Diferentes
maneiras de se amar
Tudo
começa com uma praia, onde a água era quentinha e as ondas, magníficas. Estou
falando da praia da Barra da Lagoa, em Florianópolis. Saímos de casa numa manhã
de domingo, com o tempo a nosso favor. Tudo estava perfeito, fora o caso de eu
estar com queimaduras vermelhinhas de Sol por todo o corpo, principalmente nas
costas, pernas e rosto. Mas quando o assunto é praia, eu jogo tudo para o alto
e não me preocupo com mais nada. Minha mãe, armada de tênis nos pés estava
pronta para caminhar. Eu e meu pai, munidos com uma prancha de Body Board, prontos
para surfar até o último milésimo de segundo.
Despedimo-nos,
e minha mãe se foi. Meu pai e eu, depois de nos alongarmos, testamos a água.
Como era quente! Não excitei. Fui correndo para dentro, com prancha em mãos. Fomos
até o fundo. Não sei quantas ondas havíamos passado, nem de quantas levamos a
maior surra. Só sei que a calmaria chegou. Resolvi testar uma onda. Não era tão
forte assim, mas o legal era que, depois que a onda quebrava, outra vinha por
cima e dava força. Agora, que abria uns tubinhos, abria! Cada onda
perigosamente bela... Elas explodiam com toda a força em cima de mim e de meu
pai, mas logo notei que era melhor mergulhar abaixo e deixar a prancha presa
com a cordinha, que, aliás, meu pai havia arrumado no dia anterior. Passamos
uma, duas, três. Vimos à oportunidade, e meu pai me empurrou. Não peguei o
tempo da onda. E assim passou uma, duas horas. Adivinhe quantas ondas
mediamente “boas” que eu peguei? Duas. Apenas duas. Vi meu professor de
Educação Física, o professor André. Ia pegar onda, também. Dei um “olá” no meio
de engasgos, porque eu havia engolido muita água salgada. Ele disso “oi” e foi
para o fundo. Voltei com meu pai. A borracha da cordinha da prancha havia
arrebentado. Meu pai consertou. Teve de fazer isso uma, duas, três, quatro
vezes, até minha mãe chegar. Tomei, além de mais água, coragem. E fui para o
fundo. Depois que eu e meu pai nos esborrachamos, fomos para a areia como uns
cachorrinhos assustados: com o rabo entre as patas.
Depois que
chegamos a casa e almocei, eu deitei. Mas não para dormir, como os meus pais.
Deitei para ler, acabar o Último Olimpiano, de Percy Jackson, do Rick Riordan.
Comi uns amendoins, e comecei a sentir-me mal. Dor de cabeça, dor na região da
barriga. Contorcia-me de dor. Meus pais acordaram e notaram que eu não estava
tão energética como de costume. Acharam que era cansaço, e colocaram-me para
dormir com o ar-condicionado ligado. Eu não conseguia dormir. Tinha frio nos
pés e mãos e calor no corpo. Estava com febre de quase trinta e oito graus.
Fizeram-me compressas de pano frio, e minha mãe ficou comigo até meus olhos se
fecharem. Depois que eu passei a noite com febre de aproximadamente quarenta
graus, tomamos uma decisão. No dia seguinte, eu e meu pai fomos num posto de
saúde, mas esperamos para sermos tratados pior que lixo orgânico. Fomos para UPA,
que é uma Unidade de Pronto Atendimento. Lá, consultamos com uma pediatra que
receitou remédios e disse que eu estava com virose. A praia em que fomos era
poluída, e interligamos os pontos. Tomei os remédios como indicado e hidratei-me,
com água e água-de-coco direto da fonte. Delícia! Logo, eu estava melhor,
apesar das dores de cabeça ser frequente e de, às vezes, as letras dançarem
samba pra fora do papel. Achei que, por esse mês, chegava, depois de tanto
sofrimento. Mas é claro que eu estava errada.
Na quinta-feira
feira, último dia do mês, fiz besteira. Por que eu resolvi mexer com aquilo? Por
quê? Meu pai foi para sua escola, resolver uns assuntos, e minha mãe estava por
perto. Resolvi, depois de fazer o pão e finalizar os deveres, fazer um
agradinho. Seria produzida uma cartinha superfofa em formato de coração.
