quarta-feira, setembro 07, 2016
terça-feira, setembro 06, 2016
Uma
empolgante visita
Minha avó nunca fez várias coisas, como
viajar de avião, passear de barco, andar de bicicleta ou até mesmo ver o mar.
Filomena nos visitaria e permaneceria onze dias conosco, em Florianópolis.
Veria coisas diferentes o que vê em sua cidade (Alpestre-RS) e, talvez, iria
permitir-se romper essas correntes cheias de limites que prendiam seus pulsos
fortemente.
Vovó chegou de avião com mamãe. Nós havíamos
planejado sua estadia aqui para ser a mais confortável e prazerosa quanto
possível. Mostraríamos o mar, que a mesma chamava de “rio”. Sendo assim iríamos
para a PRAIA! Foi o que fizemos depois de uma trilha.
A trilha da Costa da Lagoa proporciona aos
seus visitantes uma vista linda. Uma pena que a vó não parecia estar curtindo
muito... A cada oportunidade, olhava para mim e movia os lábios formando a
frase “vamos logo embora”! Eu apenas sacudia a cabeça negativamente. Em sua
cabeça, tinha coisas a fazer em casa (serviço doméstico, almoço e etc.). Ela
não estava se permitindo. Ainda estava acorrentada.
A ida na praia da Joaquina foi um desastre.
Minha avó sequer teve coragem de encostar o pé na areia, quanto mais molhar a
ponta do dedão na água. Definitivamente, ela não estava permitindo-se. Se fosse
preciso, eu ajudaria.
Perto da nossa residência, há um parque. O
Parque da Luz. Seria perfeito irmos brincar, nos divertir e nos desinfectar.
Mas quem disse que me diverti? Vovó, mais uma vez, não fez nada e não me deixou
fazer nada. Preocupou-se com minha roupa, dizendo que meu short era curto
demais, que minha blusinha mula-manca (que deixa meio ombro aparecendo) era
apertada demais, que não era para mim usar essas coisas vergonhosas e assim por
diante, Mais uma vez, o divertimento daquela tarde foi zero.
Mas não se preocupe! Ainda tínhamos programações e tempo de sobra. Fomos
na praia da Guarda do Embaú, catar conchinhas, surfar e mostrar para Filomena a
beleza do oceano. Fizemos uma trilha linda que terminava em costões de pedra,
as quais agradaram vovó para sentar-se. Voltamos, almoçamos e fomos para a
praia. Como o Rio da Madre se junta ao mar, teríamos que passar o Rio para ir à
praia. Eu e papai fomos nadando (ambos com pranchas; papai com a de surf, eu
com a de BodyBoard), e mamãe e vovó de barco.
Na praia, o desastre foi maior. Assim que
mamãe colocou o biquíni, vovó quase colocou um ovo. Disse que mamãe não tinha
vergonha e mandou-a cobrir-se. Mas em vão. Não vamos para a praia de casaco,
não é? Vovó resmungava coisas como “uma mulher de respeito”, “justo minha filha”
e “perdeu o juízo”. Peguei a prancha e fui para o mar. Advertida, antes, pela
minha avó, que falou para ter cuidado nas ondas e não ir muito fundo. Primeiro
pensamento: sei nadar. Segundo: vou me divertir de um jeito ou de outro. Dito e
feito. Amei o dia.
O último dia em que vovó esteve aqui passou
muito rápido. Fizemos a trilha do Gravatá, para mostrarmos as belezas do local
para minha avó. Ela sentiu-se mais à
vontade nas pedras de granito. Brincou que seu chapéu voava porque o vento não
tinha um e achara o dela. bonito, o que achei fofo e engraçado. Finalmente, começara
o corte de suas amarras.
Se o chapéu voando foi engraçado, não supera
a hora de pagar o almoço. Almoçamos no Boka’s, da Lagoa da Conceição, e a vó
fez questão de pagar nossa comida. O preço final foi R$ 153,90. Mas acho que
nunca demorei tanto para comer um prato, principalmente de camarão... Pegando
sua carteira, vovó puxou tudo o que tinha. Uma. Duas. Três notas de R$ 50,00;
as moedinhas caíram e se espalharam por todos os lados. Realmente, hilário.
Eu e o pai queríamos andar de stund up, mas a Lagoa estava agitada e
ninguém estava alugando as pranchas com aquela condição. Voltamos para casa, e
no dia seguinte, vovó partiu. Sua ida me entristeceu mais do que gostaria de
admitir. Sua visita não foi de toda ruim. Nem tão boa. E talvez tenha sido sua
última visita. Mas conformei-me: eu a amo, é isso que importa. Ela veio, e
havia levado um pouco de nós. Ela veio, e deixou um pouco de si. Vovó, se
estiver lendo isso agora, sabia que eu te amo. E muito.
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