Alicia, ela sempre demostrou amar substantivos...”
“Lamento pela nota. Sendo tão baixa, sou obrigada dar para Alicia umas aulas
extras...” Aulas extras??? Isso não poderia estar acontecendo... Era só um
pesadelo, só um pesadelo, apenas um pesadelo... Que diriam seus pais se
passassem, ao menos, as mãos nessa carta? “Como poderia estar acontecendo...?” pensou
Alicia“ É só um sonho, logo eu vou acordar e vou ver o rosto dos meus pais, vou
tomar café da manhã, vou ir para a escola, vou receber a minha avaliação de
Português, vou festejar meu 10,00 e meu Parabéns como sempre e...”
A sineta tocou: era fim do recreio. Alicia
guardou o bilhete na bolsa e saiu do banheiro para fazer a fila de sempre. No
caminho da fila, em sua frente, viu Carla e Lisandra cochichando algo. Lisandra
falou com Carla sobre Alicia, alto o suficiente para a própria Alicia poder
ouvir:
__ Ô Carla, sabia que eu vi
a nota da Alicia? A “intelijumenta” tirou um 7,50
sublinhado de vermelho! Eu vi! E veio um bilhete de envelope rosa! Deve ser
uma reclamação ou um pedido de aula extra! Tomara que dê tempo para espalhar
para a escola antes que acabe a aula!
Depois de dizer isso Lisandra reparou na
presença de Alicia, puxando assim a mão de Carla para ir para a fila. Carla,
entendendo o aviso, foi com Lisandra até a fila do quarto ano, onde continuaram
cochichando. Chegando na sala, a professora
dispensou os alunos, dizendo que tinha seus motivos:
__ Crianças – disse a professora
Matílde com sua voz doce. Também tenho trabalho para fazer em casa, sou uma mãe
de família e... Tenho uma aula extra para preparar para a...Para uma pessoa.
Agora vão, andem! Ah, Alicia, você fica. Tem dez minutinhos?
__ S-sim, professora. Respondeu
Alicia.
__ Alicia, você deve saber o
porquê teve de ficar aqui mais uns minutinhos, não? Perguntou a professora.
__ Não, professora Matílde.
Não sei. Disse Alicia em tom de desafio.
__ Nem desconfia?
__ Acho que seja pelo
resultado de minha avaliação, não?
__ Exatamente Srta. Naum. É
sobre isso, sim. Pela sua nota...
__ ...Eu terei de fazer aula
extra com você, professora. Eu sei, li o bilhete.
__ Você leu? Perguntou
Matílde, atrapalhada. Não me lembro de ter falado nenhuma vez na aula de hoje
que você tinha minha permissão para ler o bilhete. Eu, Alicia, não sei, mas
seus pais poderiam ter deixado lê-la. Achas que eu não te vi tirando o grampo que
colava o bilhete na prova para teres chances de leres? Alicia... Eu te conheço
bem desde que te dei aquela estrelinha na prova do primeiro ano. Sei também
onde você foi hoje o recreio para ler o bilhete, sei que o levou numa bolsinha,
sei que não lanchou.
__ Ahh...
__ Não minta para mim,
querida. Mostre-me, então, se negar isso que disse, sua lancheira. Disse a
professora, mais confiante.
__ Hum, professora, eu não
nego.
__ Então espere um pouco.
Quando eu acabar de escrever, está liberada. Você pode ler, não se preocupe. É
só para o caso de você ter jogado o bilhete da prova fora.
Alicia foi só liberada
quando já estava escurecendo. Com o segundo bilhete na mão, corria para casa,
preocupada com o fato de seu atraso: certamente seus pais já haviam jantado e
fazia tempo que estava com fome, pois não comeu a merenda que sua mãe mandou.
O
bilhete dizia:
Caro
Sr. e Sra. Naum. Informo-lhes que sua filha fará aulas extras comigo, devido a
sua baixa nota em Português. As aulas serão nas quartas, quintas e sextas, no
horário das aulas de sempre (começam as 13:30
e terminam as 18:00) Terá de trazer caderno, livro de Língua Portuguesa
vol. 1 e 2 e estojo completo. Qualquer duvida, sabem onde me encontrar.
Matílde
Quando acabou de ler, Alicia estava na rua Gama-Uti, onde,
estranhou Alicia, estavam estacionados, na frente de sua casa, carros com luzes
vermelhas. Alicia não sabia o que estava acontecendo, mas desconfiou que fossem
carros de amigos de seu pai, Wallace. “Espera aí”, pensou Alicia: “Papai não é
de dar festinhas... Que será?”
Chegando mais perto,
Alicia percebeu que eram carros da polícia.