Primeiro passo: cortar o coração. Então lembrei que, nos gibis, os personagens
sempre cortavam com uma faca seus papéis. Resolvi testar. Peguei um papel
ofício, e levei para a cozinha, na mesa de mármore. Qual faca eu utilizaria? A mini
faca? Não. Para cortar bem, tinha de ser uma faca grande. E afiada. Peguei uma
faca de trinta centímetros, que o papi (uma maneira de dizer “pai”) usava para
cortar repolho. Posicionei e comecei a cortar. A faca escapou de minha mão
direta e acertou meu dedo médio, ou o do meio. Não queria ver. Esmaguei o dedo
e corri para o banheiro. Enquanto eu corria, notei que minha mão que tapava o
corte estava encharcada. Mas eu não tinha mexido em água. Estava empapado com
meu próprio sangue, gotículas escorrendo e caindo nas portas, rodapés, paredes
e chão. Quando cheguei ao banheiro, abri a torneira e deixei escorrer. Respirei
fundo e vi o machucado. Eu havia cortado, praticamente, uma tampa que pegava
pele e unha. Sangue escorria e meu dedo latejava. Peguei um maço de papéis
higiênicos e cobri, um pouco para não ver e outro pouco para estancar o
sangramento. O pedaço ficou encharcado de vermelho com a mesma rapidez com que
encharcou minha mão.
Depois que
enxugou um pouquinho (minha nossa, quanto sangue minha mão tem!), resolvi tapar
com papel toalha. Peguei o resto que tinha, e comecei a limpar a bagunça. O
pano da pia ajudou-me a enxugar o sangue das portas, paredes e rodapés, mas o chão
não ficou muito bem limpo. Abandonei o pano e parti para o banheiro. Por um
breve momento, ri sozinha. Parecia que o banheiro era uma cena dos filmes de
terror, em que um mata o outro e o sangue fica nas paredes. Igual ao um
homicídio. Foi hilário. Mas peguei mais papel higiênico e limpei o melhor que
pude. Depois que fiz isso, de raiva, joguei o coração fora, pois o meu estava
dolorido e raivoso. Guardei a faca, tomando cuidado para não me cortar de novo.
O sangue não parava de escorrer. Eu estava entrando em pânico. Resolvi alertar
a mómi (outro jeito de falar “mãe”, na nossa família). Mas como, se eu nem
fiquei com nenhum celular? O notebook era minha última esperança, ates que eu
abrisse a porta e chamasse a ambulância. Liguei-o, pois estava desligado por
causa de raios que estavam caindo. Esperei impacientemente nervosa. Ligou! Abri
meu e-mail e fui ao bate papo. Nossa conversa rendeu uma explicação: “enrola o
dedo no papel higiênico e faz pressão que estanca o sangramento”. Detalhe: eu
já estava fazendo isso. Mamãe disse para esperar que logo ela estivesse em
casa, junto com o pai. Pelo menos um adulto estava sabendo. Eu estava aliviada,
porém, tensa. Pesquisei sobre hemorragias (foi besta da minha parte, mas eu
estava louca de desesperada eu não sabia o que pensar, e, além disso, eu estava
sangrando muito, OK?), sobre como estancar pequenos sangramentos (o que não me
adiantou muito, pois era para feridas com agulha) e sobre alguém que cortou o
dedo fora. Desisti e hibernei o notebook. Logo o pai chegou, seguido de minha
mãe. Compraram gaze, esparadrapo e um spray antisséptico anestésico para o
dedo. Limpei-o com sabonete, coloquei soro fisiológico, minha mãe fez um
curativo bonitinho para mim. E assim estou até agora, sem poder nem teclar
direito. A unha cortada está apodrecendo, mas ainda tenho esperança que a carne
ainda vai grudar.
Meu pai
ajudou com a virose e com o dedo, me enchendo de amor. Minha mãe também, com
aquele jeitinho especial. Vai dizer que, deste jeito, não tem como se sentir
cheio de carinho e amor, rodeado pelas pessoas que você mais ama?
Que texto gostoso de ler ... parabéns!
ResponderExcluirMuito lindo Bia!Beijos da amiga Raisa
ResponderExcluirMuito lindo Bia!Beijos da amiga...
ResponderExcluirRaisa
Oi, Rá! Muito obrigada!
ResponderExcluirBeijos da amiga do coração, Bianca.