Minha viagem nas
(merecidas) férias: Aparados da Serra!
Já estávamos ensaiando
muito tempo uma viagem: não a trabalho, não por obrigação. Uma viagem
prazerosa, enfim, depois de tantas “obrigatórias”. Sonhamos primeiro ir para o
Peru, mais especificamente conhecer Macchu Picchu; depois, desejamos a Chapada
dos Veadeiros, em Goiás; depois, a Serra da Bodoquena, em Bonito. Por fim,
decidimo-nos por um destino mais próximo, mais acessível e com a possibilidade
do percurso ser feito em menos tempo e tornando, portanto, a estadia mais
longa. Sim! Nosso destino foi os Aparados da Serra, em Cambará do Sul-RS.
Resolvemos sair de casa com
dois motivos principais: aproveitar as férias e fugir da infestação de baratas
aqui do condomínio (olha só que condomínio legal! Além de não poder brincar com
outras pessoas, não poder fazer quase nada- como escrevi em http://blogdetextosdabia.blogspot.com.br/search?q=Um+condom%C3%ADnio+esquisito -,
o aluguel é uma facada e está cheio de baratas! Uhu!). Uma dedetização foi
realizada no dia 8/01, e fizemos nossa própria dedetização em casa, com o
fumigante da Jimo (super eficiente, recomendo), portanto, saímos de casa meio
que correndo para não respirarmos aquele fumacê.
Primeiro passo: arrumar as
malas! Levamos em consideração que (por nossa longa experiência no RS) as
estações são sempre extremas. O calor é de desmaiar, o frio de congelar. Como
meu pai diz “calor de desmaiar batista” e “frio de renguear cusco”! Como
estamos no verão, levamos apenas roupas de verão: shorts, blusinhas, chinelos
de dedo... E nenhum casaco. Grave isso, será útil lá na frente.
Saímos de casa dia 6/01 e
voltamos dia 11/01, ou seja, ontem á noite. Bem, saímos bem cedinho: a primeira
parada seria em Anitápolis, para conhecermos o lugar melhor. Chegando lá
(depois de, no máximo, três horinhas de carro), fomos descobrir melhor os 70
hectares da fazenda onde nos hospedamos (Pousada Recanto das Cachoeiras, tudo
muito simples e aconchegante, porém, com cafés e demais refeições pobres e
pouco variadas). Ficamos por dois dias fazenda carinho em coelhos, comendo mel
do favo, percorrendo duas das 10 cachoeiras da propriedade e passando muito,
MUITO frio. E o casaquinho que é bom? Nada... Mas deu para sobreviver.
Saímos de Anitápolis,
passando por Braço do Norte, São Ludgero, Orleans, Bom Jardim da Serra, São
José dos Ausentes e, aleluia, chegamos a Cambará do Sul. Ah, mas não foi assim,
simplesmente! Escolhemos esse trajeto para passarmos pela Serra do Rio do
Rastro, uma das estradas mais perigosamente belas de SC. Bem, quanto ao
“belo”... Ficou só na imaginação. Adivinha o que vimos? Uma bela de uma
viração! Beeeeem branquinha, tapando totalmente a visão bela que teríamos em
outra ocasião. Nessa altura, já estava muito frio (claro, a chuva e o vento
contribuíram muito...), e o casaquinho? Nada.
Uma parada para comer num
restaurante amigável, com moedas estrangeiras em quadros distribuídos pela
parede (meu lado apaixonado pela numismática pirou!). Depois, MUITA estrada de
chão... Alguns comentários na internet dizem: “ah, estrada muito ruim, vão
apenas de 4x4”. Cara, besteira. Nós estávamos com um Gol bolinha de 2004, mais
velho que eu, e passamos por toda a estrada sem nenhum problema (enquanto uns
Audis, Harley-Davidsons e Fords estavam fumegando no acostamento da estrada).
Eu dormi por uma boa parte
do trajeto, acordei com a voz de duas pessoas: ambos fornecendo informações
para meus pais. Logo, paramos num posto de gasolina (gasolina caríssima, sou do
tempo em que a gasolina custava dois e pouco) e seguimos até São José dos
Ausentes. Um resumo da cidade? Pense em uma rua. Pense em meia dúzia de casas.
Pense que as 6 casas nessa rua estão caindo aos pedaços. Pense que, nessas 6
casas nessa rua que estão caindo aos pedaços não tem nenhuma alma viva (quem
dirá morta!). Pense que realmente existem as 6 casas nessa rua que estão caindo
aos pedaços sem uma alma viva, só que a cerração é tão fechada que não
conseguimos ver absolutamente nada!
Caráter educativo da
viagem: agora tenho em mente o que realmente é um latifúndio! Queridxs
estudantes leitorxs do meu blog: um latifúndio é uma porção de terra gigante,
que tu anda, anda e anda e não acaba mais; nessa terra gigante, pode crer que
não vais encontrar ninguém além dos peões de fazenda; e nessa terra grandíssima
só encontrará gado, uma vegetação muito rasteira e taipa. Taca-le taipa nesse
latifúndio velho! Taca-le taipa! (Taipa, para quem não sabe, é um muro feito de
pedras empilhadas por, provavelmente, escravos que receberam esse castigo
monótono).