“Carros da polícia?” Refletiu Alicia, confusa. “Que é que
estão fazendo aqui? Aconteceu alguma coisa... Mas o quê? Será que a vovó foi
internada por câncer? Ou o vovô se engasgou com farofa? Ou mamãe ou papai
tiveram um piripaque? Mas, pensando bem, a polícia não iria ligar se meu vô
tivese se engasgado com farofa. Mas porque, então?” Alicia resolveu entrar logo
em casa para ver o que estava acontecendo, e, além disso, dar o Bilhete Negro, o nome que Alicia deu para ele.
Aproximando-se mais de sua casa, Alicia ouviu soluços de sua mãe:
__ Mi-inha... A... Minha Al...l...
“Al o quê? Como eu vou
descobrir o nome da criatura que aconteceu eu-sei-lá-o-que?” pensa Alicia,
furiosa. “Ainda mais com ela soluçando deste jeito. O nome da vovó é Alana,
vovô é Alex, meu primo mais velho é Alexandre, minha irmã que está para nascer se chamará Alba... Mas
voltando nos soluços de mamãe, ela diz: minha Al... Então tem de ser uma
menina! Ei! Espera aí! O meu nome começa com Al... Será quê...? Não, não pode,
mas se...”
Agindo sem pensar,
Alicia entrou em casa. De tão ocupado que seus familiares ali presentes estavam
de chorar, nem repararam na presença de Alicia. Ela chegou mais perto da mãe e
lhe deu um cutucão no ombro. A mãe se virou rapidamente e lhe disse:
__ Alicia! Não está vendo? Eu aqui chorando por que minha
filha não voltou da escola, a polícia aqui, as investigações indo, seu pai
pregando cartazes de aviso e você vem aqui me cutucar! Por que não ajuda sua
avó na cozinha?
Terminando de falar
essas palavras, a mãe de Alicia lhe deu
as costas. Mas Alicia não desistiu:
__ É que eu queria ver o que estava acontecendo. Sabe, cheguei
agora da escola por que a professora me segurou um tempinho a mais na sala de
aula e... Disse Alicia. Nem bem terminou a frase, a mãe se virou e foi ao seu
encontro:
__ Alicia! Alicia! É você mesmo? Estou desconfiando que é a
Lulanda Cattemberrg Naum debaixo desta fantasia... Vamos ver. Qual é a ordem da coleção dos livros do
Harry Potter? Perguntou a mãe, desconfiada. Era a primeira vez que Alicia viu a mãe tão desconfiada.
__ É Harry Potter e A Pedra Filosofal, Harry Potter e a
Câmara Secreta, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, Harry Potter e o
Cálice de Fogo, Harry Potter e a Ordem de Fênix, Harry Potter e o Enigma do
Príncipe e Harry Potter e as Relíquias da Morte.
__ É, você é mesmo a Alicia! A minha Alica! Tudo bem com
você? Está machucada? Que fizeram com você?
__ Ai, mãe! Não aconteceu nada comigo! Só tive que...De novo,
a mãe interrompeu sua fala:
__ SUSPENDAM AS INVESTIGAÇÕES!! ACHEI ALICIA! ELA DIZ QUE
ESTÁ BEM! ESTAVA NA ESCOLA O TEMPO INTEIRO!! CHAMEM MEU MARIDO! FAÇAM UM BANQUETE!
UMA FESTA, SE PRECISO! ELA VOLTOU!!! ALICIA VOLTOU!
__ Mãe! Pare de gritar! Vai acordar toda a vizinhança! Diz
Alicia, diante daquele gritedo. Teve que dizer isso umas três ou quatro vezes,
pois a mãe ficou repitindo a mesma coisa durante uns minutos, o que, para
Alicia, foram horas. No jantar, teve as coisas que Alicia mais gostava: alface,
feijão, carne de galinha, macarrão, torta de limão, suflê de legumes e pão de
queijo, para a sobremesa tinha sorvete de flocos e suco de goiaba.
Praticamente, foi o melhor jantar da vida de Alicia.
No dia seguinte,
Alicia acordou e lembrou-se da prova, do Bilhete
Negro, de sua nota, do comentário da professora... Inclusive que tinha de
mostrar o bilhete para seus pais. Alicia deu passos inseguros, segurando o Bilhete Negro nas mãos trêmulas, em direção a
cozinha. Chegando lá, falou:
__ Papai, mamãe, me acompanham até meu quarto? Tenho uma
coisa importantíssima para lhes mostrar. Têm um tempinho? Por favor.
O casal Naum trocou
olhares por algum tempo, mas acabaram seguindo a filha para seu quarto e
sentaram na cama.
