domingo, junho 12, 2016

Maldita lei de Murphy...

Maldita lei de Murphy

Mais uma vez, acabamos numa trilha. E que dia ruim! Desde manhã cedinho, começamos com o pé esquerdo. O vaso sanitário estava entupido, e o ninguém conseguia desentupir. Quando meu pai, furioso, conseguiu, começou a vazar água. A trilha, segundo ele, estava completamente arruinada. Mas minha mãe, insistente! Conseguiu convencê-lo. Facão, água, livro. Iríamos para a trilha que leva a praia do Saquinho, porém, seguiríamos e sairíamos na praia Naufragados, fazendo a trilha ao contrário, pegando um ônibus, almoçando num restaurante (o Engenho do Vô estava na “mira” de minha mãe) e voltando ao carro. Quase não fizemos nada disso.
Meu pai cheirava a álcool e desinfetante, tentando limpar o banheiro. Isso aprofundou seu mau humor. Passando pela praia Morro das Pedras, vimos como a ressaca estava forte. Ondas gigantescas se erguiam e arrebentavam contra as enormes pedras. Nenhum corajoso se aventurou naquelas gigantas. Na praia da Solidão, elas estavam mais pequenas, como filhotes de gigantes. Mais tardar notamos que a praia de Naufragados não tinha mais praia. Era só mar, quando as ondas vinham mais e fortes.
A trilha para o Saquinho era fofa e cândida. Tinha um caminho asfaltado, vista bonita… Logo chegamos ao destino: a casa do Sr. Adaílson. Adaílson era um homem, já idoso, que havia sido empresário. Largou tudo, cuidou dos filhos e família. Resolveu cortar os laços com o mundo, com a humanidade. Isolou-se, e provou que é possível viver mais com menos. Diz que devemos obedecer os “sinais” de quando nos cansamos do mundo, e buscar um outro refúgio. Acha que todos os seres merecem ser respeitados: todos eles são naturais. Menos o homem, que é um erro e um bicho estranho.
Adaílson havia emprestado um livro para meu pai, de Dennis Overbye, e agora íamos devolver. Conversamos com Sr. Adaílson sobre como era morar assim, longe de tudo, sem apegos, isolado. Meu pai, que sempre quis viver assim, foi o que mais prestou atenção. Sem dúvidas: o que Sr. Adaílson falou afetou ainda mais meu sonhador pai.
Depois, pedimos informação no Bar do Quirino, que Sr. Adaílson nos indicou para coletar informações. Falaram-nos que a trilha estava roçada, os pontos encharcados com passagem. Falaram-nos, também, que teria uma bifurcação, e que nela deveríamos rumar a direita e subir. Depois descer. Deram-nos um mapinha feito instantaneamente! Isso facilitou as coisas.
Andamos um pouquinho e olhamos para o mar: eu gritei GOLFINHOS! Vimos vários, indo e vindo, como uma onda no mar. E depois, mais surpresas! Sem mira, fiz um corte com o facão numa árvore. Depois vi o facão manchado de uma coisa branca, como se fosse sangue tingido. Olhei para a árvore e vi seiva branca escorrendo pelo tronco. Eu havia acertado uma árvore seringueira! Nunca tinha visto isso na minha vida… Segundos depois, atingi uma outra: esta não era uma seringueira, mas ostentava seiva. Logo começou a pingar no chão, grudenta como cola…
Chegando na tal bifurcação, o mar estava perto. Muito perto. Vi uma praia de pedras, as ondas tamanho GG levantando-se e morrendo. Pegamos o caminho correto e subimos. Subimos. Subimos… Subimos MUITO. Depois de meia hora, quarenta minutos, chegamos ao topo e descemos. Minhas pernas reclamavam por descanso, meu estômago, por comida. Chegamos na casa de uma senhora, que varria o pátio. Simpática, a Sra. Vera! Nos convidou a entrar e conhecer sua casa, seu terreno, tomar um copo d'água, conversar… Foi muito gentil da parte dela. Nos falou sobre sua vida, como era viver assim. Atiçando ainda mais o interesse de meu pai…
A Sra. Vera nos contou que, volta e meia, pessoas queriam tirá-la de lá. Como seu parente, conhecido como “Del Maluco” (passamos pela casa dele, onde vimos uma miniatura de cão que se intitulava PittBull)Ela contou-nos, também, que a praia era limpa por culpa sua e de outros moradores, que coletavam lixo e reutilizavam. Mostrou-nos seu tapete feito de sacolas de lixo, muito bonito, seu caminho para casa feito de tampinhas de garrafa e latas de cerveja e uma linda guirlanda fabricada de conchinhas do mar. Sua casa tinha um cômodo em cima e um cômodo embaixo. Embaixo era cozinha, rústica e aconchegante. Em cima era seu quarto, bagunçado, com decorações de criança. Achei muito fofo, principalmente a varanda. Um pedaço de tábua, sem proteção, estendido pelo chalé. Muitas plantinhas em vasos e baldes estavam plantadas na terra, de um jeito tão delicado que só vendo. Era a casinha de “bruxa” a casinha dos sonhos.
Descemos e deparamo-nos com a praia. Ops! Eu disse praia? Perdão! Não tinha praia, havia apenas o mar. Ele engolia a areia, os caranguejos, a sujeira… Quase chegava a casa das pessoas. Tiramos os tênis (depois de um cachorro babar em mim e sujar toda a minha blusa com suas patas “mas era fofo!”) e preparamo-nos. Corremos mais do que nossas pernas poderiam aguentar. Minha mãe, coitada! Um espinho ficou enamorado com seu pé. Mas, sei lá o porquê, mamãe não gostou desta junção…
Lavamos, secamos os pés e colocamos os tênis. Abrimos os Cookies, mas eu queria pastéis. R$4,00 não fariam diferença, fariam? Não compramos, o que foi um erro. Brava, fui na frente da trilha. Correndo, logo cansei. Esperei e logo pedi para que me esperassem. Céus, quando saímos da trilha… A fome estava gigantesca, como aquelas ondas que vimos no Morro das Pedras, Saquinho e Naufragados…
Acabando a segunda trilha, procuramos um restaurante, meio a vista. Achamos? Nem em sonho, muito menos em pesadelo. Andamos pelo asfalto, o que me pareceu horas, até um ponto de ônibus. Foi-nos informado que restaurante ali era piada, e que o ônibus não tardaria a chegar. Esperamos. Era mais de 15:00 quando ele chegou, balançando de um lado para o outro. Pegamos condução e seguimos. Chegando no restaurante, mortos de fome, adivinhe? Contemplamos a placa de FECHADO. Pegamos outra condução (depois de perder uma) e fomos para o carro. Era mais de 17:00 quando ficamos no calorzinho de um ambiente fechado…

Tomamos coragem e saímos do carro, para um restaurante. O lado bom é que economizamos: a janta era nosso almoço e nossa janta. Fomos no Bar do Arante, comemos bem (camarão, pirão, arroz, feijão, saladas…) e saímos de barriga cheia. Achou que o dia acabaria assim? Que nada. A coisa podia dar errado e deu. Pegamos um congestionamento gigantesco para voltar para casa, como as ondas que vimos nesse dia.

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