Cenas do cotidiano III
Por que poucos têm muito e muitos têm pouco? O
dinheiro sempre foi algo que nos diferenciou (mudando de país para país). E, em
qualquer lugar, verás que muitas pessoas possuem pouquíssimo dessa riqueza,
enquanto muitos se banham em rios da mesma. Quando o país é novo, a riqueza,
ainda não construída, é prometida a todos os trabalhadores (já que são eles que
a constroem). Prometem que a dividirão igualmente, que nada faltará. Será?
Quando se vai ao Mercado Público de
Florianópolis, é preciso ir de coração preparado, que não era meu caso no dia
de hoje. Há sempre aqueles que costumam parti-lo, entristece-lo e
incapacita-lo. Aquele costumeiro vendedor de “chip”, que fica o dia inteiro
repetindo a mesma palavra, vários daqueles gritando a quem quer que seja “compro
ouro e pago bem!”. Pode até ser aquele belo som, gostoso de ouvir, de
talentosos músicos ambulantes. Sempre que vejo um, fico triste por não poder
melhorar e sua situação, porque é de certeza que ele não escolheu fazer aquilo
para sobreviver.
Caminha, caminha, compra e compra, chegamos
onde queríamos: numa loja de chocolates. Na entrada, vimos um menino mulato,
carinha de pidão, olhos para baixo e cabeça encurvada, encostado na parede.
Entramos na loja, compramos o que queríamos e, quando fomos sair, aquele garoto
falou conosco:
_Vocês tem uma balinha para me dar, para eu
vender?
Mamãe que falou com o menino.
_Onde estão os seus pais, garotinho?
_Minha mãe está em casa trabalhando, e ela
trabalha tá?
Respondeu o garoto. Mamãe acariciou seu ombro
e disse:
_Menino, menino... Vá para casa, a rua não é
lugar para você, tu podes sofrer violências na rua. Vá para casa.
O garoto apenas assentiu com a cabeça, como
se fosse se agarrar nestas palavras carinhosas de mamãe. Talvez fosse realmente
o único carinho que tenha recebido.
Logo depois de termos virado a esquina da
loja de chocolates, bateu uma grande vontade de voltar e dar uma barra a ele. “Por
que diabos não reagi?”, “Deveria ter dado algo para ele, o menino não tem culpa
de estar nesta situação”, “Quando chegar em casa, darei o título de besta
máxima para mim mesma; o menino precisa mais do chocolate que eu, e eu posso
muito bem passar sem. Mesmo que ele não o venda, talvez o coma. Pode ser o
único alimento que ele terá nestes dias”, era pensamentos que rondavam minha
cabeça como urubus, fazendo com que eu ficasse com dores na cachola.
Será que ninguém se sente mal em ver este
menino nesta situação? Será que esta cena incomoda apenas a mim e a ninguém
mais? A exemplo da ave que escrevi dias atrás (Cenas do Cotidiano I) parece-me
que ninguém é responsável pela situação deste menino.
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