__ Que aconteceu, filhinha? Perguntou-lhe a mãe.
__ Leiam esta carta. É da professora Matílde. Disse Alicia,
estendendo a carta para os pais. O
Sr.Naum estendeu a mão primeiro, mas a Sra. Naum foi mais ligeira. Observando
bem os olhos negros da mãe percorrerem a folha do bilhete, Alicia foi ao
encontro de sua mochila para pegar sua avaliação. Mal sentou na cama, sua mãe
disse, tristemente, passando o bilhete para o marido:
__ Querida, me dê sua avaliação.
Quero vê-la.
Alicia entregou, ainda
trêmula, a sua avaliação para a mãe, que olhou rapidamente e passou-a para o
Sr. Naum, que também já tinha acabado o bilhete. Quando o pai acabou, o Sr. e
Sra. Naum falaram juntos:
__ Alicia! Não acredito! 7, 50!!!
__ Sim pai, sim mãe. Disse Alicia, corando.
__ Filha, você fará aulas particulares comigo sobre substantivos. Ai de você se não meter
tudo nessa cachola! Nesse feriadão, você já tem divertimento, querendo ou não!
Ah, e sem saidinha com os “amigos” no fim de semana, sem chocolate por uns dois
meses e você está proibida de assistir televisão até aprender direitinho os substantivos!!! Entendeu? Começamos
hoje a tarde, viu? E seus momentos livres de manhã serão para estudar no
notebook, ok, mocinha? Vou mandar uma carta para sua professora. Sabes onde ela
mora? Levará o bilhete, então.
Diz a mãe após um
aceno de cabeça indicando um “sim” da filha.
__ Ah, um momento, antes de saíres chorando pelos cantos da
casa. Enquanto eu estiver escrevendo uma carta para Matílde, você irá revisar o
seu conteúdo de Português.
__ Está bem mamãe
Pela conta de Alicia, levou um pouco mais de quarenta minutos
para sua mãe finalizar a carta para sua professora. Achava que ela fazia isso
de propósito, só para ficar estudando mais: Alicia queria sair dequela casa por
alguns minutos, para amenizar um pouco o clima.
No caminho, Alicia
abriu a carta (tendo permissão de sua mãe) com os seguintes dizeres:
Professora Matílde. Como a nota de
minha filha foi tão baixa, creio que é o dever de uma mãe querer ajudar uma
filha. Sendo assim, quero que ela faça aulas comigo, que me especializei no
assunto. Quero só ver. Proibí ela de dar essas saidinhas com os amigos dela no
fim de semana, chocolate não vai ter, ela que não pense em televisão e os
momentos livres dela de manhã serão para estudar. Abraços.
Nicole
Alicia ficou até surpresa por um bilhete curto levar mais de
quarenta minutos para ser escrito, mas quando percebeu, já estava na frente da
linda casinha cor de azul. Bateu na porta, mas em vez de Matílde atender a
porta, foi uma linda moça que atendeu, dizendo, com o português não muito
aperfeiçoado:
__ Boa tarrde! A sonhorit est’
procurrando a prrofessora Matíld’? Perrdão, mas el’ prrofessora Matíld’ foi au
superr- merrcad’. Faz uns dez minutes que el’ prrofessora sail. Querr entrarr
parra esperrar un pueco?
Perguntou a moça.
__ Eu ..., é... Pode ser. Qual é o seu nome? É parente da
professora? Quantos anos você tem? Você vem de onde?
Pergunta Alicia.
__ Mi nom’ é Pietra Poli Delvivo,
sou la prrim’ mas nueva del prrofessora, mi ten’ quinze anios e vim da França.
I vucê? Faço las muemas puerguntas.
Responde rapidamente Pietra.
__ Meu nome é Alicia Del Naum, sou aluna da professora
Matílde, tenho 15 anos e sou do Brasil, mesmo. Ah, olha lá! A professora
Matílde!
Diz Alicia antes que Pietra pudesse dizer alguma coisa.
__ Professora, professora!
__ Olá, Alicia! Acho que já pode conhecer minha prima Pietra.
A família dela é francesa, mas minha mãe se mudou para o Brasil, deixando seu
irmão lá! Então, Alicia, alguma notícia sobre as aulas?
Pergunta Matílde.
__ Sim, professora. Este bilhete é da minha mãe. Diz Alicia,
mas Pietra a interrompe:
__ Querrida!
Nom prrecis’ chamarr minha prrim’ de prrofessorra. Chami’ só di Matíld’. É
mais, digamus... familliarr.
__ Está bem. Disse ela. Alicia esperou a professora Matílde
acabar de ler para perguntar-lhe:
__ Professora, digo... Matílde, que devo falar para minha
mãe?
__ Deverá falar-lhe que concordo com ela. Só isso.
Respondeu ela.
