O homem que não tinha
gravata
A vida em Florianópolis é
cercado de atrativos (natureza exuberante, praias, shoppings…) e
contrastes. A suposta “Terra da Magia” é na realidade a “Terra
da Fantasia”, como afirma nosso amigo Adaílson, morador do
Saquinho. Fantasiam coisas, escondem a sujeira por debaixo do tapete,
mostram atrativos bons e sequer tocam nos ruins. O fato é que
lugares como o Mercado Público (Centro de Florianópolis) mostram
bem o cotidiano de pessoas sem terno e gravata.
Os contrastes são muitos,
as histórias são inúmeras e as pessoas imperceptíveis. Eu só
vejo aquilo que me agrada, uma vez que vivemos em uma cidade
“desenvolvida” no que se refere às construções, estruturas,
Avenida Beira Mar, hotéis e assim por diante.
Aliás, a Avenida Beira Mar
é uma situação à parte de todo resto da cidade. Essa avenida é
a mais bem atendida pelo poder público. Sempre limpinha, a grama
está sempre sendo cortada, as calçadas e pracinhas em bom estado de
conservação e por aí vai muito bem, já que a prefeitura não mede
esforços para mantê-la. Infelizmente, o mesmo não ocorre em outros
bairros.
Para quem deseja conhecer a
Florianópolis sem maquiagens como na Beira Mar, sugiro que vá até
o Mercado Público e tire o tempo para observar o movimento diário
das pessoas indo e vindo, a busca pela sobrevivência através das
vendas ambulantes, os vendedores de tudo (agulha para limpar fogão,
controle remoto de televisão usado, veneno para insetos, chip chip
chip para celular, bateria usada para celular, raquete para matar
insetos, CD e DVD pirata), emfim, inúmeras coisas. Sem contar a
enorme quantidade de pedintes e moradores de rua., que perambulam no
fluxo de pessoas, que se desviam e algumas até ficam preocupadas
pois ali pode estar um LADRÃO.
Pois é. Nas entradas dos
bancos sempre encontro moradores de rua dormindo no chão, enrolados
em trapos ou em papelões. Uma senhora ao ver tal situação, me
falou:
_Nossa, que perigo isso daí!
Eu perguntei:
-Perigo de quê?
Ela respondeu:
-Perigo, pois ali pode estar
um ladrão, e ao sair do banco com dinheiro, podemos ser assaltados.
Minha reação foi imediata
e sem pensar falei:
-Se fosse uma pessoa de
terno e gravata que estivesse ali, a senhora não iria se horrorizar
e ainda iria cumprimentá-lo com um sorriso no rosto chamando-o de
doutor, não é?
Complementei dizendo que as
pessoas que são endinheiradas é que deveriam tentar de todas as
maneiras mudar essa realidade, que nem todos os moradores de rua são
ladrões, aliás eles é que foram roubados de tudo.
A senhora concordou comigo e
mudou sua fala dizendo que muitos engravatados roubam e não estão
presos e blá-blá-blá…Talvez ela mesma tenha medo de perder
aquilo que sabe-se lá como adquiriu, talvez não de forma tão
honesta como sua pose queria conservar, durante anos. Aos olhos da
nossa sociedade, pessoas bem de vida são as melhores vestidas.
Percebo que ao longo de
minhas observações, essas pessoas permanecem estagnadas e ali fazem
daquela situação uma rotina para suas vidas, e assim, banaliza-se
tais situações. Um caminho sem rumo, sem perspectivas, nem sonhos.
Indignação
Skank
Eu fiquei indignado
Ele ficou indignado
A massa indignada
Duro de tão indignado
A nossa indignação
É uma mosca sem asas
Não ultrapassa as janelas
De nossas casas
Indignação indigna
Indigna nação
Indignação indigna
Indigna inação
Lazzo Matumbe, Araketu, Iiê
Ayê - a Bahia indignada.
Carlos Cachaça,
Morenguera,Ivo Meirelles - o samba indignado.
Vila Dias, Papagaio,
Cafezal, Pendura Saia, Pau Comeu, Pai Tomás,
Santa Marta-o morro
indignado.
Ramiro, Lúcio Flávio e
Escadinha, o crime indignado.
Cafuringa,Natal e Jairzinho
lá na ponta indignados.
Satã e Seus Asseclas,
Imigrantes da Abissínia, Boca Branca,
Os Inocentes e os Leões da
Lagoinha indignados.
Jaguarão, Oiapoque e
Guaicurus - a zona indignada.
Ginga, Mão Branca,
Negrinhos de sinhá- a capoeira indignada,
Gaviões, Galoucura, Máfia
Azul, Young Flu, Mancha Verde,Flamante, Independente - a massa
indignada.
_Este texto foi escrito em conjunto por mim, pelo meu pai e pela minha mãe. Porém, a escrita foi como se meu pai estivesse contando a vocês, pois foi ele que vivenciou esta experiência. Beijos da Bia!
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