América
Armada
Oi
gente! Voltei para retomar o bloguinho, que (convenhamos) estava atirado às
traças... Volto após muitos acontecimentos: eleição do BOÇALnaro, saída dos
médicos e heróis cubanos do Brasil, escândalo do Carrefour após morte
arbitrária de uma cachorrinha (essa situação assemelha-se muito a que, penso
eu, viveremos sob a ditadura do Boçal. A diferença é que não matarão cadelas,
matarão nossos companheiros humanos). Enfim, após muitos acontecimentos (que eu
pretendo retomar), volto eu para contar-lhes sobre um filme que assisti nesses
últimos finais de semana: América Armada.
O
documentário, exibido no CIC (Centro Integrado de Cultura) e parte das
exibições do Planeta Doc, conta a (triste e violenta) realidade de três pessoas
em três países da América: Brasil, México e Colômbia. O que elas têm em comum?
Dor, sofrimento, saudade, resistência e, principalmente, intervenção (maléfica)
de milícias e do crime organizado em suas vidas.
A
perspectiva brasileira ocorre em uma zona periférica do Rio de Janeiro; um
jornalista autônomo registra policias sem farda invadindo barracos sem nenhuma
explicação, dizendo tolamente que “estavam cumprindo ordens”. O jornalista,
fazendo seu trabalho de enfrentamento e de resistência, recebia ameaças de
morte do tipo “vou escrever o seu nome em uma bala perdida” e todo tipo de
intimidação possível. Segundo uma fala do corajoso, os policiais invadiam a
favela com o argumento de estarem batalhando contra as drogas, mas esse
argumento é falho; quer dizer que as drogas estão somente na favela? Não estão
inseridas nos círculos mais endinheirados da população? Por que não é feito uma
“batalha contra as drogas” de maneira truculenta com e entre os ricos? Isso
prova que a batalha dos PMs envolvidos na intervenção militar no Rio não é
contra os narcóticos. É contra a população mais pobre, mais vulnerável e mais
desamparada.
A
parte do documentário que se passa no México é (também) com um jornalista que
visita um povoado no qual a disputa territorial é acirrada (não fica claro no
filme quais são os envolvidos nessa disputa... serão os grandes latifundiários?
Os plantadores de Coca? Os EUA?) e, cansados de verem companheiros/as e
parentes morrerem pelas mãos de milícias (mais de um quinto da população foi
dizimada nesse processo), os/as habitantes do povoado resolvem eles/as mesmos/as
fazerem justiça. Pegaram em armas com peso na consciência, peso daquela que não
sabe o que ocorreu com o marido, daquela que não pode dizer ao filho como o pai
tinha morrido antes do mesmo ter um destino parecido. O jornalista que narra
essa realidade diz que a morte de companheiros que exercem a mesma função que
ele é enorme (por causa do local ser alvo do tráfico internacional de drogas,
assim como na Colômbia) e que se sua vida for o preço para expor a realidade, é
um preço que ele está disposto a (mas não precisaria) pagar.
Já
na Colômbia, eu me emocionei muito... Conta sobre a luta de uma mulher, já
idosa, na procura de seu filho que “desapareceu” nas mãos do tráfico, em
chacinas encomendadas pela própria chanceler
do estado. Em seu relato, a senhora disse que, quando ia denunciar o
desaparecimento, não era possível dizer o nome do agressor, pois o relator já
ligava para o indivíduo e dizia “Ó, fulana tá aqui te denunciando porque cê
matou o filho dela, viu”. Essa mulher lidera muitas outras que perderam alguém
querido para o tráfico: marido, filh@, familiares, amigos. O que mais me
emocionou foi uma cantiga que essas mulheres, em protesto, cantaram em frente a
uma igreja. A música falava que, apesar do tempo ter passado e da ferida ser
antiga, as mães sempre estarão esperando seus filhos com as portas abertas. E
mesmo que esse dia não chegue, elas mantêm a esperança e o amor que apenas uma
mãe pode sentir pelo seu filho... E vi como isso se aplica à minha família
também... Que minha mãe nunca desistiria de mim, independente de saber se eu
voltaria ou não...
Enfim,
pode-se tirar várias conclusões e várias perguntas desse filme. Exemplificando
as truculentas ações da polícia no Rio, temos a intervenção militar, que ao invés
de diminuir mortes, tiros e drogas (como o prometido) aumentaram as mesmas.
Após 10 meses de intervenção, o que tivemos? Atos violentos com ao menos 3
mortos subiram mais de 86%; o número de armas apreendidas diminuiu 36,5%; mais
de 4 mil tiroteios (de acordo com esse site https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2018/07/16/com-intervencao-ocorrencias-com-mais-de-3-mortes-no-rio-sobem-e-apreensoes-de-armas-caem-diz-estudo.htm) .
Vejam que bons resultados! E os moradores de periferia, apesar desse cenário
crítico, continuam resistindo com música, com poesia, com enfrentamento. Que
faremos perante o que vem aí? Seremos capazes de combater Mirapólvora com
Miraflores?
Quanto
ao México... Bem, não gostei muito dessa parte. Sabe por quê? Porque “legitima”
o uso de armas, já que os moradores, buscando fazer justiça com as próprias
mãos, pegam nas mesmas... E será essa a solução, Boçalnaro? Fazer isso só
aumentou a violência, as mortes (tanto de um lado como de outro). Como vocês,
da direita, gostam MUITO de falar em “copiar modelos” para o Brasil, copie e
cole esse! Liberou armas? Mais violência. Mais morte. Mais caos. O número de
mortes, principalmente de mulheres, negr@s e pobres vai subir, e MUITO...
Legitima-se a causa e nega-se as consequências, como vocês muito têm feito,
fechando os olhos para coisas tão óbvias que chega a ser tosco.
Achei
corajoso e inspirador, também, os jornalistas autônomos que realizaram as
filmagens sem medo. Sem medo da repressão, sem medo do porrete, sem medo da
bala, sem medo da mordaça. Acho que devemos levar isso como lição de vida:
apesar das dificuldades que a vida nos impõe, é preciso enfrentá-la. Dizer não
à mão que tapa nossa boca, nos impedindo de falar e gritar o que sentimos;
dizer não à mão que fecha nossos ouvidos, nos privando dos sons e do exterior;
dizer não à mão que insistentemente tapa nossos olhos com firmeza, para nos
deixar cegos, com medo, resignados e submissos. Dizer não, enfim, a esse
governo de merda que, mesmo ainda não tendo tomado posse, já causou tantas
mortes e tantos estragos. É isso que precisamos para a vida. Resistir até o
último suspiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Espere que seu comentário seja moderado para poder vê-lo postado.
Obrigada por compartilhar sua opinião!