Intolerância Religiosa
Luisinha
estava ansiosa. Era seu primeiro dia de aula, dia de fazer amizades e rever
inimizades. Havia acabado de se mudar de Cavalo Alado para Tartaruga sem
Dentes, uma cidade que avançava no tempo como, literalmente, tartaruga. A
escola não era muito grande, nem muito pequena, mas a biblioteca era de bom
tamanho e o ginásio a satisfazia.
Arrumou-se
com o uniforme branco e azul do colégio, pegou a mochila vermelha pesada com
todos os materiais e foi, juntamente com seus pais, em direção à escola.
Chegando lá, tratou de não ficar muito tempo com seus pais: queria conhecer
tudo sozinha. Chegou à sala de aula, e uma garota baixinha foi recepcioná-la.
_Galera,
essa é a...?
_Luísa.
Ela
respondeu, sem jeito.
_Gente,
essa é a Luísa, a garota nova!
Luisinha,
porém, não queria uma recepção TÃO calorosa assim, e respondeu sem jeito:
_Deixa
pra lá.
Luisinha
arrumou sua mochila numa carteira num canto e saiu para conhecer um pouco a
escola. A sineta bateu, e fizeram fila na entrada. O professor era um homem.
Segundo a agenda, era de Filosofia. Luisinha nunca teve Filosofia na vida.
Depois, Educação Física, com uma professora alta e loira. Jogou queimada, seu
esporte preferido, depois de vôlei. Conheceu uma menina alta a magra, Amora,
com um jeito brejeiro de ser legal. Conheceu também Rocha, a melhor amiga de
sua futura melhor amiga. Depois, descobriu que sua amiga Amora morava no mesmo
residencial que ela, Pé de Pata, que não era muito distante do colégio. Assim,
combinaram de ir de vez em quando juntas para a aula. Deste jeito, assim que a
aula acabou, foi embora com seu pai, esperando a visita de sua nova amiga.
Mesmo
duvidando de Amora, depois da janta, recebeu sua visita. Fizeram o que toda a
criança gosta de fazer: brincar. Como Luisinha tinha ganhado uma casinha de
Polly, brincaram com as bonequinhas. Enquanto conversavam, Luisinha ia pedindo
os nomes de seus novos amigos, para uma futura eventualidade. Brincaram até o sol
se pôr (não que o Sol põe alguma coisa, como o dedo no nariz ou chapéu na
cabeça; é mais uma questão de seguir como manda o figurino).
Alguns
dias, como três, passaram-se. E nossa personagem ia conhecendo mais e mais os
colegas com os quais passaria por duzentos dias letivos. A baixinha que a
recebera era a Zoe, e sua amiga baixa era a Vanessa. Zoe não descansava
enquanto Luisinha não aceitava seu convite para uma queda de braço, porque
sempre fora a mais forte da sala, e queria ver se a novata era mais forte que
ela. À tarde, na aula de vôlei, Luisinha perguntou à sua suposta “inimiga” o
porquê ela a odiava. A resposta obtida não foi bem a que imaginara...
_É
que eu e a Nessie somos as mais populares do quinto ano e achamos que você quer
tomar o nosso lugar de mais populares.
E
elas conversaram até a aula começar. Foi nascendo de um solo infértil uma
amizade duradoura (?). E assim seguiram-se por cento e noventa e seis dias
letivos. As duas mais populares, as duas melhores amigas, esperavam que para
sempre. As férias começaram: as duas que passaram de ano, continuando o
chiclete que desde que se entendia por gente eram.
Luisinha
não acreditava em Deus. Já Zoe acreditava. Era de uma dada Igreja, e se não
fosse por esse pequeno detalhe, nada teria acontecido. Zoe criticava Luisinha
por não acreditar. Dizia que sempre existiu um Deus. Que ele a amava. Mas
Luisinha não se importava: ninguém a mudaria. Quem amava do coração teria que
amar alguém do jeito que este alguém era. Sem tentar mudar. Amando e vendo pelo
coração. Apreciando a amizade acima de tudo. E um dia, isso acabou.
Luisinha
estava curtindo: logo iria visitar a mãe no trabalho. Ou melhor, visitaria seu
jogo favorito em companhia da mãe. Estava no notebook, conversando com sua mãe,
quando recebeu um e-mail, do endereço de zoechutapanella@UI.com
escreveu. Ela abriu o e-mail, feliz da vida, por sua amiga manter contato.
Ainda tinha uma amiga, a Camila, uma amiga de Rio Azul, que sempre lhe
escrevia, por mais que a distância impedisse. Mas o e-mail não tinha nada
disso. E é daí que vem, meu (minha) amigo (a) leitor (a), que vem o nosso
título: Intolerância religiosa, que acabaria com o mundo emocional de nossa
querida personagem Luisinha.
O
e-mail dizia exatamente isto:
“Por
que eu sei que... Se você não acreditar no eu estou falando, o seu lugar,
quando você morrer não vai virar pó e apodrecer, e se você ler na bíblia----Apocalipse,
você vai ver que tudo o a que está acontecendo está escrito, já está mudando,
dá pra escolher até se quer ser menino ou menina, isso está escrito, e Luisinha,
sua família ainda pode ser salva, apenas acredite em mim, e se você não
acreditar o seu lugar E O DA SUA FAMÍLIA NÃO SER OUTRO ALÉM DO INFERNO, UM LAGO
DE FOGO COM LAVA, ENXOFRE ARDENTE! Eu já menti alguma vez pra você? NÃO, NÃO E
NÃO! POR ISSO ACREDITE EM MIM, VOCÊ E SUA FAMÍLIA ESTÃO EM RISCO!”
Luisinha
mostrou para seu pai e o mesmo deu risada. Zoe estava querendo implantar o
certo e o errado na família de Luisinha. Queria impor, mostrar que o que ela
acredita está certo, que Deus é o Salvador... Mas todos querem respeito.
Independentemente do que cada um acredita, o respeito é além de tudo. As
diferenças podem mudar tudo. E até estragar uma longa amizade.
Caro
leitor. Como semana passada foi o dia de combate à Intolerância Religiosa
(21/01), dedico este texto ao mesmo, e à amizade de nossa personagem Luisinha
que estava bem. Até ser estragada pela intolerância, pelo extremismo e pelo fundamentalismo
religioso.
Achei o texto muito bom :)
ResponderExcluirTenho uma pequeninha sugestão: Você não acha que ficaria melhor "...ponha..." do que "..põe..", na 37ª linha? :))
Obrigada pelo apontamento. Farei modificações no texto, caso for necessário.
ResponderExcluirObrigada mais uma vez!
Bia!