Achei curioso também o nome
das fazendas: Fulando de Tal, Beltrano de Tar, Cicrano de Tac... Só nomes
imponentes e masculinos. Será que não tem mulher nessas fazendas não? É como eu
estava lendo no livro “Os Homens Explicam Tudo Para Mim”, de Rebecca Solnit em
um dos trechos: “Pelo casamento, o marido
e a esposa constituem uma só pessoa perante a lei: isto é, o próprio ser ou a
existência legal da mulher fica suspenso durante o casamento, ou, pelo menos, é
incorporada e consolidada no do marido; sob cuja asa, proteção e cobertura, ela
executa tudo [...]”. Creio que, em casas em que os números 16, 15 e 14
estejam grudados em cada vidro (números eleitorais, ainda da época de campanha
de certos porcos) seja assim. Aliás, brinquei com minha mãe que retrocedíamos
no tempo a cada vez que a numeração baixava: século XVI, século XV, século XIV.
Chegamos ao chalé da
Pousada Brisa dos Canyons, comemos e descansamos. Tive que dormir num beliche
(na parte de baixo), e meu conselho é que, se tiveres opção, durma na parte de
cima. No dia seguinte, fomos ao cânyon Fortaleza, mas não chegamos a fazer as
trilhas para ver os paredões. A chuva e a neblina eram tantas que não se via um
palmo na frente do nariz. Fomos, então, para um canyon mais “fofinho”: o do
Itambezinho, com trilhas demarcadas, gente pra caramba (apesar de ser “baixa
temporada” no verão) e MUITA neblina. É necessário muita persistência para
poder se enxergar uma pontinha de nada de um abismo incrível...
Única reclamação: as
estradas e os acessos para os tais cânyons. O turismo para os cânyons, conforme
visto nessa viagem, acontece o ano inteiro, em todas as estações! Não é
necessário um “reparo” nos cânyons, eles sempre estarão lá! Não é como aqui em
Floripa, que sempre que a maré sobe a prefeitura faz os devidos (ou deixa de
fazer) reparos nas praias, fazer as barreiras de contenção, os banheiros
(pagos, e só tem banheiro em algumas praias do Norte e na Joaquina) etc. Lá
não! Não precisam “aumentar” ou “diminuir” um cânyon, e levando em conta que
eles pedem “doações espontâneas” toda vez que alguém passa pela guarita para
entrar no parque, os acessos deveriam NO MÍNIMO serem asfaltados e muito bem
sinalizados.
Nesse mesmo dia, paramos no
Aparados da Serra Park, atraídos pelos passeios à cavalo que eu estava a muito
tempo a fim de fazer. Lá, conversamos com a simpática Carol (praticamenteverde@gmail.com
para mais contatos, vale realmente a pena conversar com alguém tão simpático
como ela) e fizemos um passeio a cavalo de 1hr. Andei na égua Anna (meu pai
costuma dizer que não gosta muito de cavalos porque possuem aquele “acessório”
extra) e vi a cidade de cima. Não é exatamente uma visão de Florianópolis, mas
as cidades pequenas tem o seu charme...
Voltamos novamente ao
cânyon Fortaleza, dessa vez abaixo de chuva (compramos as capas). Surpresa! O
Fortaleza estava completamente limpo! Sem nenhuma neblina! Vimos o rio
serpenteando lá embaixo, vimos a vegetação crescendo sob a pedra, vimos aquele
perau de mais de 900m de altura! Em determinada parte, meu pai disse: “parece
que ele nos atrai para baixo”... É a gravidade, não? Mas grave mesmo seria se
alguém caísse dali... Enfim, não há palavras para descrever como é estar
perante um cânyon, perante uma força contra qual é inútil lutar. Se falar para
alguém “Ah, eu vi um cânyon de quase 1km de altura, vi vegetação na pedra e
tinha tanta neblina que tapava completamente esse cânyon de 1km”. Me diz, QUEM
vai acreditar nisso? Isso é uma daquelas coisas que só vendo para crer mesmo...
Nossa estadia nesse lugar maravilhoso chega ao fim... Voltamos pela estrada asfaltada (ufa), demos uma passadinha em Torres, lavamos o carro e visitamos uma velha amiga. Logo partimos para casa, dando uma parada em Garopaba: compramos os Long Johns (surf garantido no inverno!!!! Uhu!!!!!!) e fomos, aleluia, para casa. Chegando no apê, olha que surpresa bacana nos esperava na porta da entrada! Baratas! (Pelo menos estavam mortas). No dia seguinte limpamos tudo e aos poucos retomamos nossa rotina, ainda pensando em cada cachoeira, cada pousada e cada pessoa que conhecemos no nosso trajeto. Afinal, eu concordo que, para onde quer que vamos, levamos um pouco dos outros e deixamos um pouco de nós.