Titanic II
Tudo começou com as tradicionais gincanas que tenho todo ano,
em cada colégio que frequento. Ano passado, no Geração, tive o JIG. Esse ano,
na EFAZ, as olimpíadas (muito menos competitivas do que as do Geração, porém,
menos movimentadas). Sinceramente, se
tivesse que escolher entre uma ou outra, ficaria na dúvida para sempre. O JIG
do ano passado foi muito legal, me movi bastante e acho que consegui progredir
em alguns esportes (handball é um). Nas olimpíadas, é menos competitivo, melhor
administrado e mais justo, a meu ver.
Enfim, hoje foi o último dia (ao total, houve dois dias de
competição) que disputamos a final. Tudo
começou antes, muito antes... Quando nos foi explicado como seria, que teríamos
que construir uma embarcação, que a testaríamos na Lagoa do Peri e que
competiríamos (dã). Separadas as equipes, começamos a discutir qual seria o
projeto da embarcação, e mais tarde decidimos que o nome da mesma seria
Titanic. Ora, já tínhamos certeza de que naufragaríamos...
Foi mais ou menos uma hora construindo a prancha. Dois
pedaços de madeirite como dois pães de um sanduíche, duas câmaras de pneu como
os tomates do sanduba, unidos com cordas, como o queijo dando ligamento do
tomate ao pão. E, preenchendo ainda mais o interior desse sanduba maluco, isopor.
Nem preciso dizer, preciso? O Titanic aparentemente ia fazer honra ao nome que
recebera...
Jogos jogados, prancha pronta... Hoje era o dia que eu mais
estava esperando. O dia em que a testaríamos! Poderíamos ter perdido nos jogos,
mas se a prancha funcionasse e o Titanic não quisesse seguir o original...
Daria certo. Ansiosa, acordei mais cedo que o normal. Fui para a escola de
motoca, pensativa. Daria ou não certo? Ganharíamos (improvável)? Foram essas
dúvidas que me acompanharam até o colégio, e do colégio até a Lagoa.
As 07h30min, na escola, não havia transporte porcaria nenhuma
para nos levar até a Lagoa. Bem pelo contrário: a entrada da escola estava mais
vazia que minha mochila, e cheia estava minha cabeça de pensamentos. Encontrei
com minha amiga e conversamos um pouco, subimos em árvores, catamos pimenta
rosa nas aroeiras e caminhamos pra lá e pra cá, a espera do ônibus. E tivemos
que fazer muito essas atividades, porque o busão demorou pacas pra chegar...
Imagine o atraso do ônibus: das 07h30min até as 9 e pouco
tivemos que esperar. Até que (aleluia) chegou, porém, não embarquei nesse por
conta de umas garotas que passaram na minha frente. Mais espera, então
(finalmente) chega outro, onde subiu o povo que tinha ficado (inclusive eu).
Sentei com minha amiga, e fomos praticamente em silêncio até o Parque Municipal
da Lagoa do Peri, só apreciando a paisagem.
Estou acostumada com o lugar, porque vou frequentemente lá, mas vamos
combinar? O mar sempre é diferente. Hoje ele estava maravilhoso, ondas contínuas
e aparentemente fortes. Ai, que saudades da minha prancha!
Chegando lá, minha primeira sensação foi aquela quando alguém
arruma nosso quarto. A de “estou perdido e não conheço nada aqui”. Mas, depois
de terem me apontado o caminho, andei e enxerguei o lugar onde eu mais queria
estar. Céus, a lagoa era lindíssima! Tirei minhas roupas e tênis, ficando só de
maiô. Experimentei a temperatura da água e quase desisti, mas após uma batalha
interna no qual “entre-na-água-agora” persistiu a minha vontade “enrole-se-num-cobertor-e-durma-o-resto-do-dia”,
entrei e me diverti muito.
Nadei, mergulhei, plantei bananeira, joguei vôlei, conversei
á toa... Nem vi o tempo passar! E já era hora de testar o Titanic... Olha, não
foi um desastre. Foi um desastre total... Flutuar flutuou. Agora, não suportou
um pesinho extra em cima... Nem participamos do circuito na embarcação. Parece
que o Titanic não seguiu o destino do original, mas mudou muito pouco. O que
mudou foi que sobrevivemos para contar a história... Mas sem problemas, foi um
tempinho a mais que passei mergulhando e nadando. Até remei em stand up, algo
que nunca tinha feito. Só que vocês já sabem né? Tudo o que é bom dura pouco, o
que é maravilhoso... Passa num piscar de olhos. Logo chegou a hora de irmos
embora...
Sequei-me, vesti-me e arrumei-me. Dirigi-me ao busão, junto
com minha amiga. A viagem de volta foi rápida, como foi à ida. O que mudou é
que foi mais silenciosa. Fora o ponto que meus colegas estavam cantando funk e
de que teve um momento que, após um garoto ver pichado numa placa “Fora Temer”,
todos do ônibus repetiram a frase, como um grito de guerra. Inclusive eu, que
gostei muito desse momento antiTemer! Logo, havíamos regredido para o
colégio...
Como eu pensava: papai estava me esperando, aquele querido!
Fui ao banheiro rapidinho, peguei minha apostila de Geografia no escaninho e
fui de encontro ao meu pai. Depois de receber duas castanhas, coloquei o
capacete nos cabelos molhados e pulei pra cima da garupa, a mente cheia de
respostas para as perguntas que papai e mamãe me fariam em casa.