__ Está bem.
Alicia mal acabou de
falar e já se viu correndo em direção a sua casa. Quando cruzou a porta de
entrada, deparou-se com sua mãe e (admirou-se Alicia), uma sala de aula
completa. A mãe lhe perguntou:
__ Filha, qual é a resposta do meu bilhete?
__ A professora diz que concorda com você. Só isso. Diz Alicia.
__ Ótimo, querida. Vamos começar a aula de hoje?
__ Vamos mamãe.
__Muito bem, então. O
que são substantivos, querida?
__ Os substantivos, respondeu Alicia, são os
nomes das coisas, dos objetos, das pessoas, dos lugares... Enfim, o que dá nome
para as coisas.
__ Muito bem. Agora sabemos que os substantivos dão nome as coisas, mas, seu nome, por exemplo é o quê?
Qual classificassão damos a ele?
__ Fica nas classe dos substantivos
próprios, mamãe. Dão nome as pessoas, lugares, lojas... Indica um ser em
particular.
__ Isso, mas seu computador? Se classifica em...?
__ Meu computador se
classifica em substantivos comuns.
Não nomeia um ser, um objeto em particular, mas um ser em geral.
__ Ok! Vamos ver mais
uns três. Que são os substantivos simples?
__ Ah, mãe, é ai que
me confundi na hora da prova... Mas acho que é os que dão nome para
sentimentos.
__ Não! Esses são os substantivos
abstratos. Os simples são compostos
por uma palavra, como flor, chuva e computador. E os substantivos compostos?
__ Esse eu sei! São substantivos que são formados por duas ou
mais palavras, como guarda-chuva, pé de moleque...
__ Parece que prestou atenção nessa parte. Bem, continuando,
o que são substantivos concretos?
__ Er... Os que dão pra pegar?
__ Não filha! Que
horror! Não pense assim, como eu, na infância! Substantivos concretos
são palavras que nomeiam seres e não precisam de outro ser para existir! Não me
fale de novo que substantivos concretos
são os que “dá para pegar”! Continuando, e os substantivos abstratos?
__ Acho que é os que não dá para pegar. Er, brincadeirinha,
mamãe, acrecenta Alicia rápido, ao ver o olhar da mãe. São os que nomeiam ações
e sentimentos. Acho que precisam de outro ser para existir.
__ Isso, querida. E os substantivos
primitivos? Que são?
__ Já ouvi falar de animais primitivos, que são os
dinossauros, mas substantivos...?
Tenho uma impressão de que são os que formam outros. Se dinossauro é primitivo,
evoluíu pro macaco, que evoluíu para nós, então o dinossauro começou isso tudo!
__ Isso mesmo,
parabéns! Seu raciocínio está certo! Mas não custa lembrar que estamos
estudando Português, não História nem Ciências. Vamos pensar nas palavras, nos
nomes. Por exemplo, terreno é uma palavra que vem de terra, então é derivado.
Laranjal é uma palavra que vem de laranja. Então, igualmente, é derivado. Então,
entendeu os derivados?
__ Bem, em Ciências,
ouvia a professora dizer que o iogurte é derivado do leite, então o substantivo derivado é os que se formam a partir dos primitivos, como mesário,
livraria e floresta, assim como terreno e laranjal!
__ Nossa, você é boa nisso filha, mas vamos ao substantivo final?
O coletivo. Sabe o que é?
__ É aquele que
dividimos com os outros?
__ Não, filha! Diz Nicole, rindo. É aquele que indica uma
coleção, um conjunto de seres, bem como multidão, constelação, manada... Agora,
que tal fazermos, já que acabamos, uma mini-prova?
__ Oba!!!!
Alicia fez a
avaliação, mas na hora de sua mãe corrigir lhe deu um arrepio. Vai que, por um
azar, sua nota baixasse? Até que sua mãe falou:
__ Alicia, venha aqui um minuto!
Alicia se dirigiu a
mãe com uma pontinha de medo, mas foi só por um instante, após as palavras
reconfortantes da mãe:
__ Alicia, parabéns!
Pode comemorar o seu 10,00, pois você merece. Sei que se esforçou. Te amo, meu
amor. Mamãe sempre vai ter orgulho de você. Parabéns, Alicia!!!!!
__ Obrigada, mamãe!
Então, depois
deste dia, Alicia nunca mais levou como
exemplo a inveja por Lulanda, mas sim, o que aprendeu naquele dia: a magia do
conhecimento!
Parabéns, Bianca!
ResponderExcluirAdorei!!!!!!!!!!!!
Bjs
Obrigada, Lisane! Confesso que foi uma briga danada para este texto sair e ficou um pouco enrolada.
ResponderExcluirBeijos da Bia!