Curitiba, Paraná.
Viagem. Assim que minha mãe coloca na cabeça
de viajar para algum lugar, não teima: ela vai e ponto final. Dessa vez, era
para um evento em Curitiba, Paraná. Deu um pouco de briga pela nossa situação
financeira, mas em 11 anos de casado, meu pai ainda não aprendeu que contrariar
a mãe é meio complicado. Levando pelo bom lado, conheceríamos o Jardim
Botânico. Iríamos para um lugar diferente, e era isso que importava.
Preparamo-nos, e, enfim, viajamos. Minha
bagagem foi pouca: uma gatinha, Lila; três travesseiros; um cobertor e um baú,
cheio de tranqueiras. Isso sem contar do Sansão e da Dalila, dois bichinhos de
pelúcia da Turma da Mônica. A viagem de ida foi até legal, vimos várias
árvores, e a estrada era boa. Acho que se meu pai largasse nosso Gol com a direção
reta, ele ia sozinho, porque as estradas do Paraná, diferentemente das nossas,
são retas e sem nenhum buraco. Depois de aguentar umas 6 ou 5 horas dentro do
carro, e de nos perdermos na entrada, chegamos em Curitiba. Dois milhões de
habitantes! Não era de se admirar que, com tantas pessoas, tivesse tanto
prédio. Fomos procurar a UTFPR, onde a mãe tinha o evento, e ficamos por lá.
Almoçamos num restaurante vegetariano (só de escrever me dá água na boca).
Voltamos para o carro (de barriga cheia) e dirigimo-nos para o hotel. Chegamos
lá e a aparência inicial não era muito agradável, com pessoas estranhas
rondando o hotel e pessoas na frente fumando. Já ficamos desconfiados.
Indo até a recepção, recebemos a péssima notícia de que não havia reserva
nenhuma computadorizada no nome de minha mãe. E sabemos que Curitiba é capital,
e que, nas capitais, era muito difícil arrumar hotel se já não tivesse
reservado. Por sorte (que depois viraria em azar), havia um apartamento
disponível, e que poderíamos olhá-lo. SURPRESA! Chegando lá, era um lugar
simplesmente pior que se comparado a bos__. Poderia até ser legal, se não fosse
apartamento de PULGA e se se não fosse tão... Tão “trash”. Lixo. Então
desanimamos, e paramos num restaurante para pedir informações da localização de
um hotel. Sugeriram-nos o Íbis. Centro. Chegando lá, não tinha apartamento
disponível. E, como em Curitiba há uns 5 Íbis, fomos e outro. No bairro Batel.
E TINHA! Entramos lá e a primeira coisa que eu vi foi um cofre. Sério, cofre
num hotel? Mas fazer o quê? Era a primeira vez na minha vida que eu tinha visto
um cofre. Coloquei um fio de cabelo e tranquei. Coloquei a senha (1234) e
destranquei. Fiz isso vária vezes até provar a mim mesma que era confiável. Até
que eu pedi para meu pai o pente. E tranquei-o lá dentro. Digitei novamente
1234 e tranquei. Chamei minha mãe para me ver destrancar, digitando novamente
1234 e puxando. Não abriu. Tentei novamente mais duas vezes e nada. Daí eu vi
um bilhete grudado no cofre:
“Após três tentativas de senha com a mesma
errada, o cofre se abrirá após 30 minutos.”
Aí eu pensei: “putz!”. Como eu abriria? Meu
pai disse para esperar os 30 minutos, mas eu desconfiei: o cofre certamente NÃO
se abriria. Deitei relutante na minha
cama-mesa (que meu pai delicadamente apelidara de “Caixão” da Bianca) e
adormeci. Umas quatro horas depois, acordei e a primeira coisa que fiz foi
olhar o cofre: e não deu outra. Ele não
se abriria depois de 30mins. Era uma NOVA TENTATIVA A QUE TÍNHAMOS DIREITO! E
eu não lembrei a senha. Até resolvi chamar um funcionário do Íbis que,
delicadamente me chamara de “purguinha” e nos dissera que outra “purga” tinha
trancado o controle da televisão no cofre.
À noite, comemos e dormimos. O mesmo decorreu
no dia seguinte, mas a mãe fez o curso. Esse dia eu posso dizer que foi
bastante corrido, e eu não me lembro de muita coisa. Mas de uma que lembro era
da nossa caminhada. Uma coisa que me entristeceu: moradores de rua. Havia uma
mulher dormindo, e um gatinho em cima dela, lambendo-se. Aí eu pensei: as pessoas
quase pisam em cima da mulher, e o fiel gatinho dá mais importância para ela do
que seus iguais. Ora, a mulher nem tinha condições de cuidar de si mesma, e
cuidava de um gatinho. Isso que é coração, isso que é fidelidade. E minha mãe
desatou a chorar.
No dia que se seguiu, foi, em minha opinião,
o mais legal de todos. Sabe por quê? Fomos ao Jardim Botânico! Pegamos
novamente a estrada e o meu roller. Chegamos lá depois de congestionamento. Mas
valeu a pena: o que vimos foi nada mais, nada menos do que magnífico. Flores
por todo o lado, pedras cruzando riachos, a incrível estufa de flores em forma
de castelo, fontes e até um tipo de açude. No meio da ponte de madeira, que era
magnífica, nós vimos na margem, dois patos, uma pomba, duas tartarugas e um peixe
que estava, no momento, meditando, meio zen. Cruzando um pouco mais pertinho da
mata, vimos uma saracura! Mas nem tudo dura para sempre fomos embora levando um
pouquinho daquele lugar conosco e deixando um pouco de nós. Na volta, dentro do
carro, brincamos de pique-esconde e a única regra era que só valia dentro do
carro. Mas valeu a pena pelas risadas.
“A vida é o que fazemos dela. As viagens são
os viajantes. O que vemos não é o que vemos, senão o que somos.”
Fernando Pessoa
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