Uma experiência… diferente
Bendito seja o amor de minha
mãe por trilhas! Com elas, temos contatos com lugares, culturas e
tradições diferentes. Vamos atrás do novo, do inesperado. E não
registramos, pelo menos não em câmera: mas no coração. No fim de
semana passado, fomos a trilha da Gurita. Ficou curioso?
Acompanhe-me!
A trilha da Gurita já nos era
conhecida, porém queríamos segui-la, uma vez que paramos na metade
do caminho na única vez que fomos. Estacionamos no lugar que já nos
era familiar, empunhando o facão, com mochilas pesadas. Saímos do
carro, encasacados, e começamos a trilha. Estava limpa, a terra
coberta de folhas. Fizemos brincadeiras e conversamos sobre o meio
ambiente, a Mata Atlântica. Afinal, era onde estávamos, não?
Comemos a banana (convenhamos:
nosso corpo precisa de energia para continuar funcionando) e
seguimos. Depois do que me pareceu uma ou duas horas, chegamos na
casa de seu Osni, morador próximo da trilha da Gurita. Passamos
pelo cachorro e entregamos nosso presente para ele: café Expresso,
Pilão. Raramente tomávamos café, e Sr. Osni deveria fazer café
frequentemente, como ele mesmo nos confirmou.
Ainda em sua moradia,
encontramos o irmão de Sr. Osni, que nos acompanhou para mostrar-nos
o caminho que levava até o Sertão. Depois, foi-se embora. Pulando
igual a sapo, fomos, de pedrinha em pedrinha, até um caminho
barrento e gramado. Como não era plano (bem pelo contrário: eu acho
que nunca subi TANTO assim), sofremos para subir. Era tanta subida…
meus músculos (gastrocnêmios e companhia) gritavam por socorro. E
eu também, tanto que resmungava que voltaria sem eles, que iria
desistir. Ainda bem que eu não fiz isso. Em primeiro lugar: eu IA
sim onde meu pai e minha mãe fossem. Afinal, éramos uma família, e
tomamos as decisões juntos. Em segundo lugar: o que eu ia fazer se
desistisse? Voltar para o carro? Tolice.
Em último lugar, acrescento
depois, eu perderia uma coisa que talvez jamais fizesse na minha
vida. Explicarei melhor: quando chegamos ao final da subida
inacabável (se isto é possível), deparamo-nos com uma estradinha
de chão. Era uma vila, pequena e aconchegante. Pedimos informação
a uma gentil senhora, que nos disse que, pertinho dali, tinha um
alambique. Almoçamos a marmita perto de uma simpática igrejinha e
fomos procurar o tal alambique. Discursos prolongados sobre cachaça
seguiram-se, já que minha mãe trabalhou em alambique caseiro e já
fora cachaceira. A senhora tinha dito que o alambique era perto? Que
nada. Depois meu pai acrescentou que ela dissera que teríamos de
caminhar “uns quarenta minutinhos”.
Sinceramente, eu agi pior no
caminho do que para com a subida. Resmunguei que um gole de cachaça
não valia TANTO assim. No caminho, mamãe me falou que a cachaça
vinha da cana de açúcar, que era doce, doce. Mas… Como é que eu
ia saber se NUNCA tinha provado cana na vida? A minha sorte é que
tinha canavial no caminho, e em vez de resmungar coisas inaudíveis
que envolviam “cachaça”, “não”, “vale” e “tanto”,
aproveitei o facão que empunhava e cortamos uma cana para eu chupar.
Minha mãe fez uns palitinhos e eu roí. Acreditei, instantaneamente
que o açúcar vinha da cana…
Chegando no alambique,
coloquei os palitos de cana no bolso do casaco. Oras, o dono do
canavial era o dono do alambique! Como é que eu vou ir na casa dele
e ficar com suas coisas? Enquanto meus pais conversavam com o dono do
alambique, dizendo que eu nunca tinha comido cana, que nunca tive
esta experiência, eu saía, de vez em quando, justamente para comer
aquela coisinha gostosa. Cana é meu vício, e não é uma droga.
No fim, saímos do alambique
com uma garrafinha de 500ml de cachaça, uma cana de açúcar e muita
história para contar, debater e discutir. Continuamos reto, pela
estradinha. Encontramos uma bananeira, na qual apanhamos banana, e
por sorte, laranjeiras. Por experiência própria, descobrimos, mais
tarde, que era azeda… Quando chegamos no asfalto, não suportava
mais minhas pernas. 25Mins de caminhada foram o suficiente para
tentarmos um ônibus num ponto (ele demorou e desistimos) e
conseguirmos noutro. O ônibus chacoalhava menos da última vez que
andei…
Chegamos, finalmente, ao
carro. Eu e mamãe paramos num parque e o papai buscou o carro.
Conheci ali um cachorrinho simpático, que ganhou carinho até dizer
chega. O fofinho queria me acompanhar para o carro, mas voltou para
os verdadeiros donos. Isto me fez chorar, porque uma vidinha tão
simples assim era tão… marcante. Ficou no meu coração, assim
como nossa aventura, na qual tivemos uma experiência… diferente.